Ele acaba de lançar, em Porto Velho, um documento precioso para a história de uma das regiões mais agredidas da Amazônia. É seu quinto livro, Território Dourado (154 páginas, em formato grande). O subtítulo confirma a importância do tema: “Histórias sinceras do garimpo de ouro, violência nas corruptelas, apogeu e queda da zona boêmia porto-velhenense”.
O livro passa a ser fonte indispensável para saber e sentir o percurso que Rondônia foi obrigada a seguir, tocada pelos seus desbravadores, colonos, imigrantes e capatazes. Montezuma é dos raros que pode declarar: “meninos, eu vi”. Viu quase tudo, escreveu muito – e com grande competência.
A seguir, sua autoapresentação e dois trechos do livro.
Cheguei a Rondônia em 1976 a serviço da Folha de S. Paulo. Depois, trabalhei para o Jornal do Brasil e O Globo. Presenciei o apogeu da Província Estanífera; dificuldades enfrentadas por colonos em projetos do Incra; as primeiras exportações de cacau e a doença que dizimou suas lavouras; o resgate de fósseis no rio Madeira; e alguns conflitos indígenas. Antes da criação do estado acompanhei as atividades do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena (Cetremi), e a chegada dos recursos do Polamazônia e Polonoroeste (programas de desenvolvimento que impulsionaram a elevação do antigo Território Federal). O Cetremi era uma espécie de “porteira humana” em Vilhena. Também trabalhei em jornais locais: A Tribuna, O Guaporé, O Estadão de Rondônia, O Parceleiro (Ariquemes), Diário de Rondônia (Ji-Paraná) e O Imparcial.
“Não mexa com meus meninos”
O garimpeiro João Capistrano e um amigo saíam do garimpo para retornar a Porto Velho. Acenava pedindo carona até que o motorista de uma camionete parou numa estrada vicinal.
– Pode levar a gente para Porto Velho?
– Posso, sim, vocês sobem aí, mas não mexam com os meus meninos.
Segundos depois de estranhar aquela recomendação, Capistrano olhou o chão da carroceria e se deparou com dois cadáveres cobertos apenas por redes.
Apertaram o nariz por alguns minutos e em seguida viajaram em pé, pela empoeirada estradinha. “Não teve jeito, se baixasse a cabeça sentia o forte odor dos defuntos, e olhando pra cima, a gente só engolia poeira”, ele conta.
Chegando ao Trevo do Roque, em Porto Velho, dois agradeceram ao motorista, saltaram da carroceria e respiraram com alívio.
O delegado Jovely Gonçalves, do 4º DP [Área de Garimpos] me informava em dezembro de 1984 que as estatísticas apontavam 59 mortos ao longo do rio Madeira, dos quais, 20 por assassinato. Mas logo admitia que esse número seria bem maior.
Totalmente despreparados tecnicamente, a maioria desconhecendo doenças descompressivas ou embolias traumáticas, os garimpeiros também deixavam as balsas desalinhadas para se arriscar ao mergulho. Fatalmente, ao encontrarem ouro, muitos foram vítimas da paralisação do oxigênio por obra da maldade humana daqueles que calculavam a demora na pesquisa e, certamente, sabiam que o seu resultado era positivo.
“O número cada vez maior de mortes de garimpeiros nos rios de Rondônia se deve mais à ambição criminosa [com o corte do mangueiro] do que a acidentes”, afirmava o delegado de polícia Marcus Vinícius Prudente.
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