O aumento crescente da exploração sexual de crianças e adolescentes apontada pelos órgãos competentes acendeu a discussão sobre o assunto.
O tema é sensível, mas a conversa é necessária, sobretudo sobre dois aspectos, ambos na esteira da educação: informação e preconceito.
Sobre o primeiro aspecto, é importante lembrar que de acordo com a legislação brasileira, a prostituição é uma ocupação legal no país, desde que exercida a partir da escolha consciente de adultos que têm responsabilidade civil sobre seus corpos e atos. Além disso, deve ser exercida de forma autônoma, ou seja, sem agenciamento de terceiros.
Dessa forma, menores de 18 anos mesmo que aleguem estar por escolha própria nessa situação, serão sempre vítimas de exploração sexual, já que não possuem condições de avaliarem as implicações e consequências do envolvimento em situações de exploração sexual. Muitos desses menores estão na escola, ambiente propício para o debate e orientação.
O segundo aspecto que vem na outra ponta da questão é o preconceito: a prostituição é um tema que gera intensos debates e é cercado por preconceitos e estigmas, muitas vezes baseados em normas sociais e morais, o que leva a uma visão negativa e rotulada das pessoas que exercem essa profissão. Essa estigmatização ocasiona uma marginalização que resulta em violência, exclusão social, dificuldade de acesso a serviços básicos como saúde e educação, transtornos nas relações interpessoais, e problemas profissionais para além do segmento.
Mesmo sendo reconhecida como profissão desde 2002 pelo Ministério do Trabalho, a prostituição ainda carece de reconhecimento de direitos trabalhistas, o que acaba contribuindo para a perpetuação do preconceito. Muitas vezes, profissionais da área não têm acesso a proteção legal, o que os torna vulneráveis a abusos e exploração.
A criminalização da prostituição em algumas regiões do Brasil também agrava a situação, pois impede que essas pessoas busquem ajuda e proteção. E, nesse sentido, tudo fica mais difícil quando há crianças e adolescentes envolvidos.
Sendo assim, parece fundamental que além da promoção de discussões mais abertas sobre o tema, que desafiem preconceitos e busquem a compreensão das exploradas no segmento, é salutar que o assunto vá pra dentro da sala de aula, com o objetivo de orientação e alerta. Inclusive, muitas pessoas nem sabiam ao certo no que estavam entrando quando iniciaram na “vida”, sobretudo as mais jovens, que muitas vezes foram levadas pela conversa, pelo desespero ou pela falta de orientação.
O cinema como um forte aliado didático
Pensando ser a educação e a conscientização passos decisivos em direção à redução do estigma e da exploração, de modo a garantir que todos tenham seus direitos respeitados, o Projeto Vivi ouviu alguns profissionais do setor (homens e mulheres), com o intuito de produzir uma obra audiovisual, entendendo o cinema como um forte aliado didático.
O roteiro pretendeu um filme minimamente interessante do ponto de vista da diversão – na melhor acepção da palavra – e honesto ao recontar algumas das experiências ouvidas durante as entrevistas. Um projeto híbrido em sua forma e conteúdo. Um curta-metragem que traz em sua forma o procedimento do documentário sem abandonar a ficção. Proposta claramente referenciada no filme de Eduardo Coutinho, que marca o cinema contemporâneo no Brasil: “Jogo de Cena” (2007).

Homens e mulheres que vivem ou viveram da prostituição também comem, dormem, estudam, compram presentes para os amigos, visitam suas avós, leem, falam em celulares, usam carros de aplicativo ou transporte coletivo, dirigem seus próprios veículos, enfim, essas pessoas possuem histórias não apenas de cama, mas de família, de trabalho convencional, de diversão, de faculdade, de amizade, de desilusão amorosa.
Foram essas histórias que serviram de linha mestra para a ficção de Vivi. Os cenários, as locações para a gravação dos depoimentos interpretados pela atriz que dá vida à fictícia Vivi foram reais, pois são os palcos reais das histórias contadas, como num documentário não ficcional.
A Produção conta com elenco e produção locais. O Projeto Vivi foi produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo (Lei Federal n.0125/2022), por meio do Edital de Chamamento Público n.230/2023 – PMM. Proponente: Heloisa Raquel da Silva.