O presidente francês, Emmanuel Macron, viajará para Washington nesta segunda-feira (24) para se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O principal objetivo da visita é tentar persuadir Trump a incluir a União Europeia (UE) nas negociações de paz para a Ucrânia. Além disso, Macron levará a promessa de que o bloco europeu aumentará seus investimentos na defesa, uma das exigências do presidente americano.
Compromisso com a segurança europeia
Durante o voo para os Estados Unidos, Macron afirmou a jornalistas que está “comprometido” em garantir que a segurança dos europeus seja protegida nas futuras negociações sobre a guerra na Ucrânia. Ele destacou que, antes da viagem, conversou com diversos líderes europeus, incluindo o chanceler alemão Olaf Scholz, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. O objetivo, segundo Macron, foi alinhar uma posição comum da Europa em busca de uma paz justa e duradoura.
Pontos-chave da reunião com Trump
De acordo com a imprensa francesa, Macron tem três prioridades na reunião com Trump:
- Convencer os Estados Unidos a incluir a União Europeia nas negociações de paz na Ucrânia e considerar os interesses europeus no conflito.
- Discutir o aumento do investimento da UE na defesa, o que vai ao encontro das demandas de Trump. No entanto, Macron defende que esse aumento seja direcionado para a compra e produção de armas europeias, reduzindo a dependência dos Estados Unidos. Atualmente, segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), 55% das armas adquiridas pela UE entre 2019 e 2023 foram fornecidas pelos EUA.
- Levantar a questão das tarifas alfandegárias dos EUA sobre produtos europeus, defendendo que os aliados não devem prejudicar uns aos outros por meio de barreiras comerciais.
Antes da visita a Washington, Macron organizou duas cúpulas de emergência com líderes europeus para discutir a situação na Ucrânia. Algumas nações da União Europeia demonstraram divisão sobre a possibilidade de enviar um contingente de manutenção da paz para o país. França, Dinamarca e Reino Unido manifestaram apoio à iniciativa, enquanto Espanha, Polônia, Alemanha e Itália demonstraram resistência.
Desafios para a proposta europeia
Após a visita de Macron, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer também viajará a Washington, na quinta-feira (27), para conversar com Trump. Segundo o The Wall Street Journal, Starmer pode apresentar um plano conjunto com a França para o envio de tropas europeias à Ucrânia, caso Moscou e Kiev cheguem a um acordo de paz. A proposta prevê que os Estados Unidos tenham um papel de apoio, sem o envio de soldados americanos ao país.
No entanto, especialistas indicam que Trump pode não se mostrar receptivo às propostas de Macron. Romuald Siora, especialista em relações internacionais do Instituto Francês de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), afirmou à agência Sputnik que as visões dos dois líderes sobre a Ucrânia e as relações com a Rússia são “completamente diferentes”.
Dificuldades na opinião pública francesa
Uma pesquisa do jornal francês Le Figaro, divulgada na última semana, apontou que 83% dos franceses não acreditam que Macron conseguirá convencer Trump a incluir a União Europeia nas negociações sobre a Ucrânia. Para tentar reforçar o apoio da população francesa à ajuda militar ao governo ucraniano, o presidente francês realizou uma sessão de perguntas e respostas com internautas na última quinta-feira, onde reafirmou que a UE deve intensificar seu apoio militar a Kiev.
Macron garantiu que, por enquanto, a França não enviará tropas à Ucrânia, mas não descartou essa possibilidade no futuro, especialmente após um eventual acordo de paz. Segundo ele, um contingente ocidental poderia atuar como força de garantia para a segurança do país.
Resistência da Rússia ao envio de tropas estrangeiras
A Rússia já demonstrou forte oposição à possibilidade de um contingente de manutenção da paz na Ucrânia. O Serviço de Inteligência Externa da Rússia afirmou no ano passado que o Ocidente poderia enviar cerca de 100 mil soldados ao país para reforçar a capacidade militar ucraniana, o que seria visto como uma ocupação de fato.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que qualquer envio de forças de paz para a Ucrânia só pode ocorrer com o consentimento das partes envolvidas no conflito. Para o governo russo, é “prematuro” discutir a presença de tropas estrangeiras no território ucraniano.
Com a visita de Macron a Washington e o encontro de Starmer com Trump nos próximos dias, o cenário diplomático da guerra na Ucrânia continua incerto. A União Europeia busca maior protagonismo nas negociações, mas enfrenta desafios significativos para garantir sua influência na condução do conflito.