O solo autoral da atriz Juliana Birchal faz uma turnê em quatro teatros das cidades paranaenses – Maringá, Piraquara, Curitiba e Londrina, durante o primeiro trimestre de 2025. A montagem faz reflexões sobre o papel da mulher na sociedade ao questionar o conservadorismo patriarcal usando como metáfora o ciclo de vida das cigarras, além da inspiração na obra de Lewis Carroll: As aventuras de Alice no reino subterrâneo.
De quatro (04) a sete (07) de fevereiro de 2025, a atriz mineira, radicada em São Paulo, Juliana Birchal e sua equipe de produção fazem uma turnê no Estado do Paraná com a apresentação do solo autoral de teatro físico “Subterrânea: uma fábula grotesca”, passando por Maringá, Piraquara, Curitiba e Londrina, por meio da Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz. “Trazer o espetáculo para cidades paranaenses é uma oportunidade de compartilhar com um público inédito, o que com certeza vai acrescentar muito ao espetáculo, além da troca com artistas locais e colocar em pauta a violência de gênero, um tema urgente”, conta a atriz.
O projeto chega na cidade de Maringá e faz três apresentações gratuitas no Teatro Reviver Magó e ainda oferece também de forma gratuita a oficina formativa “Mascaramentos para a Criação Teatral” para artistas e estudantes, ministrada pela própria Juliana e pela provocadora cênica e produtora do solo, no dia cinco (05) de fevereiro, no Espaço Solagasta. Na sequência, a equipe segue estrada para apresentações na cidade de Piraquara e em seguida na capital Curitiba.
Por meio de uma fábula, o solo de Juliana Birchal, coloca em cena uma mulher-cigarra que, para se encaixar nos papeis sociais que lhe foram atribuídos, acaba revelando as contradições e violências deste sistema, sendo ao mesmo tempo vítima e algoz. “O espetáculo questiona a perpetuação de modelos sociais e valores morais provocando o público a refletir sobre o lugar das mulheres na sociedade”, enfatiza.
Na equipe criativa de “Subterrânea: uma fábula grotesca”, Juliana conta com a direção de Lenine Martins e utiliza a técnica teatral do mascaramento para viver a personagem, uma mulher-cigarra que levanta questionamentos sobre o patriarcado ao fazer uma analogia com o ciclo de vida do inseto que passa parte da vida debaixo da terra. “A correlação com a cigarra convida o público a refletir sobre as funções e papeis exercidos pela mulher na sociedade e o afloramento do conservadorismo na contemporaneidade que acaba por justificar erroneamente uma série de injustiças comumente aceitas”, revela a atriz.
Construção do espetáculo
Do ponto de vista da linguagem, a produção parte da investigação estética da atriz sobre corpos-máscaras para dar vida à mulher-cigarra e outros insetos que participam da narrativa. De acordo com Juliana, o ciclo de vida da cigarra dialoga com a ‘mulher de bem’ que está inserida no sistema de poder. “Trata-se de uma metáfora incrível com tudo o que eu me proponho a falar sobre o conservadorismo que sempre esteve aí e que emerge de uma forma muito violenta”, complementa.
A investigação também se associa à pesquisa de Mestrado desenvolvida por Juliana na ECA/USP intitulada “Da máscara à masquiagem: o mascaramento no Théâtre du Soleil, seguido de estudo de caso do espetáculo A Era de Ouro (1975)”, no qual analisa os mascaramentos adotados pelo Théâtre du Soleil, trupe francesa com a qual Juliana realizou residência artística entre 2014 e 2016.
No palco, o público pode acompanhar exatamente o ciclo de vida da cigarra, que pelo bem da espécie, repete o próprio sistema que a reprime, mantendo assim, a ordem natural das coisas, acreditando que a sobrevivência depende do cumprimento das obrigações que o próprio sistema impõe, quando se compara que a cigarra pode viver por até 17 anos debaixo da terra e ao sair cumpre sua última metamorfose. “É nesse momento que acasala, reproduz e morre”, completa Juliana.
Criação e Inspiração de Subterrânea
Juliana Birchal foi impactada pela leitura da consagrada obra de Lewis Carroll: As Aventuras de Alice no reino subterrâneo, escrita em 1865, mais conhecida como Alice no país das Maravilhas. Foi quando em 2019, convidou a atriz Mayara Dornas para montar um espetáculo a partir daquela narrativa. “Lembro de estar muito interessada nesse mergulho que a Alice faz no mundo subterrâneo e aí comecei a pesquisar a obra e ficar curiosa sobre o que era esse salto que ela dá, para esse lugar debaixo da terra, onde a lógica parece não ter lógica”, explica.
Outro ponto de partida para a montagem foi o isolamento social vivenciado durante a pandemia da COVID-19. Diante da situação alarmante e da pulsante vontade de se expressar, a atriz transformou sua casa numa sala de experimentos, que resultou neste solo autoral. Juliana conta que a ideia do subterrâneo já havia ultrapassado a história de Alice. “De repente tudo que estávamos vivendo social e politicamente no Brasil, além de um governo de extrema direita e discursos de ódio ganhando força, começou a me trazer forte impacto, que transformei em arte”, conta. Foi nesse momento que a ideia do subterrâneo ganhou força revelando como aquilo que estava escondido se tornou visível de forma avassaladora. “Se antigamente alguém tinha receio de falar algo que pudesse soar como intolerante ou preconceituoso, naquele momento as pessoas não o tinham mais e a justificativa era a liberdade de expressão”, destaca.
