Retorno da obra de Candido é fundamental, diz professora

A partir deste ano, a Todavia inicia o relançamento dos livros escritos pelo crítico literário e sociólogo Antonio Candido, um dos intelectuais mais importantes do Brasil. Em entrevista, Érica Fernandes Alves (UEM) avalia o legado do autor para as letras nacionais

antonio candido foto marcos santos usp

Crédito: Marcos Santos/USP

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Figura emblemática das letras nacionais, o crítico literário, professor e sociólogo Antonio Candido (1918-2017) deixou como legado sua visão dialética sobre a literatura brasileira, servindo de referência para a comunidade acadêmica, incluindo a Universidade Estadual de Maringá (UEM).

A partir de março de 2023, a editora Todavia inicia a republicação da obra desse intelectual na chamada Coleção Antonio Candido, prevista para ter 17 títulos com novo projeto gráfico (a cargo de Oga Mendonça). Objetivo é celebrar o legado de Candido, ampliando a circulação de seu trabalho e mostrando às novas gerações sua obra.

Assim, no próximo dia 24, estarão disponíveis cinco livros nas livrarias: “Formação da Literatura Brasileira”, “Iniciação à Literatura Brasileira”, “Os Parceiros do Rio Bonito”, “O Discurso e a Cidade” e “Literatura e Sociedade”. As próximas remessas serão por partes: segundo semestre de 2023, e em 2024.
“Espero ver muitos títulos dele [Antonio Candido] serem publicados pela Todavia nos próximos anos, uma vez que sua obra compõe parte do compêndio da crítica literária produzida então por um país ainda em construção e em busca de sua posição no cenário literário mundial”, avalia a professora de literatura da graduação e pós-graduação na UEM, a Dra. Érica Fernandes Alves, que também é diretora adjunta do Centro de Ciências, Letras e Artes da instituição.

Segundo ela, o legado de Candido é de valor incalculável para a história da crítica literária do Brasil. “Compreendo, então, que o retorno de sua obra pela Todavia não só é necessário, como fundamental. A nova edição reconecta os estudos literários ao seu ‘padrinho’ brasileiro”, diz Alves, em entrevista ao jornal O Maringá.

Entre os livros dessa primeira leva da Todavia, a doutora em Letras aponta que “Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos” continua sendo obra fundamental para a história da literatura brasileira “e é referência ainda hoje no curso de Letras da UEM, como em outros cursos de graduação em Letras espalhados pelo território brasileiro”.

A professora conta que a obra, escrita entre os anos de 1945 e 1951 e publicada em 1956/57 (1ª e 2ª edições, respectivamente), reconhece a contribuição literária de autores que fundaram e moldaram a identidade da literatura brasileira. “Mesmo com o surgimento de outros teóricos renomados, Candido opera como uma espécie de guia para os alunos da graduação, principalmente, pois traça uma linha histórica da literatura brasileira, ainda que particularizada, é claro”.

Coleção tem novo projeto gráfico (Crédito: Reprodução/Todavia)

IDENTIDADE
Segundo Alves, muito da produção desse autor, com destaque para “Formação da Literatura Brasileira”, estabelece a diferença entre literatura brasileira e portuguesa. “No Brasil colonial, a literatura nacional, assim como outras literaturas de países também colonizados, se formou a partir de moldes europeus, no caso brasileiro, principalmente a partir da literatura lusitana”, acrescentando que Candido tenta delimitar essa fronteira, entre identidade literária nacional e a europeia.

“Desse modo, sua obra não merece ser desprezada pelos estudos literários nos cursos de Letras, tal sua vanguarda nesse campo de estudos, a partir do momento em que a identidade literária nacional passou a ser objeto de análise nas academias”.

Da primeira leva de relançamentos da Todavia, o preferido da professora Dra. Érica Fernandes Alves (UEM) é “Literatura e Sociedade”. Ela conta que é docente de literatura de maiorias minorizadas, ou seja, “literaturas excluídas do cânone, mas representativas de populações por vezes também obliteradas pelas políticas públicas e invisíveis à sociedade”. Nesse livro, Candido discute, segundo a pesquisadora, o papel central da sociedade na literatura e da literatura dentro da sociedade. “Embora Candido não faça alusão ao termo ‘literatura de minorias’ ou de ‘maiorias minorizadas’, pois foram cunhados já no século XXI, depreende-se, por meio da pesquisa desse livro, em específico, que a escrita de e sobre esses sujeitos, abarcados por tais designações, faz parte da história literária nacional, portanto expressiva de uma determinada sociedade”.

BASILAR
Desde a morte de Candido em 2017, ou até antes dela, foram publicados livros sobre sua contribuição para os estudos.

Para Érica Fernandes Alves, qualquer profissional da área de Letras tem o dever de conhecer o pensamento desse autor, seja para abraçar as teorias, seja para criticar. Afinal, Candido construiu um estudo basilar sobre a história da literatura brasileira, avalia a docente da UEM.

“Muitos são os estudos que partem de sua obra e que caminham para a confluência ou desconstrução de sua essência. Cândido inaugura, por assim dizer, uma tradição da crítica literária brasileira. Assim, observa-se que sua obra está sempre em devir e escrutínio. O revisionismo é constante. Nenhum texto de crítica é perene, intocável”, afirma Alves.

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