Desde 2019, o Pantanal enfrenta uma das secas mais severas de sua história, resultando em impactos devastadores para a biodiversidade e a dinâmica ambiental da região. Segundo André Siqueira, diretor da ONG Ecoa, o regime pluviométrico reduzido tem afetado diretamente o ciclo de cheias, elemento vital para a regulação de desmatamentos, controle de incêndios e ocupação do solo no bioma.
“Estamos em uma decrescente em relação à problemática da seca, de uma estiagem muito intensa”, afirma Siqueira, ressaltando que as condições climáticas e ações humanas têm intensificado os incêndios no Pantanal, com 98% a 99% das queimadas causadas por atividade humana.
O Desafio das Queimadas: Dados Alarmantes
Em 2024, mesmo com recordes de investimentos governamentais no combate ao fogo, 2,1 milhões de hectares do Pantanal foram queimados. Ações como a contratação de brigadistas e o uso de infraestrutura avançada mostraram avanços, mas ainda enfrentaram desafios:
- Acesso difícil a áreas remotas.
- Mudanças repentinas no vento, dificultando o controle das chamas.
As queimadas de 2020 foram ainda mais catastróficas, atingindo quase 27% do bioma, de acordo com Yanna Fernanda, secretária-executiva do Instituto Homem Pantaneiro (IHP). Perdas significativas de fauna e flora, como as 25 mil mudas plantadas na serra do Amolar, destacam a urgência de medidas mais eficazes.
Regime Hídrico e a Crise Climática
A seca prolongada e os incêndios estão intimamente ligados ao regime irregular de chuvas. Em 2024, o nível do rio Paraguai chegou a impressionantes -69 centímetros, segundo dados da régua de Ladário. Essa redução drástica dificultou não apenas a navegação, mas também o combate aos incêndios, com brigadistas precisando puxar barcos em trechos sem água suficiente.
Embora dezembro de 2024 tenha trazido um aumento do volume de água na calha do rio Paraguai em relação a 2023, Siqueira alerta que o impacto positivo pode ser apenas temporário sem uma continuidade nas chuvas nas cabeceiras dos rios.
“Sem essas chuvas, os benefícios serão limitados, ajudando comunidades locais e setores como o pecuário apenas de forma momentânea”, afirma o pesquisador.
Tecnologias e Iniciativas Sustentáveis
A preservação do Pantanal requer medidas estruturais e o uso de tecnologias avançadas. O IHP tem investido em projetos como:
- Monitoramento por inteligência artificial para prever e combater incêndios com mais eficiência.
- Créditos de carbono e biodiversidade, gerando renda e incentivando ações de conservação e restauração.
Essas iniciativas mostram que a integração de tecnologia, ciência e ações comunitárias pode contribuir para soluções mais duradouras e sustentáveis.
Uma Solução Estrutural: Aprimoramento de Modelos e Cooperação
Siqueira defende a criação de um Centro de Operações Climáticas (COC) para integrar esforços regionais e aprimorar modelos preditivos que ajudem a mitigar os impactos da seca e das queimadas. A colaboração entre países vizinhos, como Bolívia e Argentina, que também enfrentam crises hídricas severas, seria crucial para um planejamento eficaz.
“É essencial investir em tecnologias e modelos preditivos para proteger o Pantanal, um bioma que é um patrimônio mundial e um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta.”
A seca no Pantanal não é apenas um problema ambiental, mas uma crise que afeta diretamente a economia, as comunidades locais e o equilíbrio ecológico da região. Soluções integradas, baseadas em ciência, tecnologia e cooperação, serão essenciais para preservar este tesouro natural para as futuras gerações.
*Baseado em Matéria Especial da Parceira Sputnik Brasil