O comércio varejista registrou um crescimento anual médio de 1,4% entre 2001 e 2022. O setor, que de 2001 a 2013 cresceu 5,2%, viu-se afetado por crises internas e a pandemia da Covid-19 nos últimos dez anos, o que prejudicou o desempenho observado a partir do início do século. É o que aponta o Panorama do Comércio, publicado pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).
O estudo traz dados sobre o comportamento do setor nos últimos 22 anos e aponta que, do ponto de vista das vendas, o comércio varejista viveu quatro momentos distintos durante esse período. O ciclo de maior prosperidade ocorreu entre 2001 e 2013, quando o volume de vendas do varejo cresceu a uma taxa média anual de 5,2%.
Mas por causa da maior recessão econômica da história do Brasil, o setor viu o desempenho cair 2,8% ao ano, em média, entre 2014 e 2016. Entre 2017 e 2019, o comércio varejista retomou o crescimento a uma taxa média de 2,1%. A recuperação, no entanto, foi atrapalhada pela pandemia. De 2020 a 2022, o setor avançou 1,2%.
Merula Borges, especialista em finanças da CNDL, explica que o setor é sensível às oscilações externas e que ainda não conseguiu retomar o ritmo de crescimento esperado. “Tem momentos ali de mais abastança, porque hoje a gente está falando de vinte anos. Só que tem momentos em que o mercado varejista oscilou. Quando a economia tem mais dificuldade para crescer, obviamente que o mercado também tem essa dificuldade. E na pandemia você tem o fechamento completo do comércio em alguns momentos e, então, tem um freio no varejo. Muitos setores ainda não tiveram a recuperação anterior à pandemia”.
Para a representante da CNDL, o ciclo virtuoso de crescimento do comércio varejista passa pela estabilidade política do país, pelo ajuste das contas públicas e pelas reformas tributária e administrativa.
“A gente tem visto radicalismos e isso interfere bastante na aprovação das medidas que são necessárias pro crescimento do país. A gente precisa de um novo arcabouço fiscal que deixe uma segurança para o mercado e amenize a taxa de juros. Algumas reformas são importantes. É muito importante que a reforma tributária saia esse ano, porque é uma reforma complexa e não fazer isso no primeiro ano de governo deixa muito improvável que isso vá acontecer no restante do mandato”, acredita.
Segmentos
O levantamento mostra que dos oito segmentos pesquisados, apenas o de “livros, jornais, revistas e papelaria” viu o volume de vendas cair entre 2003 e 2022. A queda de 50% foi puxada pela digitalização do consumo de mídias, principalmente no caso dos jornais e das revistas, aponta o estudo.
Por outro lado, o segmento de materiais para escritório, o qual incluiu os equipamentos de informática, cresceu 395% no período, seguido por “artigos farmacêuticos e médicos” e “outros artigos de uso pessoal e doméstico”. Ambos registraram alta de 291%.
“Isso tem muita relação com mudança de hábito de consumo. Você vê que vai muito para material de escritório, entra materiais de informática. Então, isso está relacionado a essa questão de mudança de hábitos, de estilo de vida, novas tecnologias”, explica Merula.
Juros e oferta de crédito
O Panorama do Comércio lembra que as projeções do setor bancário indicam que, apesar dos juros altos, do crescimento da inadimplência e das dificuldades que algumas empresas varejistas enfrentam, o crédito deve avançar em 2023. Segundo a Febraban, o setor bancário estima que a oferta de crédito ao longo do ano deve subir 8%.
Apesar disso, o patamar da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75%, tem impacto, por exemplo, na taxa de juros média do cheque especial empresarial, que bateu 322% ao ano. Já a taxa do rotativo do cartão de crédito para as pessoas jurídicas chegou aos 296%.
Merula Gomes explica que os juros altos dificultam o acesso ao crédito pelo comércio varejista, em especial os pequenos negócios. Isso contribuiu para que as empresas se arrisquem menos na tomada de financiamento para expansão das atividades, o que tem impacto na economia.
“Projetos que eram viáveis em outro momento, com uma taxa de juros mais alta deixam de ser viáveis e aí os empresários preferem frear um pouco os investimentos e isso interfere na economia como um todo, na disponibilidade de empregos. Fica mais difícil conseguir emprego e, quando consegue, a renda acaba ficando um pouco mais baixa, porque o mercado acaba ficando na posição de ter mais profissionais à disposição e acaba tendo esse efeito de poder pagar menos por um currículo melhor”.
Em fevereiro, o indicador que mede a confiança do comércio, apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 3,6% em relação a janeiro, alcançando os 85,8 pontos. Mas como está abaixo dos 100 pontos – marca que indica neutralidade –, o indicador sugere que a atividade econômica perdeu dinamismo ao longo dos últimos meses.
De acordo com a metodologia do índice, resultados acima dos 100 pontos indicam que os empresários do setor estão otimistas, enquanto resultados abaixo desse patamar mostram pessimismo.
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