Entidades e movimentos ligados ao direito à educação assinaram a carta aberta “Pela revogação da Reforma do Ensino Médio (Lei 13.415/2017)”.
O documento foi publicado no dia 8 de junho e apresenta 10 razões que evidenciam o caráter antidemocrático desta Reforma, que é um projeto de educação avesso à equidade e ao combate das desigualdades sociais e educacionais.
Segue teor da Carta:
- Fragiliza o conceito de Ensino Médio como parte da educação básica,assegurado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), namedida em que esta etapa deixa de ser uma formação geral para todos. A incorporação do Ensino Médio na educação básica foi uma conquistarecente do processo de democratização, e ainda não consolidada. Diantede um ensino secundário historicamente elitista, estratificado epropedêutico, a integração do Ensino Médio à educação básica foi umamedida importante para democratizar esta etapa, juntamente com agarantia de oferta de ensino noturno adequado às condições dosestudantes trabalhadores e da modalidade de Educação de Jovens eAdultos (EJA) – ambos negligenciados pela Lei 13.415/2017;
- Amplia a adoção do modelo de Ensino Médio em Tempo Integral semassegurar investimentos suficientes para garantir condições de acesso epermanência dos estudantes, excluindo das escolas de jornada ampliadaestudantes trabalhadores e aqueles de nível socioeconômico mais baixo,bem como estimulando o fechamento de classes do período noturno e daEJA;
- Induz jovens de escolas públicas a cursarem itinerários de qualificaçãoprofissional de baixa complexidade e ofertados de maneira precária emescolas sem infraestrutura. Evidência disso é o Projeto de Lei 6.494/2019que tramita na Câmara dos Deputados e visa alterar a LDB, propondo oaproveitamento “das horas de trabalho em aprendizagem para efeitos deintegralização da carga horária do Ensino Médio até o limite de 200 horaspor ano”. Mais uma vez, o que se propõe é a interdição do acessoqualificado ao conhecimento científico, à arte, ao pensamento crítico ereflexivo para a imensa maioria dos jovens que estudam nas escolaspúblicas, e que respondem por mais de 80% das matrículas do EnsinoMédio no país;
- Coloca em risco o modelo de Ensino Médio público mais bem-sucedido e democrático do país: o Ensino Médio Integrado praticado pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Trata-se de um modelo que adota cotas sociais e raciais de ingresso desde 2012 e que apresenta resultados excelentes em avaliações de larga escala como o PISA. Seu centro organizador é a integração entre uma Formação Geral Básica fundada nos princípios do trabalho, ciência, cultura e tecnologia e a Educação Profissional de Nível Técnico. A Lei 13.415/2017 rebaixa a educação profissional à condição de “itinerário formativo”, dissociando a formação geral básica da educação profissional;
- Aumenta consideravelmente o número de componentes curriculares eacentua a fragmentação. Uma das justificativas para a Reforma do EnsinoMédio era justamente a necessidade de diminuir o número de disciplinasescolares obrigatórias. Contudo, a implementação da Reforma nosestados vem realizando exatamente o contrário. Embora existamvariações entre as redes estaduais, no estado de São Paulo – a título deexemplo – o 2o ano do Ensino Médio em 2022 possui 20 componentescurriculares;
- Desregulamenta a profissão docente, o que se apresenta de duas formas:1) construção de itinerários formativos que objetivam a aquisição decompetências instrumentais, desmontando a construção dosconhecimentos e métodos científicos que caracterizam as disciplinasescolares em que foram formados os docentes, desenraizando a formaçãoda atuação profissional; e 2) oferta das disciplinas da educaçãoprofissional por pessoas sem formação docente e contratadasprecariamente para lidar com jovens em ambiente escolar. Tudo isso ferea construção de uma formação ampla e articulada aos diversos aspectosque envolvem a docência – ensino, aprendizagem, planejamentopedagógico, gestão democrática e diálogo com a comunidade;
- Amplia e acentua o processo de desescolarização no país, terceirizandopartes da formação escolar para agentes exógenos ao sistemaeducacional (empresas, institutos empresariais, organizações sociais,associações e indivíduos sem qualificação profissional para atividadesletivas). Uma das dimensões desse problema é a possibilidade de ofertartanto a formação geral quanto a formação profissionalizante do EnsinoMédio a distância, o que transfere a responsabilidade do Estado degarantir a oferta de educação pública para agentes do mercado, comefeitos potencialmente catastróficos para a oferta educacional num paíscom desigualdades sociais já tão acentuadas;
- Compromete a qualidade do ensino público por meio da oferta massiva deEducação a Distância (EaD). A experiência com o ensino remotoemergencial durante a pandemia da Covid-19 demonstrou a imensaexclusão digital da maioria da população brasileira, que impediu milhõesde estudantes das escolas públicas de acessarem plataformas digitais eambientes virtuais de aprendizagem. As mesmas ferramentas utilizadasdurante a pandemia estão agora sendo empregadas pelos estados naoferta regular do Ensino Médio, precarizando ainda mais as condições deescolarização dos estudantes mais pobres;
- Segmenta e aprofunda as desigualdades educacionais – e, por extensão,as desigualdades sociais –, ao instituir uma diversificação curricular pormeio de itinerários formativos que privam estudantes do acesso aconhecimentos básicos necessários à sua formação, conforme atestampesquisas comparadas que analisaram sistemas de ensino de váriospaíses 2;
- Delega aos sistemas de ensino as formas e até a opção pelocumprimento dos objetivos, tornando ainda mais distante a consolidaçãode um Sistema Nacional de Educação, como preconiza o Plano Nacionalde Educação 2014-2024 (Lei 13.005/2014).
- Associação Brasileira de Alfabetização (ABAlf)
- Associação Brasileira de Currículo (ABdC)
- Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio)
- Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS)
- Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH)
- Associação Nacional de História (ANPUH Brasil)
- Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial (ABPEE)
- Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (Abrapec)
- Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope)
- Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca)
- Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)
- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)
- Campanha Nacional pelo Direito à EducaçãoCentro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes)
- Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
- Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais do Pibid e Residência Pedagógica (Forpibid-RP)
- Fórum Nacional de Diretores e Diretoras de Faculdades, Centros, Departamentos deEducação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras (ForumDir)
- Rede Escola Pública e Universidade (REPU)
- Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM)
- Sociedade Brasileira de Ensino de Química (SBEnQ)
- Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)
- Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional eTecnológica – Seção Sindical São Paulo (Sinasefe-SP)]
O teor da Carta aberta está disponível para download no link: AQUI
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