Cinco incêndios florestais ativos nas províncias da Patagônia argentina já devastaram mais de 24.000 hectares de florestas, plantações, pastagens e áreas residenciais. A tragédia ambiental, que começou em 25 de dezembro de 2024, atingiu de forma mais intensa o parque nacional Nahuel Huapi, na província de Río Negro, consumindo 10,7 mil hectares até o momento. A área devastada é equivalente ao tamanho da cidade de Buenos Aires.
A Crise Climática e a Falta de Recursos
O coordenador da campanha de florestas da Greenpeace Argentina, Hernán Giardini, apontou a grave insuficiência de recursos como um dos principais obstáculos ao combate eficaz aos incêndios. Segundo Giardini, tanto o governo provincial quanto o nacional subestimaram a crise climática e não se prepararam adequadamente para enfrentar incêndios dessa magnitude. A falta de brigadistas e de infraestrutura adequada fez com que, em várias ocasiões, os brigadistas precisassem abandonar um foco de incêndio para combater outro, o que dificultou o controle da situação.
O chefe do Serviço de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (SPLIF) de Río Negro, Orlando Báez, confirmou a situação alarmante, afirmando que os esforços estão sendo concentrados nas áreas habitadas para evitar que os incêndios se espalhem para localidades como El Manso e El Bolsón. A preocupação é grande, pois, além da destruição ambiental, o fogo ameaça diretamente a vida de milhares de pessoas que vivem na região.
Destruição Ecológica e o Desafio da Recuperação
A magnitude dos incêndios na Patagônia argentina resultou em uma destruição ecológica sem precedentes. Giardini alertou que a recuperação das florestas nativas afetadas pelos incêndios demandará pelo menos 200 anos. Mesmo com os esforços de contenção, o fogo continuará a consumir as áreas afetadas até a chegada da temporada de chuvas, em março de 2025. A situação é agravada pelo fenômeno climático La Niña, que resfria as águas superficiais do oceano Pacífico e reduz a quantidade de chuvas na região, criando um ambiente mais propenso à propagação do fogo.
O Impacto da Falta de Fiscalização e da Introdução de Plantios Exóticos
Além da crise de incêndios, a Greenpeace também denunciou falhas na fiscalização da Lei de Florestas, que estabelece penalidades mínimas para empresas envolvidas no desmatamento ilegal. As multas e sanções atuais são vistas como insuficientes, o que permite que as empresas desmatem áreas com pouco custo. Giardini também alertou sobre o plantio de espécies exóticas, como os pinheiros não nativos, que são mais suscetíveis ao fogo devido à sua baixa umidade, agravando ainda mais a situação. As florestas nativas, por outro lado, possuem maior umidade e oferecem maior resistência ao fogo.
A Argentina e o Desmatamento Global
A Argentina tem se tornado um dos países mais afetados pelo desmatamento no mundo. Em 2024, o país registrou um aumento de 10% na taxa de desmatamento, com a destruição de 150 mil hectares de florestas nativas. O cenário evidencia a necessidade urgente de políticas públicas mais eficazes para combater o desmatamento e os incêndios florestais, além de fortalecer as estruturas de combate a incêndios e ampliar a fiscalização ambiental.
O incêndio em andamento na Patagônia é um exemplo claro dos efeitos da crise climática e da falta de uma resposta adequada, tanto no nível local quanto nacional, para proteger os ecossistemas e as comunidades afetadas.