O ex-assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, afirmou que a Ucrânia pode estar em maior desvantagem do que a Rússia na situação pós-conflito e que a linha de frente do combate pode se tornar uma nova fronteira entre os dois países. A declaração foi feita em entrevista ao canal japonês NHK, na qual Bolton analisou a possível abordagem do ex-presidente Donald Trump caso ele volte ao poder e negocie um acordo de paz para o conflito.
Trump e sua abordagem pessoal nas negociações
Segundo Bolton, Trump está genuinamente motivado pelo desejo de encerrar a guerra na Ucrânia e acredita que, se estivesse na presidência, o conflito nunca teria acontecido. O ex-assessor destacou que Trump dá grande importância à relação de confiança entre líderes e considera que os principais avanços diplomáticos ocorrem por meio de negociações diretas entre chefes de Estado.
“Trump pensa que tudo é decidido por meio de seu relacionamento com [o presidente russo Vladimir] Putin e o seu relacionamento com [o líder ucraniano Vladimir] Zelensky”, afirmou Bolton. Essa abordagem, baseada mais em interações pessoais do que em estratégias diplomáticas formais, pode ter impactos significativos no desfecho do conflito.
Além disso, Bolton ressaltou que Trump confia excessivamente em suas habilidades de negociação e acredita ser capaz de resolver impasses de forma rápida e eficiente. “Ele acredita que tem a técnica perfeita de estabelecer acordos e pode resolver tudo de uma só vez”, afirmou.
Possível desvantagem da Ucrânia em um acordo de paz
Bolton alertou que o método de Trump pode não ser benéfico para a Ucrânia. Segundo ele, há uma grande possibilidade de que o cessar-fogo seja alcançado primeiro, com as negociações de paz ocorrendo depois. Esse cenário poderia ser prejudicial para Kiev, pois, conforme enfatizou Bolton, “há uma probabilidade de a linha de frente se tornar a nova fronteira da Rússia e da Ucrânia”.
Isso significaria que a Ucrânia poderia ser forçada a aceitar a perda territorial dos territórios ocupados atualmente pela Rússia, consolidando o controle de Moscou sobre essas áreas. Se as negociações forem conduzidas com base na situação do campo de batalha no momento do cessar-fogo, a Ucrânia poderá sair prejudicada, sem conseguir recuperar partes do seu território.
O impacto da visão de Trump sobre a guerra na Ucrânia
As declarações de Bolton reforçam a preocupação de que Trump possa adotar uma posição mais favorável à Rússia ou pelo menos mais pragmática em relação às suas demandas territoriais. O ex-presidente americano já indicou, em diversas ocasiões, que considera a guerra na Ucrânia um problema europeu e que os Estados Unidos não deveriam arcar com o ônus do apoio militar e financeiro a Kiev.
Diante desse cenário, líderes europeus, como o presidente francês Emmanuel Macron, estão intensificando esforços diplomáticos para garantir que a União Europeia tenha um papel ativo nas futuras negociações de paz. A possibilidade de um novo mandato de Trump adiciona um grau de incerteza ao futuro do conflito, especialmente se sua abordagem privilegiar um acordo rápido em detrimento dos interesses ucranianos.
Enquanto isso, a Ucrânia continua buscando apoio militar e diplomático para manter suas posições no campo de batalha e garantir que um eventual acordo de paz não ocorra em termos desfavoráveis para o país. A incerteza sobre a política externa dos Estados Unidos nos próximos anos pode ser um fator decisivo no desfecho do conflito.