A escritora Mariana Salomão Carrara foi a grande vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura 2025 na categoria Melhor Romance do Ano. A obra A Árvore Mais Sozinha do Mundo, que mergulha na vida de uma família trabalhadora do interior do Rio Grande do Sul, conquistou o júri ao combinar sensibilidade, pesquisa intensa e uma narrativa construída a partir da perspectiva de objetos.
A autora, que já havia levado o prêmio anteriormente com o livro Não Fossem as Sílabas do Sábado, confessou surpresa ao vencer novamente. Segundo ela, não esperava repetir o feito tão cedo, o que tornou o anúncio ainda mais marcante.
O romance aborda temas delicados ligados à saúde mental no estado gaúcho, onde historicamente são registrados altos índices de depressão e suicídio. Mariana conta que a ideia para o livro surgiu após a leitura de uma reportagem sobre a relação entre intoxicação por agrotóxicos usados na plantação de tabaco e o agravamento de transtornos psicológicos. O impacto emocional desse conteúdo serviu de base para construir a trama.
Na narrativa, a família protagonista enfrenta os desafios do trabalho no cultivo do tabaco, setor de grande peso econômico na região. A rotina exaustiva, o endividamento crescente e os riscos da exposição a produtos químicos compõem o pano de fundo da história. Contudo, a grande originalidade da obra está no modo como essa realidade é apresentada: uma árvore, uma caminhonete, um espelho colonial e uma roupa de segurança funcionam como lentes narrativas, observando silenciosamente a vida dos personagens.
Para Mariana, essa escolha literária cria uma atmosfera de dúvida e estranhamento, ao mesmo tempo em que distancia a família do que acontece ao redor. A autora afirma que queria transmitir a sensação de que os objetos percebem mais do que as próprias pessoas, reforçando a alienação e a dureza da rotina rural.
A produção do livro envolveu uma extensa pesquisa, algo incomum nos projetos anteriores da escritora, que costumavam partir de experiências mais íntimas e emocionais. Desta vez, ela mergulhou em mestrados, reportagens, entrevistas e até vídeos publicados por jovens no TikTok para compreender melhor o universo que pretendia retratar. Embora tenha começado a desenvolver a ideia em 2019, o trabalho foi interrompido durante a pandemia e só retomado alguns anos depois.
Além de Mariana Salomão Carrara, o autor Marcílio França Castro também foi premiado no evento, vencendo na categoria Melhor Romance de Estreia do Ano de 2024 com a obra O Último dos Copistas. Cada ganhador receberá R$ 200 mil e será convidado a integrar a programação da 40ª Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que acontecerá no México em 2026.
Com Informações Agência Brasil