A terminar o primeiro mês de 2021 convido-lhe para uns instantes de reflexão. Silenciemo-nos o coração diante do Senhor, que nos chama para viver intensamente a esperança em nossa vida.
Domingo, dia do Senhor, de paz interior, descanso das atividades semanais, encontro com a família e amigos, dia de refazer as forças, acalentar a alma, deixar o Senhor conduzir-nos, falar ao coração.
A humanidade imersa na convulsão social, o barulho torna-se ensurdecedor, o amor fica abafado tal qual planta sufocada nos espinhos. O modelo de sociedade estressada, sem referência, denota um rebanho disperso por estar longe do Filho de Deus, que veio trazer a paz, harmonia, serenidade. É oportuno refletir sobre o Evangelho de São Marcos (Mc 1,21-28). A Boa Nova nos questiona quanto à relação com a família, no mundo do trabalho e dos que estão ao nosso redor?
Naquele tempo, num dia de sábado, muitas pessoas foram à sinagoga para ler a Sagrada Escritura, em Cafarnaum. Jesus também estava lá. Estava lá um homem possuído por um mau espírito. Ao expulsar o mal da vida dessa criatura, Jesus provoca as diversas reações diante dos presentes. Religião sem sentido é ignorar os sofredores, fomentar a vida sem piedade, misericórdia, agarrar-se à rotina inerte, cansativa, improdutiva, sem inspiração e criatividade, que impossibilita a ação do Espírito Santo na vida humana.
A ação positiva de Jesus, expulsando o mau espírito (v.26), agita os fundamentalistas na sinagoga. Esses preferem se calar diante do seu intimismo egocêntrico, explorador, opressor, com indigna manifestação de recalque, frustração. Os que sonhavam com a libertação dos maus espíritos viam em Jesus uma sabedoria e autoridade jamais vista.
O evangelista Marcos narra que boa parte dos que estavam na sinagoga viam, a partir dele, um ensinamento novo e com autoridade (v.27). Eis o segredo para se libertar de amarras, tensões e angustias dos dias atuais.
Estamos na campanha da vacinação contra a Covid-19. Como se estivéssemos, hoje, na sinagoga no tempo de Jesus. Muitos foram ao encontro de Jesus na esperança de se livrar das doenças, dos males, das perturbações. Era preciso encontrar-se com a verdadeira autoridade revestida de sabedoria, sensibilidade humana, respeito à natureza criada. Jesus mostra o caminho da superação pela disciplina, bem contrário de autoridades que negam o cuidado, desconsideram a pandemia, provocam aglomerações, ignoram a morte de mais de 210 mil vítimas. A verdadeira autoridade é comprovada pela responsabilidade, pelo cuidado, sensibilidade humana, pela perspicácia no trato e condução da vida que está em nós e na natureza. A ciência tem muito a nos ajudar.
Que o Santo Espírito ilumine as autoridades para que governem com sabedoria, em defesa da democracia, respeitem o Senhor Deus; inspire os cientistas, acalente de ternura e sensibilidade dos profissionais da saúde, que estejam revestidos da sabedoria divina na superação da pandemia e de todos os males na humanidade. São Marcos ensina-nos algo novo e com autoridade na superação deste tempo de expectativa, angustia e dor.
Dom Frei Severino Clasen, ofm
Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Maringá – PR