As Nações Unidas alertam que o conflito no Sudão fez aumentar o espectro da violência étnica e de alegações de crimes contra a humanidade. Nesta quinta-feira, os confrontos entre o Exército e as Forças de Apoio Rápido, RSF, completam dois meses.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou profunda preocupação com a crescente dimensão étnica dos ataques. Ele disse estar triste com os relatos de violência em larga escala na área de Darfur, capital do país.
Milícias árabes e elementos uniformizados
O enviado especial da ONU, Volker Perthes, disse haver “um padrão emergente de ataques étnicos direcionados a civis supostamente cometidos por milícias árabes e alguns homens em uniforme das Forças Armadas Sudanesas”, na cidade de Al-Geneina, em Darfur Oriental.
Desde meados de abril, os confrontos entre as duas partes deixaram milhares de vítimas, entre mortos ou feridos, e deslocaram mais de 1 milhão de pessoas.
De acordo com as Nações Unidas, cerca de 9 milhões de sudaneses precisam urgentemente de ajuda humanitária e proteção em Darfur.
Guterres enfatiza a necessidade de se acabar com os assaltos e saques e alargar o acesso de auxílio a quem precisa.
Já a nota de Volker Perthes ressalta a escassez severa de alimentos nas comunidades e ainda a dificuldades de acesso a suprimentos médicos e movimento para além das áreas de conflito.
Alegações de violência sexual contra mulheres e meninas
Do terreno surgem ainda alegações de violência sexual contra mulheres e meninas, segundo o enviado.
Perthes condenou “nos termos mais fortes” todos os ataques a civis e à infraestrutura da população, independentemente dos autores.
Ele enfatizou que as forças de segurança e elementos armados não estatais “devem cumprir seu dever de respeitar o direito à vida e abster-se de ofensivas contra civis, sob o direito internacional humanitário”.
O representante destaca ainda que embora seja alentador que comunidades locais e as autoridades estaduais de algumas áreas tenham tomado medidas proativas para ajudar a baixar a escala e mediar os confrontos, “é importante garantir que todas as violações sejam documentadas e resguardadas para fins de responsabilização”.
Lentidão em encontrar soluções
Um novo relatório da Agência da ONU para Refugiados, Acnur, aponta a eclosão do conflito no Sudão como um dos fatores que fez disparar o total global de refugiados para cerca de 110 milhões até maio.
Para o alto comissário Filippo Grandi, observa-se uma rapidez no brotar de conflitos e grande lentidão em encontrar soluções. O resultado é a destruição, o deslocamento e a angústia para cada os milhões que abandonam à força suas casas.
No terreno, a agência da ONU fornece apoio a 1,7 mil famílias do estado do Nilo Azul. São pessoas que retornaram do Sudão do Sul e da Etiópia após a explosão do conflito que aumentou a necessidade de assistência urgente.
A Organização Internacional para Migrações, OIM, anunciou nesta quarta-feira a distribuição da segunda leva de auxílio no Sudão depois de terem começado os combates.
Fonte: Organização das Nações Unidas