Coreia do Sul ganha espaço no mercado de filmes global ameaçando protagonismo dos EUA

De acordo com Luiz Augusto Duarte Dantas, o streaming abriu oportunidades para diversos países ascenderem internacionalmente no cinema, além do próprio investimento em mercado local

Coreia do Sul

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Em 2020, o filme sul-coreano Parasita ganhou quatro prêmios no Oscar, tornando-se a primeira produção não falada em inglês a vencer como Melhor Filme. Em 2021, a série Round 6, da Netflix, foi um sucesso no mundo inteiro, chamando a atenção de novo para a Coreia do Sul. Inclusive, esta série pode se tornar a primeira estrangeira a vencer o Emmy.  Enquanto isso, os Estados Unidos sempre exportou seus filmes para outros países e dificultou a entrada de filmes estrangeiros nas salas de cinema americanas.

O streaming como porta para mudança

O professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Luiz Augusto Duarte Dantas, explica que, com as plataformas de streaming atuais, fica mais fácil para uma produção de um pequeno país se tornar global:

“Viram que produzir um conteúdo focado na cultura local é importante para ganhar o próprio mercado. […] abriu um olhar distinto para essa questão da internacionalização”.

O protagonismo dos Estados Unidos parece estar “se rendendo” a produções vindas de fora. O mercado está mais fatiado e vários países podem ter seus momentos de luz internacionalmente, mesmo que as premiações americanas pareçam estar ainda engatinhando nesse processo.

Dantas espera ver mais culturas diferentes no audiovisual e não apenas a americana. “O que circulava muito era o cinema americano e de vez em quando filmes ingleses. O cinema francês ainda mantinha uma circulação maior, mas muito pequena comparada a esses. Hoje tem vários países e um movimento nesse sentido que é bacana”, opina ele. “Abre uma visão para o resto do mundo”, completa.

Ganhar o próprio país para ganhar o mundo

Mas a ascendência sul-coreana não se resume apenas ao streaming. Segundo o professor, ela é decorrente de uma política importante de investimento do governo e de parceria com o setor privado: “Ele [o mercado sul-coreano] vem crescendo e ganhando o mercado local. Essa expansão para o mundo inteiro virá depois de conseguirem ganhar uma fatia importante do próprio mercado”. Segundo ele, Parasita e Round 6 não são um acaso do audiovisual, e sim fruto de mais de 15 anos de produção local com aperfeiçoamento de roteiristas, técnicos, fotógrafos e formação de equipe.

E como fica o Brasil nesse cenário? Em 2016, a série 3%, da Netflix, fez muito sucesso também fora do País, alcançando, em 2017, o título de série de língua não inglesa mais assistida nos Estados Unidos; 3% também conseguiu grande audiência em países como Austrália, Canadá, França, entre outros.

Outra série brasileira de sucesso mundial foi Cidade Invisível, lançada pela Netflix em 2021. Mais de 40 países conheceram o folclore brasileiro e a obra foi logo confirmada para mais uma temporada.

Ainda assim, o Brasil está longe de ter um alcance tão grande como os Estados Unidos ou mesmo a Coreia do Sul, que estão com os holofotes voltados para a sua música, gastronomia e língua, além do cinema. Para Dantas, o governo brasileiro precisa justamente investir mais no mercado local para que o Brasil consiga um dia alcançar esses feitos e se manter como um grande País exportador de sua cultura.

“Depende de políticas de apoio e não estamos em uma situação fácil. A gente vê que o governo atual tem uma política anticultural”, enxerga.

O professor ainda pontua uma questão pertinente ao streaming, que são os mecanismos para garantir o direito autoral sob as obras brasileiras produzidas: “Quando você pensa a produção através da Agência Nacional do Cinema e as leis brasileiras de incentivo, elas estão sempre preocupadas em garantir a posse do direito autoral, e isso é uma coisa muito importante que temos que conseguir garantir, que é o direito do produtor independente em manter controle sobre a sua obra”.

De acordo com Dantas, no streaming é diferente porque ele quer o direito patrimonial sobre a obra para circular mundialmente. “O streaming é importante, as obras são legais e têm um ritmo mais rápido. Não queremos que o Brasil vire um simples prestador de serviços”, afirma.

Mais notícias: O Maringá

Por: Ana Paula Medeiros/Jornal Usp

 

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