A diretora de Operações e Defesa no Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários, Edem Wosornu, alertou o Conselho de Segurança nesta quarta-feira que indicativas apontam que nas próximas semanas e meses, 222 mil crianças podem morrer de desnutrição no Sudão.
O conflito no país, que em breve completa um ano, está causando uma crise alimentar que já atinge milhões de pessoas. Assim, a representante da ONU pediu uma cessação urgente dos combates para evitar que uma geração inteira seja destruída e a região mais ampla seja desestabilizada.
Pior desastre humanitário
Segundo Edem Wosornu, a violência resulta em saques e destruição generalizada de infraestrutura crítica, agricultores obrigados a abandonar suas terras agrícolas e os preços de commodities alimentares básicas elevados em 83%. Ela adiciona que, por todos os indicadores, “o Sudão é um dos piores desastres humanitários da memória recente”.
A diretora do Ocha afirmou que há relatos de covas coletivas, estupros, ataques indiscriminados em áreas densamente povoadas e “muitos outros horrores”. Ela acrescentou que o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos adverte que alguns atos podem ser considerados crimes de guerra. Em Cartum, Darfur e Cordofão não houve trégua dos intensos combates por 340 dias.
Acesso à ajuda humanitária
Apesar da necessidade de ajuda humanitária, ela relatou que não houve grandes avanços no terreno desde a adoção de uma resolução pelo Conselho pedindo acesso completo e sem restrições.
Para ela, no mínimo, os pontos de entrada identificados devem ser tornados operacionais o mais rápido possível, com as partes protegendo o pessoal e os suprimentos humanitários.
Lembrando que seu escritório fez oito relatórios ao Conselho desde o início do conflito, Edem Wosornu disse que não pode explicar em termos mais amplos a situação catastrófica ou “sublinhar mais a necessidade de ação do Conselho”.
Ecoando esse aviso, o diretor executivo adjunto do Programa Mundial de Alimentos, PMA, Carl Skau disse que em toda a região, quase 28 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar aguda, com 18 milhões no Sudão, 7 milhões no Sudão do Sul e quase 3 milhões no Chade.
O PMA tem trabalhado para atender às enormes necessidades humanitárias, com sua equipe arriscando sua própria segurança. No entanto, a operação de socorro de emergência é severamente prejudicada pela falta de acesso e recursos; 90% das pessoas na Fase 4 do IPC – a Classificação de Fase Integrada para medir a segurança alimentar – estão presas em áreas que são em grande parte inacessíveis para agências humanitárias.
Dificuldades de acesso agravam risco de fome
Segundo ele, os esforços para alcançar esses civis são desafiados pela violência implacável e interferência das partes do conflito. Embora reconheça o anúncio das autoridades que permitirá a retomada das entregas de ajuda transfronteiriça do Chade e abrirá um novo corredor do Sudão do Sul, Carl Skau pediu que outros cruzamentos de fronteira também sejam reabertos para levar ajuda à região de Darfur.
Ele expressou preocupação de que a fome aumente quando a estação magra do Sudão chegar em maio, com um alto risco de nível 5 do IPC ou insegurança alimentar catastrófica.
O representante do PMA também observou a pior crise de deslocamento do mundo, que dispersou mais de 8 milhões de pessoas internamente e através das fronteiras do Sudão. Quase 2 milhões de pessoas fugiram para países vizinhos para escapar da violência, colocando uma pressão crescente sobre o Chade e o Sudão do Sul.
No Sudão do Sul, devido à falta de fundos, 3 milhões de pessoas gravemente famintas não estão recebendo assistência do PMA, enquanto no Chade, será necessário encerrar todo o apoio aos 1,2 milhão de refugiados e aos quase 3 milhões de chadianos gravemente afetados pela fome. A “crise esquecida” requer soluções políticas para interromper os combates, e “estamos ficando sem tempo”, enfatizou.
Com Informações* ONU.