Múltiplas crises no Haiti têm feito agricultores buscarem alternativas para complementar a renda familiar. Segundo o Programa Mundial de Alimentos, PMA, a fome atingiu níveis recordes: 4,9 milhões de pessoas, ou quase metade da população, sofrem de insegurança alimentar aguda.
A Organização da Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, destaca histórias de pequenos produtores que vêm sofrendo com os efeitos da mudança climática no país.
Adaptação agrícola
Com temporadas de chuvas irregulares, o gerenciamento de água para irrigação das culturas fica comprometida. Para ajudar a buscar uma solução, a FAO está implementando o programa Fortalecimento da Adaptação Agrícola, com o financiamento do governo de Quebec, no Canadá.
A iniciativa ajuda os agricultores com um sistema de gotejamento usando barris de plástico, conhecidos como “tambores”. Os barris são colocados em local elevado e conectados a mangueiras ou canos que distribuem água nas lavouras.
Cada tambor contém 208 litros de água e os agricultores podem construí-los e mantê-los facilmente com recursos limitados. De acordo com a FAO, o sistema é um método simples e de baixo custo para irrigar pequenas áreas de plantação.
Treinamentos
No Haiti, a iniciativa trabalha com parceiros locais para ajudar os agricultores a se adaptarem às mudanças climáticas, eventos climáticos extremos e flutuações do mercado.
Em sessões de treinamento, os agricultores estão aprendendo como implementar técnicas integradas de gerenciamento de água e usar calendários de cultivo para que a produção possa continuar mesmo em temporadas de seca.
Eles também estão aprendendo abordagens práticas de negócios e marketing, como reunir recursos para comprar insumos e serviços agrícolas e realizar vendas em grupo de produtos colhidos.
Mulheres e jovens
O foco do programa em pequenos agricultores, com foco particular em mulheres e jovens, e as abordagens baseadas na comunidade no Haiti são cruciais não apenas para a segurança alimentar e meios de subsistência da população rural, mas também para a resiliência e sustentabilidade de todo o sistema agroalimentar no país.
A iniciativa existe desde 2018, ajudando as comunidades a desenvolver sua resiliência e capacidade de adaptação às mudanças climáticas no Haiti e no Senegal. Este ano, o projeto deve chegar também a Côte d’Ivoire ou Costa do Marfim.
Ação da ONU
A chefes do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, Catherine Russell, e do Programa Mundial de Alimentos, PMA, Cindy McCain, estiveram no Haiti no começo desta semana, para buscar apoio para os haitianos vítimas do cólera e de desastres naturais.
Segundo Cindy McCain, a crise de fome no Haiti “não é vista, não é ouvida e não é abordada”. Para ela, enquanto a violência e os choques climáticos ocupam as manchetes, pouco é falado sobre os 4,9 milhões de haitianos que passam fome.
A diretora executiva alerta que a proporção de haitianos per capta que enfrentam insegurança alimentar em nível de emergência é a segunda maior do mundo.
Já a líder do Unicef destaca que as necessidades humanitárias atuais são ainda maiores do que após o terremoto de 2010. Catherine Russell adiciona que 5,2 milhões de pessoas necessitam de apoio humanitário urgente, incluindo quase 3 milhões de crianças.
Russell e McCain se reuniram com o primeiro-ministro Ariel Henry e outros funcionários do governo. Elas ainda visitaram uma escola apoiada pelo Unicef e PMA.
Apoio internacional
Na última semana, a ONU realizou uma reunião especial para chamar a atenção para uma emergência no Haiti. Este ano, o apelo para apoiar os haitianos chega a US$ 719 milhões.
O valor é o maior solicitado desde o terremoto de 2010 e mais que o dobro do valor pedido em 2022. Até agora, apenas 22,6% do apelo foi entregue em meio à crise econômica, aos desastres naturais e ao declínio na produção agrícola, agravados pelo aumento da violência de gangues e bandidos no Haiti.
Fonte: Organização das Nações Unidas