O espetáculo solo de Juliana Birchal, teve estreia nacional em junho de 2023, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium em Belo Horizonte (MG). No mesmo ano foi apresentado em Brasília (DF), durante o Festival Solos Férteis. Em 2024, chegou a São Paulo e Mato Grosso no Festival de Teatro da Amazônia Mato-Grossense em Alta Floresta.
SINOPSE
No formato de uma fábula grotesca, o solo aborda a trajetória de uma mulher-cigarra que, uma vez nascida cigarra, deve se conformar a cumprir o seu papel: acasalar, reproduzir e morrer. Pelo bem da espécie, a mulher-cigarra reproduz o próprio sistema que a reprime, mantendo assim, a ordem natural das coisas.
FICHA TÉCNICA
Concepção e atuação: Juliana Birchal
Direção: Lenine Martins
Dramaturgia: Juliana Birchal e Lenine Martins
Consultoria dramatúrgica: Si Toji
Provocação Cênica: Jossane Ferraz
Trilha sonora: Javier Galindo
Consultoria musical (violino): Vanille Goovaerts
Iluminação: Lucas Pradino
Cenografia, figurino e adereços: Laura Françozo
Maquiagem: Thaís Coimbra
Produção executiva: Juliana Birchal
Arte gráfica e identidade visual: Adriana Januário
SERVIÇO
MARINGÁ
Espetáculo – Subterrânea: uma fábula grotesca
Dias: 4, 6 e 7 de fevereiro
Horário: 20 horas
Local: Teatro Reviver Magó (Praça Todos os Santos s/n – Zona2)
Ingresso: Gratuito
Roda de conversa: 6 de fevereiro – após a apresentação
*Apresentação com LIBRAS: 6 de fevereiro
*Todas as apresentações contam visita tátil uma hora antes das sessões
Oficina – Mascaramentos para a Criação Teatral
Dia: 5 de fevereiro
Horário: das 9h às 12h – das 14h às 17h
Local: Espaço Solagasta (R. Prof. Itamar Orlando Soares, 181 – Zona 7)
Inscrições: inscrições através de link na bio do perfil do instagram @subterranea.fabula.grotesca
PIRAQUARA
Espetáculo – Subterrânea: uma fábula grotesca
Dias: 21 a 23 de fevereiro
Local: Teatro Municipal Heloína Ribeiro de Souza (Rua Vitório Scarante, 461 – Centro)
Horário: 19h e domingo às 18h
Ingresso: Gratuito
Roda de conversa: 22 de fevereiro – após a apresentação
*Apresentação com LIBRAS: 22 de fevereiro
*Todas as apresentações terão visita tátil uma hora antes das sessões
Oficina – Mascaramentos para a Criação Teatral
Dia: 24 de fevereiro
Horário: das 9h às 12h – das 14h às 17h
Local: Teatro Municipal Heloína Ribeiro de Souza (Rua Vitório Scarante, 461 – Centro)
Inscrições: inscrições através de link na bio do perfil do instagram @subterranea.fabula.grotesca
CURITIBA
Espetáculo – Subterrânea: uma fábula grotesca
Dias: 27 de fevereiro a 1 de março
Local: Espaço Obragem (Al. Júlia da Costa, 204 – São Francisco)
Horário: 20 horas
Ingresso: Gratuito
Roda de conversa: 28 de fevereiro – após a apresentação
*Apresentação com LIBRAS: 28 de fevereiro
*Todas as apresentações terão visita tátil uma hora antes das sessões
Oficina – Mascaramentos para a Criação Teatral
Dia: 26 de fevereiro
Horário: das 9h às 12h – das 14h às 17h
Local: Espaço Obragem (Al. Júlia da Costa, 204 – São Francisco)
Inscrições: inscrições através de link na bio do perfil do instagram @subterranea.fabula.grotesca
Informação adicional
Sobre Juliana Birchal
Atriz mineira radicada em São Paulo. Os seus trabalhos se concentram em torno do teatro físico e do teatro de máscaras. Sua formação passa pela Formação Básica de Palhaço dos Doutores da Alegria (2017), graduação em Teatro (licenciatura) pela Universidade Federal de Minas Gerais (2008-2013) e curso Profissionalizante em Teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica do Palácio das Artes (2008-2010). Em 2024, tornou-se Mestra em Artes Cênicas pela USP com pesquisa sobre mascaramentos no Théâtre du Soleil, trupe com a qual realizou residência artística entre 2014 e 2016.
Em 2023, estreou trabalho autoral envolvendo mascaramentos intitulado “Subterrânea: uma fábula grotesca” que já se apresentou em Belo Horizonte, Brasília (Festival Solos Férteis), São Paulo, Alta Floresta (Festival de Teatro da Amazônia Mato-Grossense) e recebeu a Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz 2023 para realizar turnê em cidades do Paraná. Em sua carreira como atriz, além da experiência com Ariane Mnouchkine (Théâtre du Soleil), participou de cursos e oficinas com Eugenio Barba e Julia Varley (Odin Teatret), Renato Ferracini (LUME Teatro), Tiche Vianna e Ésio Magalhães (Barracão Teatro), entre outros. No teatro, trabalhou com a Cia. Picnic (2019-2024), O Trem Cia. De Teatro (2020), Fernando Neves (2017), grupo Espanca! (2010) e Juliana Pautilla (2010).