Excursionando pelo Sul do Brasil, Chau do Pife e Andréa Laís levam sua sonoridade alagoana ao público por meio do Sonora Brasil, projeto do Sesc que, no biênio 2024-2025, traz shows inéditos, criados a partir da mistura de diferentes ritmos e vivências de artistas de diversas gerações, sob o tema “Encontros, tempos e territórios”.
Do início da viagem no Estado do Rio Grande do Sul, a dupla chegou até Maringá na noite desta segunda-feira, 11 de novembro. O experiente instrumentista Chau e a jovem cantora/compositora Andreá fizeram a alegria do público maringaense que compareceu ao teatro da unidade do Sesc para o 21º show de sua turnê ao lado de Cassius Cardozo (direção musical, programação, flauta, apito, triângulo, cordas etc.) e Irineu Nicácio (sanfona).
“A gente está tendo uma experiência intensa de Brasil. Mas está sendo muito especial e o Sul nos recebeu muito bem e Maringá é uma cidade apaixonante”, diz Andréa, em conversa com a reportagem, após o show arrebatador na Cidade Canção. Para ela, a plateia sulista surpreendeu com presença e muito acolhimento. “A gente está saindo daqui querendo voltar”.
Nesse sentido, Chau observa que a cada localidade, o projeto do Sesc oferece aspectos diferentes, em termos de público e diversidade. “Todos animados. Mas o certo mesmo é que o Sonora Brasil une esse povo todo e onde a gente chega, é bem chegado”, diz, no alto de sua experiência de mestre e Patrimônio Vivo da Cultura Alagoana desde 2012.
Encontro musical
O primeiro encontro aconteceu em 2012, quando Chau do Pife fez uma participação especial no show “Sincopando Jacinto Silva”, de Andréa Laís. Ali nasceu uma bela amizade, que despertou o desejo de colaborarem novamente.
Desde então, esse projeto foi regado, enquanto ambos celebravam o crescimento artístico um do outro: Mestre Chau foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas e Andréa Laís consolidou-se como uma das artistas mais celebradas da nova geração da música alagoana.
Agora, o reencontro dos dois dá vida a um espetáculo que combina tradição e inovação, capturando o percurso da música alagoana, de Chau a Andréa.
Segundo Chau, sua parceira e amiga é muito sábia em música. “Eu solto um pife e nós saímos juntando as coisas boas, unindo. A gente não é só amigo em cima do palco, é fora, no dia a dia. É uma filha que eu tenho”.
Já Andréa avalia que os dois conversam a mesma língua, mesmo estando em gerações distantes. “É importante dizer que o Chau é um representante da tradição, mas ele é um artista desse tempo”, explicando que seu parceiro toca o pife em qualquer estilo musical, sem restrição. Inclusive, o experiente instrumentista vai tocar com um grupo maracatu nesta semana no Festival Carambola, principal evento de música, artes e formação de Alagoas.
“O tempero musical tem de cada pessoa uma pimenta do reino, uma cebola, um tomate, um pimentão… e o tempero todo é a panela do Brasil. A fumaça e a gente sente o cheiro”, complementa Chau, fazendo a analogia que arrancou risos.
Lançamento
Nesta segunda-feira, o single “Chão do Chau” do Mestre Chau do Pife chegou às plataformas digitais, com direito a clipe. “Para quem se viu no passado tocando e gravando CD, é uma surpresa muito grande”.
Por sua vez, Andréa tem aproveitado os shows do giro do Sonora Brasil para apresentar material autoral do álbum “Presença”. Ela tem se emocionado com a reação do público. “É o primeiro trabalho meu enquanto compositora. Então, ser acolhida por públicos que não me acompanham, tem sido momentos de consagrar, aquele empurrão de coragem de dizer: ‘vai lá, menina, se joga’. E eu quero fazer arte”.
“Presença” é o seu disco em que mistura ritmos regionais do Nordeste com ritmos brasileiros e batidas eletrônicas.
Pife
Conhecido por tocar pife (ou pífaro), um tipo de flauta popular, em formato de cilindro, encontrada em diversos materiais como bambu, taboca, taquara, ferro, alumínio. Mas Chau não gosta que digam que é “flauta”, pois seu instrumento é bem diferente, com sete furos. Ele conheceu o pife no meio da roça, sentado na pedra quando tinha oito anos de vida.
“Mas hoje eu tenho um pouco mais de conhecimento. Aprendi o pife um pouco e aprendi a andar no mundo. Saí de casa com 12 anos de vida. Mas o pife é o amigo que tenho”, dizendo que não se separam. Só quando morrer. “Se não tiver o pife perto de mim, falta alguma coisa em mim”.
Inclusive, é um instrumento complicado de entender, avalia o músico. Em Alagoas, Mestre Gama é conhecido por fabricá-lo. “Não é só pegar um pife e tocar. É entender que pife você está na mão. E não é para qualquer tocador”, resume Chau.