Uma história de mais de 40 anos de ensino no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) teve seu último ato em um curso da Prefeitura de Londrina. Esse é um breve resumo da rica trajetória de Alcides Gonçalves, professor de mecânica automotiva do Senai, aposentado em 2021. Seu Alcides, como é conhecido, foi responsável por conduzir a turma da Unidade Móvel de Mecânica, uma iniciativa firmada entre a Prefeitura de Londrina e o Senai de Londrina, por meio da Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda (SMTER). Durante o segundo semestre de 2021, a ação formou mais de 20 trabalhadores na área de mecânica.
O professor começou sua relação com a área e com o Senai ao mesmo tempo, em 1974, quando se tornou aluno da instituição. “Na minha família não havia mecânicos, mas sempre foi uma área que chamou minha atenção. Eu era curioso e queria muito aprender. Foi, então, que comecei no Senai como aluno e já tive a oportunidade de, junto as estudos, estagiar na Chevrolet. Foi como tudo começou!”, contou nostálgico.
Depois de quatro décadas na mecânica automotiva, o último curso que seu Alcides ministrou foi exatamente o primeiro que a Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda contratou junto ao Senai de Londrina. Para ele, essa coincidência foi muito significativa. “Foi minha última turma de alunos e a primeira da Prefeitura. Entre os alunos dela, encontrei um garoto que me contou que o pai dele foi meu aluno, há muitos anos, e que tem uma oficina mecânica ali no Jardim Bandeirantes até hoje com base no que aprendeu comigo. Isso é muito gratificante e me faz ver que a carreira na docência valeu muito a pena”, celebrou o professor.
Para o gerente regional de Educação e Negócios do Senai, Victor Cunha, o Senai cria uma atmosfera para que o professor se desenvolva e evolua, visto que seu método preza pela transversalidade de conteúdos e se baseia na metodologia CHAVE. A sigla carrega o Conhecer, ter Habilidade e a Atitude para fazer, somados aos Valores e a Ética. “Toda a transferência de conhecimento entre os professores e alunos do Senai são feitos com base nesse pilar. O Alcides é uma personificação de tudo isso. Somos muito gratos por tudo que ele fez por nós e temos a porta aberta, caso ele queira voltar para ministrar mais um curso”, convidou Cunha.
Sobre a história de vida – Mesmo após formado no Senai e estar trabalhando na área, Seu Alcides sempre visitava o Senai. Um dos professores que ele lembra com carinho é Wilson Munhoz. “Tive ótimos professores, até por isso nunca deixei de frequentar o Senai, seja para uma visita de bate-papo informal, ou para trocar experiências. A verdade é que sempre estive por lá. Até que, em 1985, recebi, com muito orgulho, o convite para ministrar aulas”, disse.
Com a felicidade pelo reconhecimento, veio a coragem para enfrentar o desafio de formar uma nova geração de profissionais. Isso porque, para ele, ser professor era um mundo novo e diferente da atuação como mecânico. “Para assumir a docência é preciso ter clareza para passar seu conhecimento e, também, o entendimento de que cada aluno recebe os ensinamentos de uma forma. Saber se adaptar para transmitir aos estudantes tudo que é preciso para que eles consigam compreender, ao máximo, o conteúdo, deve ser a principal motivação de um professor. Foi com esse pensamento que comecei a dar aulas”.
A empatia e o trato social com os alunos e colegas fez com que Alcides conseguisse grandes resultados nas aulas. Segundo ele, o professor precisa se colocar na mesma posição que o aluno e ter a humildade de entender as particularidades de cada ser humano. “O verdadeiro trabalho do docente está naquele aluno que tem dificuldade, não no que aprende com facilidade. Conseguir fazer com que todos aprendam e consigam levar isso para as suas vidas não é uma tarefa fácil, por isso o olhar humano sempre será muito importante para quem leciona”, explicou.
Avanços tecnológicos – Alcides contou também que, ao longo de quatro décadas, a mecânica automotiva evoluiu muito e que, para acompanhar as mudanças foi preciso estudo e aperfeiçoamento profissional. Um exemplo disso foi a chegada com força da tecnologia empregada na produção dos carros, o que requereu atualizações constantes, por meio de cursos, formações e capacitações.
Dentre esses desafios, Alcides lembra com carinho de quando aprendeu sobre a nova linha de veículos da Fiat, ao mesmo tempo em que ensinava os profissionais das concessionárias. A ele foi destinada a missão de formar os mecânicos de acordo com as novas diretrizes da linha Palio, veículo da montadora Fiat. “Antes, eu só conhecia o 147 e tive que estudar muito. A vivência de cada um dos alunos, nos veículos da montadora, era grande. Para passar os ensinamentos com propriedade, eu passava as madrugadas estudando cada detalhe. Mergulhei no material didático e tratei todos com muita parceria, assim aprendemos juntos e consegui entregar uma formação muito boa”, comemorou.
Além das informações técnicas e dos manuais de montagem e manutenção de motores, o mecânico automotivo sempre prezou pelo ensinamento de valores e princípios. Isso porque, para ele, consertar veículos é uma prática diária, que se aprende com o tempo. Mas, a ética, a honestidade e o respeito fazem o diferencial dos profissionais.
Família – Entre os mais de 4.000 alunos, que passaram pela sua sala de aula, um deles ficou marcado na memória. “Tive o prazer de ter meu filho, Daniel, como meu aluno no Senai. É muito gratificante vê-lo seguindo essa carreira e saber que fui um espelho. Hoje, ele está nos Estados Unidos fazendo sua vida na mecânica e já domina a linha de importados mais do que eu. Desde pequeno, ele e a irmã, Elizabeth, iam comigo ao Senai, para brincar, Vê-lo formado pela instituição onde passei 40 anos da minha vida e tendo sucesso na profissão é uma grande felicidade”, garantiu.
Além da companhia dos filhos, ele conta que a esposa Edna também foi primordial nessas quatro décadas. “Estive pelo Senai em Maringá e Apucarana, para depois me estabelecer em Londrina. Minha esposa me acompanhou em todas as etapas, cuidou com zelo e amor dos nossos filhos e foi compreensiva durante todas as horas que tive que me dedicar à profissão, para ser um professor de destaque. Sem ela ao meu lado, não seria possível contar essa história hoje”, agradeceu.
Fonte: Prefeitura de Londrina – Arquivo O Maringá