No fim da manhã desta quinta-feira (23), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reuniu-se com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao. Realizada diretamente na sede da pasta, em Brasília, a conversa teve um tema central: o combate ao “mal da vaca louca”.
A expectativa é que a reunião entre o ministro brasileiro e o diplomata chinês tenha sido para tratar de como reativar o quanto antes a exportação de carne do Brasil para o país asiático. Isso porque, seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações de carne bovina para a China estão temporariamente suspensas a partir desta quinta-feira (23).
Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), o caso ocorreu em uma propriedade com 160 cabeças de gado, que foi isolada pelo órgão. “A propriedade foi inspecionada e interditada preventivamente”, destacou em nota.
Ainda de acordo com a agência, os sintomas indicam que o caso se trata de uma forma atípica da doença, ou seja, que surge de forma espontânea no animal, sem risco de disseminação no rebanho nem ao ser humano.
“Foi feito o comunicado à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e as amostras foram enviadas para o laboratório referência da instituição em Alberta, no Canadá, que poderá confirmar se o caso é atípico”, declarou a pasta.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o animal foi criado em pasto, sem ração, e abatido. Sua carcaça foi incinerada no local. “O serviço veterinário oficial brasileiro está realizando a investigação epidemiológica que poderá ser continuada ou encerrada de acordo com o resultado”.
“Todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne”, disse o ministro da pasta, Carlos Fávaro.
Reação no mercado
O analista da safras e mercado Fernando Iglesias afirmou que as indústrias já estavam deixando de comprar gado desde segunda-feira, quando o caso começou a ser investigado, considerando a hipótese de paralisação das exportações de carne para a China — que, de fato, se confirmou.
No último caso de EBB confirmado no Brasil, em 2021, as exportações ficaram suspensas por mais de 100 dias, e o preço médio de exportação caiu quase 20% naquele período.
Na avaliação de Hyberville Neto, consultor e diretor da HN Agro, o crescimento da China e a escassez global na oferta de animais devem acelerar o fim do embargo.
“Não acreditamos que vai demorar tanto quanto em 2021. Porque naquela época a China vinha de bons meses de compras. Esse recentemente ela tem comprado uma quantidade importante, mas tem comprado menos. Lembrando que eles acabaram de sair do ano novo chinês que é um período de maior consumo, então eles devem ter um nível de estoques a ser reposto razoável. Então você não acredita que eles tenham esse conforto todo para ficar indefinidamente, sem comprar do Brasil”.
Doença da vaca louca
A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) é uma doença do sistema nervoso dos bovinos, que tem um longo período de incubação entre dois e oito anos, e ocasionalmente mais longo. Atualmente não há tratamento ou vacina contra a doença.
A EEB faz parte de um grupo de doenças conhecidas como encefalopatias espongiformes transmissíveis, ou doenças causadas por príons, caracterizadas pelo acúmulo no tecido nervoso de uma proteína infecciosa anormal chamada príon.
Atualmente, como resultado da implementação bem-sucedida de medidas eficazes de controle, a prevalência da EEB clássica é extremamente baixa, assim como seu impacto sanitário global e risco à saúde pública.
A doença pode ser dividida em duas formas, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal. A versão clássica ocorre através do consumo de alimentos contaminados. Embora a forma clássica tenha sido identificada como uma ameaça significativa na década de 1990, sua ocorrência diminuiu nos últimos anos, como resultado da implementação bem-sucedida de medidas de controle eficazes, e agora é estimada como extremamente baixa.
Já a versão atípica refere-se a formas de ocorrência natural e esporádica, que se acredita ocorrerem em todas as populações de bovinos a uma taxa muito baixa e que só foram identificadas em bovinos mais velhos durante a vigilância intensiva.