“Se a gente não contar a história hoje, amanhã não haverá quem conte”

Apaixonado por esportes desde criança, jornalista transformou passatempo de infância em um memorial ao esporte maringaense

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Com sede fixa há pouco mais de três anos, Museu Esportivo de Maringá tem acervo com mais de 5 mil itens (Crédito: Arquivo/MEM)

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Antonio Roberto de Paula é um guardião de memórias. Bom contador de histórias e apaixonado por futebol, foi influenciado desde mui

to jovem pelo avô, Jacinto Nogueira de Andrade, com quem ouvia, pelo rádio, os jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1970.

“Corre lá, Toninho, vê como é que foi!”, é o título de uma crônica escrita por ele e também o grito que ouvia do vô Jacinto quando era criança, sempre que a seleção brasileira fazia um gol. O garoto, então, atravessava a rua para assistir o replay do lance na casa da dona Lídia, uma das únicas vizinhas que tinha televisão, e voltava correndo para narrar o lance com a maior riqueza de detalhes possível.

Um dos destaques da coleção é a camisa do Santos FC autografada por Pelé (Crédito: Arquivo/MEM)

Nunca mais parou de contar histórias. Transformou esse talento em profissão no início dos anos 90, quando se tornou jornalista esportivo. Depois, aventurou-se a escrever sobre política, atualidades e notícias factuais.

Ainda durante a infância de Paula tinha o costume de colar pôsteres e recortes da revista placar nas paredes do quarto. Hoje ele faz o mesmo com os mais de 5 mil itens, entre fotografias, jornais, revistas, chaveiros, canecas, troféus, medalhas, flâmulas, camisas, entre outros objetos históricos do esporte maringaense.

O acervo do “Museu Esportivo de Maringá” tem seu marco zero em 2011. Jornalista, escritor e documentarista, de Paula estreitou relações com a turma do futsal da cidade quando começou, naquele ano, a produção do videodocumentário “Histórias que a Bola Pesada Contou”, um filme de cinco horas que foi lançado no ano seguinte em comemoração aos 50 anos do futebol de salão em Maringá. Durante as gravações ele ganhou fotografias, documentos, jornais, revistas, e passou a digitalizar todo esse material, publicando-o nas redes sociais. As doações aumentaram exponencialmente e logo o acervo ganhou relíquias de vários outros esportes, vindos de pessoas dos mais distintos lugares, até mesmo de fora da cidade.

Na intenção de proteger e, principalmente, divulgar a história esportiva da cidade, Antonio Roberto de Paula começou a organizar exposições. A exposição itinerante “Maringá Futebol Memória” foi lançada a 22 de novembro de 2016, na Casa de Bamba, e no ano seguinte passeou por outros lugares da cidade, como a Biblioteca Municipal Bento Munhoz da Rocha Neto, a Câmara Municipal, o Shopping Cidade e o Hotel Metrópole.

Quadro guarda a lendária camisa 9 usada pelo ex-atacante Itamar Bellasalma (à esquerda) quando ele fez o gol que deu o título do Campeonato Paranaense de 1977 para o Grêmio de Maringá (Crédito: Arquivo/MEM)

Em cada novo local a exposição atraía mais visitantes e ganhava mais doações. Os espaços públicos começaram a ficar pequenos para a expor todo o acervo. Foi preciso procurar um lugar fixo, que permitisse preservar com mais cuidado as peças históricas e receber os visitantes com mais conforto e comodidade. Assim, no dia 30 de outubro de 2017, o “Museu Esportivo de Maringá” ganhou uma sede própria, na rua Pioneiro Domingos Salgueiro, nº 1.415, esquina com a avenida Carlos Borges, no Jardim Guaporé.

 

Por que você criou o “Museu Esportivo de Maringá”?

Por amor. Por loucura. Por ser uma novidade. Para me aproximar da história do esporte maringaense. Sou jornalista e escritor, e Maringá é minha principal matéria-prima. Jogo bola desde criança, ainda que meus dotes futebolísticos sejam infinitamente menores que minha paixão pelo esporte. O museu permite que eu contribua com a preservação da memória da cidade, é um trabalho e ao mesmo tempo um prazer.

O acervo do museu hoje tem mais de 5 mil itens. Como você conseguiu juntar tanta coisa?

Fiz loucuras no início, quando ainda estávamos fazendo exposições itinerantes. Comprei camisas, livros, jornais antigos, flâmulas… Mas o “Museu Esportivo de Maringá” tem esse acervo graças às centenas de doadores. Fico desconfortável de citar nomes, pois cada item representa a confiança do doador no museu, no nosso trabalho. Já tivemos doadores que chegaram com o carro cheio de relíquias. Uma senhora veio de ônibus trazendo uma caixa com várias canecas antigas de clubes da cidade. Um homem doou um álbum antigo com fotos e recortes de jornal que pertenciam ao pai dele, já falecido. As peças são dos mais variados esportes, o que torna o museu mais representativo. E minha responsabilidade aumenta a cada dia porque sou o guardião do tesouro afetivo dos doadores.

Por que você decidiu incluir no acervo itens que não possuem relação com o esporte?

Fiz trabalhos sobre a história da cidade e tive acesso a muitas fotografias históricas. Isso precisa ser mostrado. Acho importante contextualizar o visitante sobre como era Maringá na época. As fotos antigas criam um ambiente propício para o visitante “viajar no tempo”.

O Museu Esportivo já recebeu visitas de grandes ídolos do esporte nacional. Entre os visitantes ilustres, quais mais te marcaram?

Já recebemos o Emanuel [campeão olímpico de vôlei de praia], Vanderlei Cordeiro de Lima [maratonista agraciado com a Medalha Pierre de Coubertin, a maior honra esportiva-humanitária concedida pelo Comitê Olímpico Internacional], Falcão [melhor jogador de futsal da história], Nalbert [campeão olímpico de vôlei], Zenon, Ademir da Guia, Rondinelli e Andrade [jogadores de futebol]… Foram vários nomes, que deram visibilidade para nosso trabalho. Às vezes eu nem acreditava que estava recebendo-os ali. Mas o que mais me marcou foi ter me tornado amigo de muitos ex-atletas e técnicos de Maringá, dos mais variados esportes. É importante receber a visita dos ídolos nacionais, mas desfrutar da amizade dessa turma que está conosco no dia a dia é uma bênção. Sou um privilegiado.

Como a pandemia do novo coronavírus modificou a rotina do museu?

Já que as pessoas não podiam visitar o museu, nós levamos o museu até elas. Intensificamos o trabalho no site [www.museuesportivo.com.br], digitalizando nosso acervo, dividindo em categorias, um trabalho meticuloso desenvolvido pela Nathalia Bergantini. Neste ano vamos organizar visitas agendadas, obedecendo os protocolos de segurança. Também estamos preparando programas online falando sobre o museu, as peças, os personagens e as histórias.

O acervo digital amplia muito as fronteiras do museu, facilita o acesso de quem está geograficamente distante. Você recebe muitas visitas de fora da cidade no site?

Sim, até de fora do país. As pessoas entram em contato para saber dos assuntos mais variados, alguns até sem relação com esporte. O site do Museu Esportivo de Maringá e nossas redes sociais são um importante canal para quem é de fora e quer se manter conectado com a vida esportiva, para o exercício das recordações. Antes do museu já me procuravam para obter informações históricas de Maringá, hoje a procura aumentou.

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