O prédio que por décadas foi sede da 9ª Subdivisão Policial de Maringá e cadeia pública, na esquina das avenidas Paraná e Guaíra, na área central da cidade, começou a ser demolido neste sábado pelo governo do Estado. O imóvel foi a cadeia de Maringá por mais de 30 anos. O terreno de 800 metros quadrados será ocupado pelo quartel do 5º Grupamento do Corpo de Bombeiros Militar.
Construído em 1959, o prédio serviu como presídio regional, recebendo pessoas de uma vasta região e, após a Polícia Civil mudar-se para a Avenida Mandacaru, na Vila Progresso, o chamado Casarão Amarelo permaneceu longo tempo ocioso, foi ocupado um tempo pelo Detran e voltou a ficar ocioso. A prefeitura tinha intenção de ocupá-lo como sede do sistema de monitoramento da Guarda Civil Municipal, Guarda Patrimonial e Secretaria de Mobilidade Urbana, mas não conseguiu convencer o Estado.
Já houve iniciativa para se fazer o tombamento do prédio pelo Patrimônio Histórico e o que causa estranheza é o fato de a demolição acontecer sem que ninguém esperasse e em pleno fim de semana. Isto fez surgir comentários sobre tentativa de impedir que fossem investigadas as desconfianças que pessoas teriam sido cimentadas em paredes e piso do prédio.
Histórias apagadas
Desde sua construção, o prédio da Avenida Paraná foi sempre citado como ambiente em que todos os tipos de abusos teriam sido cometidos contra presos, inclusive para obter confissões, às vezes fazendo inocentes assumir a culpa para não apanhar mais.
O barbeiro João Gonçalo de Melo foi preso em 1964 por causa de uma briga com vizinhos e permaneceu 40 dias em uma cela, tempo que foi suficiente para que saísse completamente enlouquecido para o resto da vida.
Pai de seis filhos, “seu” João viveu assustado a vida inteira pelas coisas que testemunhou na cadeia. Segundo ele, durante as madrugadas se ouvia pancadas e gritos de desespero misturados a gargalhadas de policiais.
Não era segredo que o chamado Casarão Amarelo era ambiente de tortura, tanto que foi lá que aconteceu um dos mais rumorosos casos da crônica policial de Maringá: a morte do garoto Clodimar Pedrosa Lô, espancado até a morte por policiais, em novembro de 1967. O caso só veio à tona graças à coragem de um médico de Mandaguari, que denunciou que a morte foi resultado de tortura. Não fosse isso, o caso Clodimar seria só mais um comentário ‘sem fundamento’ como os gritos ouvidos pelo barbeiro João Gonçalo.
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