Não é apenas uma casa. É um espaço de memória. De pertencimento. De encontros. Vicente, José e Carla voltam ao local para arrumar a antiga edificação de seu pai e vendê-la. Mas acabam se deparando com as lembranças. Como se Antonio Amparo ainda estivesse ali.
Assim é “A casa” (“La casa”, no título original), quadrinho produzido pelo artista espanhol Paco Roca. Claro, resumidamente. A leitura desse material lançado no Brasil em 2021 pela Devir permite a leitores e leitoras mergulhar em sua narrativa ao mesmo tempo simples e carregada de sentidos e significados.
O livro está disponível em boas condições para leitura na Biblioteca Bento Munhoz da Rocha Neto, mais conhecida como Biblioteca Centro, em Maringá. Esta é a série do jornal “Tá na Biblioteca!”, cujo objetivo é recomendar o empréstimo gratuito de material do acervo da rede de bibliotecas municipais, a partir de um trabalho de curadoria.
Com tradução de Janayna Bianchi, o volume brasileiro de “A casa” tem capa dura, 136 páginas e formato 18.6 x 25 x 1.6 cm (na horizontal). Aliás, sua disposição de páginas quase em “widescreen” permite ao narrador encadear o ritmo com quadrinhos na sequência vertical dividindo espaço com imagens na leitura ocidental, na mesma página. Além de belos quadros na sequência horizontal. Com esse efeito, o diálogo entre as personagens ocorre simultaneamente à passagem do tempo na casa, em momentos de deterioração do espaço. Presente e passado se ligam, se separam e se misturam.
Faz um ano que a casa está fechada, desde a morte do pai do trio de irmãos. Dois deles estão casados e com filhos, e o do meio é escritor com sua companheira. Nesse processo, o local foi ficando sujo e abandonado. No presente da narrativa, os filhos de Antonio voltam para ajeitar as coisas e passar o imóvel para frente. No entanto, as memórias irrompem a medida que cada um dos filhos adultos vai remexendo nos objetos e no imóvel.
De um quadrinho para outro, o passado assume protagonismo em “A casa”, que ganha uma ambientação de melancolia e nostalgia sobre a infância e a convivência familiar, até o momento em que a distância passa a dominar a vida de todos. Sempre tendo essa edificação como palco principal. Mas nem tudo são flores, porque as personagens têm pontas soltas para resolver.

A casa é um trabalho extremamente pessoal de Paco Roca (dedicado a seu falecido pai) ao mesmo tempo que aborda temas universais. Para contar essa história, o autor se vale de um traço simples e refinado, e uma paleta de cores que cria todo o espaço/tempo.
“A casa” recebeu o Prêmio Zona Cómic de Melhor Quadrinho Espanhol de 2015. Também foi indicado ao Prêmio de Melhor Obra de Autor Espanhol no Salão Internacional de Quadrinhos de Barcelona de 2016. E escolhido como o Quadrinho de Maior Destaque do ano de 2016 pelo jornal Le Parisien.

Autor
Paco Roca (Valência, Espanha, 1969) é um cartunista espanhol que começou sua carreira trabalhando com ilustração publicitária em sua cidade natal. Pouco tempo depois, passou a conciliar seu trabalho com a produção de histórias em quadrinhos. Publicou, entre outras graphic novels, “El faro” e “Rugas” ― pela qual recebeu o Prêmio Nacional del Cómic em 2008 e os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Obra no Salão Internacional de Quadrinhos de Barcelona de 2008. Ele também atuou como roteirista e designer de personagens da adaptação de “Rugas” (longa-metragem animado).
