*Com Sputnik Brasil
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a reabertura das investigações sobre a morte de Juscelino Kubitschek, ex-presidente do Brasil, que faleceu em um acidente na Via Dutra em 1976, durante a ditadura militar. O caso, amplamente debatido, será conduzido pela Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos.
O Acidente na Via Dutra
Juscelino Kubitschek e seu motorista, Geraldo Ribeiro, morreram em 22 de agosto de 1976 quando o veículo em que estavam, um Opala, perdeu o controle na Rodovia Presidente Dutra, entre Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo a versão oficial da época, o acidente foi atribuído a uma tentativa de ultrapassagem mal sucedida, resultando na colisão com um ônibus e posteriormente com uma carreta.
No entanto, um laudo produzido pelo perito e engenheiro Sergio Ejzenberg, em 2019, levantou dúvidas sobre essa versão. O estudo concluiu que o acidente não foi causado pela colisão com o ônibus, como alegado anteriormente. A reabertura do caso busca esclarecer essas inconsistências e determinar se houve ação intencional contra o ex-presidente.
Suspeitas de Atentado
As comissões estaduais da Verdade de Minas Gerais e São Paulo já concluíram que há evidências de que a morte de JK foi resultado de um atentado, supostamente orquestrado pela ditadura militar. Entre as hipóteses levantadas estão:
- Sabotagem mecânica do veículo;
- Envenenamento do motorista, o que teria comprometido sua capacidade de dirigir;
- Disparo de arma de fogo, que teria causado a perda de controle do carro.
Essas suspeitas estão alinhadas a um contexto mais amplo de repressão política na época, marcado por perseguições, mortes e desaparecimentos de opositores ao regime militar.
O Contexto Político da Época
Entre 1976 e 1977, o Brasil perdeu três figuras políticas de grande relevância: Juscelino Kubitschek, João Goulart (ex-presidente, falecido de um suposto ataque cardíaco) e Carlos Lacerda (ex-governador da Guanabara, morto por um infarto). Há indícios de que esses eventos não foram meras coincidências, mas sim parte de uma estratégia de retaliação da ditadura militar contra uma possível articulação dos três líderes em formar uma frente de oposição pacífica ao regime.
A suspeita de assassinato político ganha força, sobretudo pela importância de JK na história do Brasil, sendo ele o idealizador de Brasília e um símbolo da democracia. Sua morte, assim como as de Goulart e Lacerda, deixou marcas profundas na memória política do país.
A Importância da Reabertura
A decisão de reabrir o caso Juscelino Kubitschek representa um esforço significativo para revisar fatos históricos e lançar luz sobre episódios obscuros da ditadura militar. A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos desempenha um papel fundamental nesse processo, buscando não apenas justiça, mas também a preservação da memória histórica e o respeito às vítimas do regime autoritário.
A medida reafirma o compromisso do governo em investigar casos que até hoje permanecem envoltos em mistério, contribuindo para a construção de uma narrativa mais transparente sobre o passado recente do Brasil. O desfecho das investigações poderá redefinir a compreensão de um dos períodos mais sombrios da história brasileira.