Sindicatos se mobilizam para evitar o retorno das aulas presenciais nas universidades

Os professores da rede estadual de ensino decidiram pela greve da categoria

Assembleia da APP-Sindicato provou paralisação geral (Foto: Divulgação)

Entidades sindicais estão se mobilizando para enfrentar a decisão do governo estadual pela volta às aulas presenciais nas escolas públicas e particulares e nas universidades públicas a partir de fevereiro, sem descartar o ensino remoto, ou seja, mantendo o modelo híbrido.

A posição mais dura, por enquanto, é a da APP Sindicato, que deliberou por fazer greve a partir de 18 de fevereiro, data estimada para a retomada das aulas físicas como quer o governo de Ratinho Junior (PSD). 

O Fórum das Entidades Sindicais do Paraná (FES), uma instância criada para unificar as lutas dos servidores públicos do Estado, convocou reuniões da coordenação, em Curitiba, para estudar o caso sob o ponto de vista jurídico, porém já com posições políticas contrárias ao ensino presencial na pandemia.

Em nota divulgada no dia 22 de janeiro, em suas redes sociais, o FES criticou a postura do governo. “Em um dos momentos mais críticos da pandemia, quando o Estado do Paraná ultrapassa a marca de 500 mil infectados pelo novo coronavírus e 9 mil mortes devido à Covid-19, o governador Ratinho Jr. assinou decreto de nº 6637, do dia 20 de janeiro, autorizando escolas estaduais públicas e privadas, entidades conveniadas com o Estado e Universidades públicas a retomarem as aulas presenciais”, descreve o texto.

Para o presidente do Sindicato dos Policias Penais do Paraná, o Sindarspen, Ricardo Miranda, “não é a primeira ação do governador que mostra seu viés negacionista em relação à pandemia”. Representando os agentes penitenciários, Miranda enumera fatos como a aplicação da prova para PSS no dia 10 de janeiro, as denúncias de falta de condições ideais de trabalho nas unidades de saúde e em outras áreas do governo, como segurança pública, e a lentidão no que diz respeito ao programa de vacinação, exemplos que dão mostras evidentes da política de negação da pandemia pelo governador.

 

Autonomia

“Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por exemplo, não há como cumprir à risca a resolução em várias de suas dependências, como laboratórios, salas de atendimento, gabinetes e até mesmo alguns espaços da própria reitoria. O Estado joga nas mãos dos reitores uma questão praticamente impossível de resolver. Além disso, a pergunta que fica é se o Estado vai providenciar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) em quantidade e qualidade suficientes para o funcionalismo público”, questiona o presidente do Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Sintespo), Plauto Coelho.

Por falar em “jogar nas mãos dos reitores”, próprios dirigentes divulgaram que o decreto seria republicado com correção, acrescentado dois parágrafos. Um deles delegando à Secretaria de Estado da Educação (Seed) a coordenação do retorno às aulas presenciais nas instituições de educação básica, e outro informando que a retomada das aulas presenciais nas Universidades se dará após deliberação do órgão competente em cada instituição, em atenção ao princípio constitucional da autonomia universitária, respeitados os procedimentos estabelecidos pela Resolução 632/2020-Sesa e às orientações da Comissão de Especialistas coordenada pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).

Em boletim de quarta-feira, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) divulgou o registro de mais 3.258 novos diagnósticos e 69 óbitos pela Covid-19 no Paraná. Os dados acumulados do monitoramento da doença mostravam que o Estado somava, até então, 531.880 casos confirmados e 9.577 mortos em decorrência da doença causadas pelo novo coronavírus.

Os casos mencionados pela Sesa são de janeiro de 2021 (3.117) e dos seguintes meses de 2020: junho (3), julho (6), agosto (3), setembro (4), outubro (5), novembro (17), dezembro (103).

 

Previsão catastrófica

A verdade é que a discussão em torno do retorno ou não às aulas presenciais se dá num momento ruim da pandemia no País. Entre muitas notícias preocupantes estão a de que a crise pela falta de oxigênio medicinal que devastou o Amazonas pode espalhar para outros Estados.

Outra notícia para refletir foi a de que, segundo o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, uma megapandemia deve tomar conta da nação em 60 dias. A declaração foi repercutida pelo portal jornalístico online DCM (Diário do Centro do Mundo) a partir de uma entrevista do ex-ministro ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura.

Mandetta teria feito a previsão com base de que a alta no número de casos de Covid-19 seria provocada pela nova variante do coronavírus registrada na capital amazonense.

“O Ministério da Saúde não tem credibilidade. Temos mais uma crise, essa nova variante em Manaus, em que o mundo inteiro está fechando os vôos para o Brasil e nós estamos enviando pacientes para outros Estados sem fazer os bloqueios de biosegurança”, alertou o ex-ministro. 

“Provavelmente a gente vai plantar essa cepa em todos os territórios da federação e daqui a 60 dias a gente pode ter uma megaepidemia”, vaticinou Mandetta.

 

Desabafo de professora

Também nas redes sociais, tem viralizado um vídeo onde uma suposta professora grava um texto da também professora Márcia Friggi, espancada, em 2017, por um aluno de 15 anos, em Indaial, interior catarinense. 

O texto tem como pano de fundo uma simulação na qual, numa sala de aula, com duas pessoas, uma tinta fluorescente, representando o novo coronavírus, se espalha rapidamente nas mesas e objetos. A simulação se deu num programa de TV e uma especialista falou sobre o retorno às aulas presenciais na pandemia, minimizando o perigo do regresso, sempre se referindo às crianças. Não falou sobre os professores uma única vez. 

“A eterna invisibilidade do magistério brasileiro gritava no discurso desta senhora”, menciona o texto ao se referir à especialista entrevistada no programa. “Estava ali, naquela fala, escancarado, o desrespeito pelos professores e a visão que a nossa sociedade possui da escola”, continua a narrativa, para, em seguida, desabafar que “quando uma categoria tão fundamental neste processo sequer é mencionada é porque não existe para este sujeito que discursa”. Ainda de acordo com o texto, “excluídos, os professores deste processo, a escola é reduzida a espaço de socialização, depósito de crianças para que os pais trabalhem, tulha para que os adolescentes não fiquem ociosos. A escola passa a ser tudo, menos espaço para a construção do conhecimento”.

Para Friggi, “a omissão da palavra professores quando se refere a este retorno [das aulas presenciais], é também um desrespeito pelas nossas vidas. Como se a nossa vida, a nossa saúde, não fosse importante”. Ela diz que pensa nos colegas, afirmando que “poucos não estão no grupo de risco, a maioria tem comorbidades, incluindo grávidas”. Sem considerar a carga de trabalho destes professores. “Não há como dar conta de aulas presenciais e a distância ao mesmo tempo”, reclama, em alusão ao eventual retorno presencial com a manutenção do sistema remoto. “Se for assim, se não morrermos de Covid vamos morrer de exaustão. Mais que ouvir, precisamos também falar. E, acima de tudo, precisamos ser ouvidos”. 

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