Em Maringá, as mulheres em situação de violência que procuram pelos serviços de acolhimento no Centro de Atendimento à Mulher Maria Mariá (Crammm) passam pela escuta qualificada com as profissionais da psicologia e serviço social e são encaminhadas para os demais serviços especializados que compõem a Rede Mulher.
Se estiverem em risco iminente de morte, são abrigadas juntamente com seus filhos menores, até que saiam as medidas protetivas e elas possam ser desabrigadas em segurança. Elas também contam com o Botão do Pânico que é entregue no Crammm, juntamente com a Patrulha Maria da Penha e esse monitoramento do botão é feito pela Guarda Municipal. Também é ofertado o programa “Qualifica Mulher” para as mulheres em vulnerabilidade social serem atendidas pelos serviços.
A secretária de Políticas Públicas para Mulheres, Terezinha Beraldo Pereira, diz que o Brasil conta com uma legislação muito avançada, sendo a Lei Maria da Penha considerada entre as três melhores leis do mundo, além de várias outras legislações pertinentes a esse tipo de violação dos direitos humanos das mulheres.
“O que precisamos avançar e muito são nas políticas públicas de acolhimento, abrigamento e autonomia econômica, intelectual e emocional das mulheres. Maringá é uma das poucas cidades do Brasil que conta com uma rede de serviços especializados completa para o atendimento às mulheres em situação de violência
e agora conquistamos 21 milhões junto ao Ministério das Mulheres para a implantação da ‘Casa da Mulher Brasileira’.
Uma conquista histórica para nossa cidade e que vai oportunizar termos todos os serviços especializados em um mesmo espaço físico”, comemora. Hoje a equipe da Secretaria da Mulher (SeMulher) conta com 28 servidoras,
um motorista e sete estagiárias. Sendo 16 na sede administrativa, 12 no Crammm e oito na Casa Abrigo.
AJUDA PROFISSIONAL
A psicóloga Beatriz Vieira da Silva explica que tem constatado muita insegurança e baixa autoestima nos atendimentos. “Geralmente, a mulher está em um relacionamento em que ela precisa dar satisfação de tudo,
ela não tem liberdade, se sente muito presa e há uma dependência emocional muito alta”.
Ainda segundo a psicóloga, muitas vezes a violência cometida é silenciosa, são violências que surgem ao longo do tempo e pode ser violência física, psicológica, financeira, sexual ou mesmo religiosa. “Quando a mulher procura ajuda, ela já está sofrendo há tempos o processo de violência, muitas vezes sua liberdade é privada, ela
é questionada sobre a necessidade de trabalhar, de falar com pessoas ao seu redor, de estar produzida para atividades do dia a dia”, afirma.
Beatriz salienta que, nas sessões de terapia, a primeira tude a se fazer é fortalecer essa mulher que chega fragilizada emocionalmente e auxiliar em relação à compreensão desse relacionamento, para que ela enxergue de fato. “Entender que existe sim um amor envolvido, mas um amor que machuca, que dói, que não é
saudável para ela e que a segurança pessoal dela é o mais importante nesse momento, é preciso que ela esteja segura de si para que possa tomar decisões”, complementa.
Muitas vezes, as mulheres têm receio de denunciar o agressor, pois perdem ou não conhecem a própria essência,
sua consciência fica afetada por tamanha manipulação psicológica. A profissional comenta que é necessário trabalhar o amor e auxiliar a mulher para que tome consciência de si. “Existem dois livros que falam sobre a violência, sobre esse amor que desabilita a mulher para tomada de decisões: “Mulheres que amam demais
e Mulheres que correm com os lobos”. Então, o ponto a ser trabalhado é essa consciência de si e a partir disso estar preparada conscientemente para uma tomada de decisão”.
Para a psicóloga, , é necessário sempre estarmos falando sobre o tema e divulgando, principalmente sobre como
acolher essa pessoa. “Falta empatia do outro em relação a essa pessoa que sofreu violência, seja violência psicológica, física, financeira, sexual ou mesmo religiosa. Ela não está sofrendo violência porque ela quer, muitas vezes somos carregados pela vida e em tratamento essa mulher poderá tomar consciência de si, de sua vida e passar a administrar sua própria vida”.
DATA
O Dia Nacional de Luta Contra Violência à Mulher surgiu após um protesto feito por mulheres em 10 de outubro de 1980, nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo, contra o aumento de crimes do gênero feminino, sendo o maior objetivo, o estímulo a reflexão sobre o tema e o incentivo para buscarem apoio e orientação
de um profissional. Muitas vezes, a mulher não se dá conta de que está sendo violentada porque o abuso é psicológico.
Uma pesquisa do “boletim Elas vivem: dados que não se calam”, da Rede de Observatórios da Segurança, constatou que em 2022, no Brasil, 2.423 mulheres sofreram algum tipo de violência, sendo uma agressão a cada quatro horas. No mesmo boletim foi registrado também que um terço das mulheres brasileiras já sofreram
pelo menos uma vez, violência sexual ou física. Somando a violência psicológica, o número cresce para 43%.
O estudo apontou que 45% das mulheres não pediram nenhum tipo de ajuda, 38% tentaram resolver o problema sozinhas e mais de 21% responderam não acreditar na polícia. O número para denunciar agressões sofridas
é o 180 e além disso o canal presta informações sobre os procedimentos a serem tomados 24 horas em todos os
dias da semana.
Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que no Brasil em 2022 foram 1,4 mil casos de feminicídio, 74,9 mil estupros, 6,1 mil assédios sexuais e mais de 245 mil casos de violência doméstica.