Campeão olímpico Arthur Zanetti, o rei das argolas, anuncia aposentadoria aos 34 anos

Arthur Zanetti anuncia aposentadoria devido às condições físicas

Arthur Zanetti nem pode disputar as Olimpíadas de Paris por estar operado Foto: Marcos Guerra

Aos 34 anos, 37 deles a serviço da ginástica artística, o campeão olímpico das argolas Arthur Zanetti anunciou neste domingo, 12, que chegou a hora da aposentadoria. Segundo ele, parar agora é uma exigência do corpo.

“Por mim eu continuava muito mais tempo, mas tem que ter um bom senso, tanto da mente quanto do corpo. Eu decidi, é difícil, dar um basta nessa parte de atleta porque queria, mas o corpo tá falando, e vou respeitar, porque não quero outras lesões, não quero me tornar uma pessoa idosa que praticamente não consegue sair da cama por causa de dor”.

Segundo o campeão, “já tava vindo, tava sempre naquela indecisão se parava ou não, mas aí o ano passado eu decidi, sentei com o Marcos (Goto, técnico), sentei com várias pessoas, minha família… e a gente decidiu que o melhor era parar pra seguir a vida de outro modo”.

Arthur Zanetti disputou três Olimpíadas. Foi o primeiro atleta latino-americano campeão olímpico ao vencer as argolas de Londres 2012. Na Rio 2016, conquistou a prata em casa. Foi para o tudo ou nada na final dos Jogos de Tóquio e acabou fora do pódio. No curto ciclo olímpico para os Jogos de Paris 2024, porém, as lesões minaram o caminho. Ele nem pôde tentar uma vaga. Passou por uma cirurgia no braço esquerdo em maio do ano passado.

Apesar de se aposentar como atleta, Arthur Zanetti não vai deixar o ginásio de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, onde treina desde os sete anos de idade. Agora vai dar os primeiros passos como professor e técnico. No ano passado, também teve experiências como árbitro e como comentarista de ginástica.

Arthur Zanetti foi o primeiro atleta da América Latina a ganhar ouro nas argolas Foto:

Carta Aberta do “Rei das Argolas” – Arthur Zanetti

“Foram 27 anos da minha vida. Hoje, aos 34 anos de idade, ainda me sinto o mesmo garoto que se apaixonou pela ginástica aos 7 anos, no SERC Santa Maria, em São Caetano do Sul.

Aquele garoto de São Caetano do Sul jamais poderia imaginar o que estaria por vir. Foram quase três décadas dedicadas a treinos, competições, viagens. Aprendi desde cedo a me equilibrar nisso tudo. Cresci e alcancei um cenário que aquele garoto não tinha nem ferramentas para conseguir imaginá-lo. Mas só consegui subir com apoio de muitas pessoas, uma representação perfeita do aparelho da minha história, as argolas. Aquele empurrão antes do início de cada série, dado por tantos treinadores que passaram pela minha trajetória. A segurança de realizar o movimento lá em cima com alguém deixando claro que se eu caísse, haveria quem me acolhesse, levantasse e me fizesse recomeçar. Assim foram minha família e meus treinadores durante toda a minha trajetória, especialmente neste final, quando o corpo encontra os seus limites.

 

É difícil dizer adeus. Mas ter conquistado lugares antes jamais frequentados no esporte brasileiro me faz ter orgulho de mim, mesmo que isso tenha significado abdicar de muitas outras coisas ao longo desse período. Saber que, de alguma forma, pude contribuir para que novas gerações possam imaginar o que eu não pude na minha época, por falta de espelhos, é recompensador. Podemos ser medalhistas e campeões olímpicos, campeões mundiais e campeões dentro e fora do esporte. E esse é o meu próximo passo.

O ano foi difícil, não há como negar. Uma nova lesão tirou qualquer possibilidade de sonhar com uma terceira medalha olímpica. A frustração foi grande e carrego comigo. A força que faço toda vez que subo nas argolas não é capaz de esconder minhas vulnerabilidades como ser humano. Nos últimos três anos de carreira, foram cinco cirurgias que me afastaram da minha paixão, e o que mais doeu, nunca foi a dor física.

Determinar o fim da minha vida como atleta hoje passa longe de ser um ato de desistência, mas sim, um ato de respeito ao esporte que amo, ao meu corpo, à minha saúde e a todos que me apoiaram na minha trajetória. Espero que todos possam compartilhar comigo esse pensamento. O futuro ainda não sei como será, mas estarei próximo da ginástica. Tenho projetos pra me manter aqui, próximo ao esporte.

Felizmente fui abençoado com uma linda família. Jéssica e Liam são meu tudo e irei aproveitá-los ainda mais. Não há palavras pra descrever a alegria de tê-los ao meu lado, poder chamá-los de minha família. Ver o meu pequeno gigante, mesmo que em tom de brincadeira, repetindo alguns dos meus movimentos, é um sentimento que não cabe em mim. Meus pais Roseane Nabarrete Zanetti e Archimedes Zanetti, sem vocês nada seria. Amor incondicional e que me manteve de pé em muitos momentos da minha vida. Meu irmão mais velho, Victor Nabarrete Zanetti, que me acolheu desde muito cedo, um verdadeiro exemplo, que tenho orgulho de ter seguido. E claro, minha vó, Neide Thomazzo. O que seria de nós sem o amor de vó? No início de tudo, era você que me levava até os treinos, me acompanhava nas competições e me mimava também. Se o amor tivesse uma forma, com certeza se espelharia no amor de vó.

São tantas pessoas a agradecer nesse momento, que tenho medo de ser injusto ao citá-las nominalmente e esquecer alguém. Mas não posso deixar de falar de Marcos Goto. Esteve comigo durante anos, sobretudo na maior conquista da minha carreira, o ouro olímpico em Londres 2012. O primeiro ouro de um latino-americano em qualquer categoria da ginástica. Estar pra sempre gravado como campeão olímpico. O meu muito obrigado a você, Marcos. Você é símbolo dessa conquista.

Outro que não poderia esquecer neste momento é do meu empresário e grande amigo, Marcel Camilo. A jornada sem você seria mais difícil. Ainda teremos muito a compartilhar no futuro, Marcel, e eu não poderia ser mais grato por isso.

Foram 27 anos da minha vida dedicados a você, ginástica. E serão outras dezenas de anos ainda. Pode contar comigo.”

 

 

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