Autora se destaca pela prosa experimental no romance

De passagem pelo Paraná, a escritora paulistana Aline Bei, um dos nomes promissores da literatura contemporânea, participou da 41ª Semana Literária Sesc PR em três cidades, durante sessões de bate-papo. A reportagem aproveitou para conversar com ela

Crédito da Foto: Cristiano Martinez

Histórias de silêncio, perdas e fraturas. De forma pungente, a literatura da escritora paulistana Aline Bei se vale de uma narrativa formada por frases “quebradas” para apresentar personagens fragmentadas.

Desde a sua estreia em 2017 com o romance “O peso do pássaro morto” (Edith/Nós), que venceu o Prêmio São Paulo de Literatura, a autora vem arrebatando crítica e leitores com sua abordagem original, feita a partir de prosa experimental e mergulho intimista. Nesse livro, tem-se a vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra.

No ano passado, lançou seu segundo romance, “Pequena coreografia do adeus” (Companhia das Letras). Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a protagonista tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares.

De passagem pelo Paraná, Bei participou da 41ª Semana Literária Sesc PR em três cidades, durante sessões de bate-papo. A reportagem aproveitou para conversar com ela.

As duas obras escritas por Aline Bei chamam atenção pela forma narrativa. Numa linha fronteiriça, sua prosa é atravessada pela poesia, quebrando as frases e rompendo com as palavras. É uma escrita fragmentada e baseada em silêncios, no ritmo das personagens.

A autora conta que, quando se iniciou na escrita, achou que fosse poeta. “Eu fui percebendo ao longo do tempo que o poeta é uma coisa muito inata. Você pode se tornar uma prosadora, um prosador; mas o poeta tem uma inclinação natural. Porque a poesia se faz também num olhar muito especial para as coisas”. Ela entendeu que o que fazia não era poesia; mas não abandonou o gesto de fraturar o discurso.

Desse modo, as frases quebradas em seus livros têm a ver com as personagens, que também estão fraturadas, fragmentadas. “Eu acredito muito nessa força da forma e conteúdo. Eu não acho que a forma deve vir vazia; ou deve vir num virtuosismo, numa espécie de ‘lacração’, alguma coisa para mudar o ritmo do que está sendo feito, só pela revolução”, explica Bei.

“E o meu trabalho é muito permeado do silêncio, na temática e na forma. Eu sempre estou falando de personagens que estão à beira de um colapso silencioso de si. Eu acho que a minha linguagem quebrar, se esvaziar e se romper tem muito dessa poeira, dessa delicadeza, dessa dor que as personagens, as protagonistas, acabam carregando”.

A cada livro, a escrita de Bei se compromete mais com a radicalidade e os silêncios, explorando outras formas, como é o uso da letra diminuta no segundo livro: o eu pequeno é espelhamento das violências sofridas pela protagonista Julia. “Ao invés de eu ficar descrevendo o quanto é difícil e dura a relação, eu tento trazer a dor para a palavra, como se a palavra pudesse ser também porosa”, afirma a autora.

Crédito da Foto: Cristiano Martinez

TRAJETÓRIA

Antes de lançar o primeiro romance, Bei já escrevia nos tempos da faculdade de Letras. Eram textos curtos, sem intenção de publicar. Isso mudou quando conheceu o escritor Marcelino Freire e se matriculou em sua oficina de escrita, percebendo que havia chegado a hora de publicar.

A princípio, o intuito era de reunir textos mais curtos, mas Bei não conseguiu mantê-los num mesmo espaço. “Porque eram textos muito diversos, que foram escritos para plataformas de internet”.

Até que lhe veio a ideia de produzir uma história mais longa, um romance. Assim, Bei participou de um concurso literário e teve seu livro selecionado para ser publicado pela Edith. No júri, estava a editora da Nós, Simone Paulino, que adorou os trabalhos, colhendo tanto o romance de Aline quanto de outro autor, Paulo Junior.

“Foi dessa maneira que o livro começou a circular”, recorda a escritora, que se dedicou à divulgação de “O peso do pássaro morto” nas redes sociais e à interação com leitores, vendendo o romance por quase cinco anos.

Já o contato com a Companhia das Letras se deu quatro meses depois da estreia literária. Essa casa editorial a procurou perguntando se estava escrevendo um novo trabalho. Era “Pequena coreografia do adeus”, que seria publicado em 2021.

No momento, ela está escrevendo o terceiro livro, cujo processo iniciou em 2022. A primeira versão deve ser entregue em 2023, como trabalho final de uma pós-graduação em escrita performática. Depois, o material passará por reescrita.

Crédito da Foto: Cristiano Martinez

 

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