‘Marvin’ dos Titãs é a ‘versão da versão’ de clássica balada soul

Lançada em 1984, no álbum "Titãs", a canção é uma versão em português para “Patches”, balada soul composta por General Johnson e Ron Dunbar. Mas Nando Reis e Sérgio Britto usaram como base uma regravação reggae de King Sounds and The Israelites

Primeira formação de estúdio tinha André Jung nas baquetas (Crédito: Reprodução)

Talvez você conheça a história de Marvin, cujo pai tinha pouco dinheiro, mas um grande coração. O rapaz trabalhava feito um burro nos campos e só via carne se roubasse um frango. Um dia, o cara precisa assumir a responsabilidade. É uma trajetória de sofrimento e perdas.

Resumidamente, essa é a letra de “Marvin”, canção gravada pelos Titãs em seu LP de estreia, lançado pela gravadora WEA no distante ano de 1984. Aliás, essa banda é um dos principais nomes do chamado RockBR, da geração oitentista.

Mas o estouro mesmo da faixa se deu somente em 1988, quando do lançamento de “Go Back” (Warner Music). Trata-se de show no Mountain Recording Studios – Montreux, na Suíça. Depois, “Marvin” apareceu no “Acústico MTV – Titãs” (1997, Warner Music); e também no “Paralamas e Titãs: Juntos e Ao Vivo” (2008, EMI Music).

Em 2023, os Titãs vão fazer uma turnê de reunião da formação clássica (Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto) e essa música de 1984 tem grandes chances de figurar no set list.

Muita gente acha que “Marvin” é uma música composta pelo então octeto. Na verdade, é uma versão feita por Nando Reis e Sérgio Britto para “Patches”, balada soul escrita por General Johnson e Ron Dunbar que se tornou sucesso graças à versão de 1970 na voz de Clarence Carter.

“A canção fala sobre a história de um homem que trabalha duro na plantação de algodão para sustentar sua família, mas sonha em um dia deixar o trabalho duro para trás e ter uma vida melhor. A letra é emocional e cativante, e a música em si é uma mistura de elementos de soul e R&B”, diz o sistema ChatGPT, em consulta exclusiva de O Maringá.

Mas não foi esse soul que levou Nando Reis a fazer sua versão em português. Em vídeo para seu canal no YouTube, o baixista original dos Titãs explica que a ideia apareceu a partir do LP “Forward” (1981, selo Island), de King Sounds and The Israelites. Era um reggae! Inclusive, o brasileiro era fã desse estilo musical.

Aliás, Roy Livingstone Plummer, mais conhecido como King Sounds, é um cantor e músico jamaicano do reggae roots, que lançou vários álbuns a partir de fim dos anos de 1970 em diante.

“Quando comprei, foi na Teodoro Sampaio [famosa rua com comércio de instrumentos musicais em São Paulo]. Onde havia uma loja de discos que eu frequentava, que encontrei este disco”, diz Reis, apontando para o LP de King Sounds. Ali continha a faixa “Patches”, que deu a ideia para fazer a versão ao lado de Britto, tecladista e vocalista da banda.

REGGAE
A brasileira “Marvin” é um reggae um pouco diferente, mas com andamento lento e arranjos de metais do pessoal da banda de salsa Sossega Leão na gravação de 1984; e não soul como o cantor e compositor Clarence Carter fez em 1970. No entanto, a essência da letra foi mantida, que é a vida miserável e sofrida do personagem Patches (“Retalhos”, em tradução livre).

“A música é uma mistura de rock, funk e elementos eletrônicos, e tem uma batida marcante e um refrão forte e impactante. ‘Marvin’ é uma das músicas mais famosas dos Titãs e uma das mais emblemáticas do rock brasileiro”, diz o ChatGPT.

A mudança do nome para Marvin foi uma homenagem de Reis e Britto para Marvin Gaye, ícone do soul e R&B, falecido em 1984.

Em resumo, os Titãs gravaram uma versão de outra versão. No caso, fizeram a transposição de uma letra em inglês para o idioma falado no Brasil. Mas a “Patches” escolhida já era uma releitura em ritmo de reggae para o maior sucesso do cantor de soul Clarence Carter. Este, por sua vez, havia gravado originalmente o hit de N. Johnson/R. Dunbar em julho de 1970, no single da Atlantic, com arranjo de Jimmy Haskell e produção de Rick Hall. No lado A, “Patches”; e lado B, “Say It One More Time” e “I Can’t Leave Your Love Alone”.

ORIGEM
Mas a história não termina (ou começa) em Clarence Carter, um nome do blues/soul. A música cantada por ele não é a primeira gravação de “Patches” – também conhecida como “Patches (I’m Depending On You)”.

A banda de soul Chairmen of the Board é que fez o primeiro registro, em 1970, no álbum de estreia: “The Chairmen of the Board” (mais tarde reeditado como “Give Me Just a Little More Time”). Inclusive, era o grupo do qual General Johnson (um dos autores de “Patches”) era vocalista.

“Eu a ouvi no LP ‘Chairmen of the Board’ e gostei, mas tinha minhas próprias ideias sobre como deveria ser cantada. Foi minha ideia fazer a música soar real, natural…”, explicou Carter certa vez.

MAIS
Ao menos, “Patches” tem pelo menos seis gravações em inglês, segundo o ChatGPT: a original do grupo The Chairmen of the Board e a de Clarence Carter, ambas soul; além das versões country de Bobby Goldsboro (em 1970), Jerry Reed (1971), Dolly Parton (1980) e George Jones (1986).

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