O Brasil, que liderou por mais de uma década as forças de paz no Haiti, pode voltar a cooperar no país para ajudar a estabilizar a nação caribenha.
Nesta entrevista à ONU News, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, destacou o vínculo de amizade entre ambas as nações reforçados durante a presença de soldados brasileiros no país do Caribe.
Momento muito grave
“O Brasil sempre esteve empenhado em buscar uma solução para o Haiti. Durante o período de vigência da Minustah, Missão de Paz da ONU no Haiti, o Brasil liderou com comando da força e com mais de 2,5 mil soldados durante um período de 11 anos e mais todo logístico militar. Nós queremos e desejamos uma solução. O Haiti é um país próximo e querido do Brasil, e nos empenhamos e investimos muito. Estamos prontos para continuar a discutir. Foi terminada a operação de paz Minustah e transformada numa operação política especial. Cremos todos que o momento é muito grave, porque a instabilidade é total, a violência e as perdas de vidas também são muito numerosas. Então é dado o momento de se discutir e se chegar uma solução”.
As Nações Unidas destacam que áreas controladas por gangues têm altos índices de pobreza. Atos como homicídios generalizados, sequestros e violência sexual e de gênero têm um impacto sobre os direitos humanos.
As estimativas apontam que até 90% da capital Porto Príncipe estariam afetados pelos crimes. O ministro Mauro Vieira vê a colaboração como essencial.
“A solução será, do nosso ponto de vista, sempre através da cooperação cada vez mais ativa em diversas áreas: formação da polícia haitiana, formação de funcionários do Estado, formação universitária para a população. O Brasil tem recebido milhares de haitianos. Nós temos um sistema de concessão de vistos humanitários. São centenas de milhares de haitianos que já se mudaram e já foram para o Brasil para escapar a esse problema tão grande violência e da crise política em que se encontra o país há tantos anos.”
A questão de direitos humanos levou à nomeação de um especialista independente sobre o Haiti. O ministro brasileiro diz que a comunidade internacional pode ter um papel mais ativo.
“Nós preferimos participar com todo o tipo de operação de cooperação em todas as áreas. Nós demos já uma grande contribuição durante 11 anos, que custou muito em recursos humanos e recursos financeiros. Eu creio que os outros países poderiam fazer, neste momento, e tomar um papel mais ativo, como nós tivemos durante 11 anos no passado, mas nós não estamos abandonando a questão do Haiti. Pelo contrário, nós queremos estar presentes investido o que investimos no passado em força militar em programas civis de cooperação.”
No ano em as Nações Unidas celebram 75 anos das missões de paz, o chanceler do Brasil lembra que o país está presente nessa colaboração desde o início.
“Nós temos participado em várias tradicionalmente. Participamos em muitíssimas desde os anos 50. Tínhamos até há pouco tempo na Unifil (Líbano) uma fragata brasileira, que pelo sistema de rotação deixamos de ter, mas estamos prontos para continuar a acompanhar e a participar das operações onde for realmente necessário.”
Forças brasileiras já atuaram em 50 missões das Nações Unidas e atualmente tem um general brasileiro no comando da operação de paz na Missão da ONU na República Democrática do Congo, Monusco.
Fonte: Organização das Nações Unidas