Brasil lidera em deslocados internos nas Américas, diz relatório

Brasil lidera em deslocados internos nas Américas, diz relatório

O número de deslocados internos em todo o mundo atingiu 71,1 milhões no final do ano passado. Uma alta de 20% em relação a 2021. Os dados são do relatório anual do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno, Idmc.

Nas Américas, o Brasil teve a maior quantidade de deslocados internos, sendo mais de 5 mil deles por conflitos por terra e 708 mil por desastres naturais. A quantidade de afetados por condições ambientais é a maior em uma década.

Tempestades e disputas por terra no Brasil

O estudo aponta, principalmente, as tempestades que atingiram Pernambuco, no nordeste do país, em maio de 2022, causando mais de 131 mil deslocados internos. Foi a segunda maior crise climática das Américas naquele ano.

Já o estado brasileiro de Minas Gerais também foi arrasado por fortes chuvas em janeiro de 2022, que deixaram 107 mil deslocados internos. O fenômeno la Niña, que persistiu pelo terceiro ano consecutivo, foi apontado como causa dos níveis recordes de inundações no Brasil, bem como no Paquistão e na Nigéria.

Sobre os deslocados por conflito, o estudo aponta que a maior parte dos casos se relaciona com disputas por terra em zonas rurais. Mais de 20% dos episódios foram registrados no estado de Goiás. Deslocamentos associados à violência urbana não são contabilizados, o que faz os dados parecerem mais baixos que o número real.

O aumento das temperaturas significa mais eventos climáticos extremos, incluindo calor e chuva intensos, derretimento do gelo, aumento do nível do mar e acidificação dos oceanos.

Deslocados por violência em Moçambique chega a 1 milhão

Um outro país de língua portuguesa, Moçambique, teve 283 mil deslocados por situações de violência e 113 mil por tragédias ambientais em 2022. Cerca de 127 mil pessoas viviam deslocadas no país africano no final do ano passado como resultado de desastres. Algumas delas desde os ciclones Idai em 2019 e Eloise em 2021.

A violência na região de Cabo Delgado e nos arredores foi responsável por 283 mil deslocamentos em Moçambique, um aumento de 50% em comparação a 2021. No final de 2022, cerca de 1 milhão de pessoas viviam em deslocamento interno por conta da violência.

Em nível global, o número de movimentos associados a fugas em busca de segurança e abrigo também foi inédito em 2022, chegando 60,9 milhões. O aumentou em comparação com o ano anterior foi de 60%.

Acnur/Martim Gray Pereira

Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas pelo conflito nas províncias do norte de Moçambique

Conflito na Ucrânia e enchentes no Paquistão

O conflito na Ucrânia provocou quase 17 milhões de deslocamentos, já que as pessoas fugiram das áreas de combate. As enchentes das monções no Paquistão provocaram 8,2 milhões de deslocados. Isso representa um quarto do deslocamento global por desastres em 2022.

De acordo com a diretora do Idmc, Alexandra Bilak, as crises de deslocamento de hoje estão crescendo em “escala, complexidade e escopo”. Ela disse que fatores como insegurança alimentar, mudança climática e conflitos crescentes e prolongados estão “adicionando novas camadas a esse fenômeno”.

Bilak acredita que mais recursos e pesquisas são essenciais para “ajudar a entender e responder melhor” as necessidades dos deslocados internos.

Situação dos deslocados agravada por insegurança alimentar

O deslocamento interno é um fenômeno global, mas quase três quartos dos deslocados internos do mundo vivem em apenas 10 países.

São eles: Síria, Afeganistão, República Democrática do Congo, Ucrânia, Colômbia, Etiópia, Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão.

Muitas dessas pessoas se encontram nessa condição devido a conflitos não resolvidos que continuaram a desencadear deslocamentos significativos em 2022.

Os dados apontam que conflitos, desastres e deslocamentos agravaram a escassez global de alimentos. A insegurança alimentar atinge de forma mais severa as pessoas deslocadas internas.

Mais de 182 milhões de pessoas enfrentaram níveis graves de insegurança alimentar desde o final de 2022. A maioria delas na República Democrática do Congo, Nigéria, Afeganistão, Etiópia e Iêmen.

Fonte: Organização das Nações Unidas

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