Autor homenageado da Semana Literária Sesc, Paulo Leminski tem obra múltipla

Crédito: Reprodução/Sesc

Escritor homenageado da 43ª edição da Semana Literária Sesc & Feira do Livro, Paulo Leminski (1944-1989) completaria 80 anos de vida no próximo dia 24 de agosto. Por isso, este mês é de homenagens a sua obra e vida.

“Neste ano voltamos nossos olhos para um dos grandes mestres da palavra: Paulo Leminski. Celebramos sua vida, sua obra e sua essência poética que continua a ecoar através do tempo. Em sua efeméride de 80 anos, rendemos homenagem à sua genialidade, à capacidade de transcender fronteiras e tocar o cerne da existência com sua poesia energética e autêntica”, destacam os curadores da Semana Literária.

Marcado pela produção poética, o autor homenageado, nascido em Curitiba, também enveredou por romance, novela, ensaio, conto, canção, tradução, crônica, biografia, jornalismo, reportagem, roteiros de HQs, redação de publicidade, programas de TV… ou seja, verdadeiro fazedor de cultura multimídia numa época em que não se usavam essas expressões.

Em vida, o “bandido que sabia latim” conseguiu se inscrever nos círculos literários do Paraná e do país, alcançando vendagens acima da média para seus livros de poesia e a gravação de canções por figuras como Caetano Veloso e Guilherme Arantes, além da parceria com bandas do porte da Blindagem e A Cor do Som. Mas sob o olhar torto de parte da crítica, principalmente após sua morte.

“Para horror dos seus detratores, Leminski desconstruiu o dito de que poeta bom é poeta morto. Cometeu o pecado de ser um poeta conhecido e reconhecido ainda em vida. Ele tinha 39 anos quando, em 1983, ‘Caprichos e relaxos’, que reuniu sua obra até aquele momento, vendeu cinco mil exemplares em vinte dias. Quinze mil em dois anos, em três edições sucessivas. Um fenômeno, no contexto do mercado livreiro brasileiro”, escreve o escritor, compositor e jornalista londrinense Rodrigo Garcia Lopes em “Roteiro literário Paulo Leminski” (2018), uma publicação da Biblioteca Pública do Paraná.

Convidado confirmado da Semana Literária para o Sesc Maringá, Lopes destaca ainda que “Toda poesia” (2013), que reúne a obra poética leminskiana lançada no formato de livro, virou fenômeno editorial, sendo responsável por colocar a poesia brasileira nas listas dos mais vendidos, desbancando best-sellers da época.

Capa do livro de Rodrigo Garcia Lopes sobre Leminski (Crédito: Reprodução)

Proximidade com o leitor comum
Segundo o londrinense, o fascínio pela poesia e obra do autor homenageado na Semana Literária Sesc vem de sua qualidade literária e do projeto de se aproximar do leitor comum, não se restringindo apenas ao olhar dos especialistas (críticos e seus pares). “[Leminski] Não escreveu uma poesia de dicionário, que não diz nada, fechada em si mesma. Enquanto poetas, seja por atitude burguesa ou por puro elitismo, acabam se distanciando do leitor, Leminski buscava o contato”, diz Lopes no livro.

Ao longo de “Roteiro literário Paulo Leminski”, o autor traça a trajetória de Leminski no mundo das letras e da comunicação, defendendo que não era apenas o “poeta do trocadilho”, como os críticos preguiçosos costumam apontar. Segundo Lopes, o curitibano tinha “altíssima voltagem poética” no ponto alto de sua produção, quando fez “pedras-de-toque da poesia brasileira” recente; meteoros, peças antológicas. Havia uma dicção própria, conforme o jornalista, marcada pelo rigor, concisão, ritmo e liberdade da linguagem.

“Verdadeiros poemas, seres de linguagem, nestas peças forma e conteúdo estão em perfeita simbiose. Poemas diretos, que enfeitiçam e mobilizam o leitor por inteiro: inteligência, emoção, sensibilidade, memória, cultura, intuição e o fino humor”, afirma Lopes, referindo-se a poemas listados em “Toda poesia”.

O jornalista admite que a produção leminskiana é desigual. Na verdade, o próprio Leminski falava abertamente sobre isso, explicando que ninguém faz obra-prima toda segunda-feira. O curitibano pagou pelo risco de escrever sempre, o tempo todo, expondo sua obra com acertos e erros. “O fato é que mesmo em seus ‘erros’ ou momentos médios, Leminski reserva sempre uma surpresa, uma centelha de inteligência”, escreve Lopes.

Rodrigo Garcia Lopes (crédito: Divulgação/Sophie Kandaouroff)

Obras
Segundo Rodrigo Garcia Lopes, a produção de Paulo Leminski é formada por oito livros de poemas: “Quarenta clics em Curitiba” (com fotos de Jack Pires, em 1976), “Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase” (1980), “Polonaises” (1980), “Caprichos e relaxos” (1983), “Distraídos venceremos” (1987); e os póstumos “La vie en close” (1991), “Winterverno” (1994) e “O ex-estranho” (1996).

Já em prosa e ficção, escreveu dois romances: “Catatau” (1975) e “Agora é que são elas” (1984). Além de uma novela infantojuvenil, “Guerra dentro da gente” (1988); e um livro de contos, “Gozo fabuloso” (2004, póstumo).

Leminski também foi tradutor no Brasil de autores como John Fante, Lawrence Ferlinghetti, Petrônio, John Lennon, Samuel Beckett, James Joyce, Yukio Mishima, entre outros.

Na produção leminskiana, há três livros de ensaios: “Anseios crípticos” (1986), “Ensaios e anseios crípticos” (1997) e “Anseios crípticos 3” (2001); quatro ensaios-biografias, sobre Bashô, Cruz e Sousa, Jesus e Trótski. E mais canções, caso de “Verdura”, “Mudança de Estação”, “Valeu”, só para ficar em alguns exemplos.

Obra que reúne os livros de poesia de Leminski (Crédito: Reprodução)

Sesc Maringá
Em Maringá, a Semana Literária Sesc de 2024 terá o espetáculo “Poetizando Paulo Leminski”, com Santa Rita Produções Teatrais (Maringá). Será na próxima quinta-feira, 8 de agosto, das 15h às 16h. Trata-se de leitura dramática e perfomática das prosas e poesias de Leminski.

A Santa Rita Produções Teatrais surge em 2013, é uma cia de teatro e produções artísticas especializada em campanhas teatro-educativas, montagem de espetáculos, produções de arte e cultura, cinema, música e performance artístico-teatrais atuando em Maringá e em toda a região.

A programação da Semana Literária também reserva bate-papo com os escritores Ademir Assunção, Rodrigo Garcia Lopes e Jr. Bellé em torno do tema “Leminski 80 anos”. Será no próximo sábado, 10 de agosto, das 15h às 16h. Público a partir dos 16 anos.

E mais o show “Quem faz amor faz barulho”, com Bruna Lucchesi. É homenagem a Leminski, no sábado, 10, das 19h às 20h. Curitibana radicada em São Paulo, Bruna Lucchesi reúne a obra musical deixada pelo seu conterrâneo Leminski.

Essas e outras atrações vão ocorrer durante o evento, com entrada gratuita, no Sesc Maringá (na Av. Duque de Caxias, 1.517 – Zona 7), que começa na quarta-feira, 7. Junto com a Cidade Canção, outras 26 cidades paranaenses têm programação simultânea de 7 a 11 de agosto.

Para saber mais detalhes e atrações, confira o site do evento
e a matéria Sesc Maringá recebe semana dedicada à literatura e a Paulo Leminski em agosto

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