O Conselho atua na fiscalização e promoção de políticas públicas voltadas para a população negra, indígena e cigana. Mãe Gi fala daimportância dos trabalhos de conscientização dentro das escolas e da expectativa de a cidade ser contemplada pelo Fundo Nacional de Igualdade Racial.
Ser negro no Brasil é um desafio diário. De acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos, o país registrou mais de 3,4 mil denúncias de violações de cunho racial somente em 2024. Desde 2023, são quase 180 mil processos por racismo registrados na esfera criminal. Além disso, conforme a versão mais atualizada do Atlas da Violência, publicado em maio de 2025, uma pessoa negra tem quase 3x mais chances de ser vítima de homicídio do que uma não negra.
A urgência de políticas públicas voltadas para este grupo fez surgir, nos últimos anos, entidades dedicadas a fomentar este debate, e Maringá não ficou para trás. Atuando desde 2014, o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial é o órgão responsável por promover e fiscalizar políticas públicas voltadas para a população negra, índigena, cigana e outros grupos minoritários que vivem na cidade. Composto por 24 membros, entre representantes da sociedade civil e da administração municipal, o grupo vem consolidando sua atuação nos últimos anos e vive a expectativa de ter, nos próximos meses, acesso ao Fundo Nacional de Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial (FNREPIR).
A iniciativa, proposta pelo Governo Federal e já aprovada nas Comissões da Câmara dos Deputados, deverá destinar até R$ 20 bilhões, de forma escalonada para financiar políticas públicas e projetos de promoção cultural, social e econômica para pretos e pardos em todo o país.
Maringá ser contemplada com o projeto só foi possível graças a consolidação da atuação do Conselho na cidade. Atual presidente do grupo, Gislaine Gonçalves, a ‘Mãe Gi’, falou sobre como o trabalho é realizado.

Formada em Educação Física, mestre em Educação Ética e Racial e Doutora e Educação, a profissional atua como Mãe de Santo em Maringá há mais de 15 anos e utiliza de sua experiência para inserir nas pautas a atenção com as religiões de matriz africana. De acordo com ela, um dos focos de atuação do Conselho de Igualdade Racial tem sido nos trabalhos de educação e conscientização contra o preconceito racial, ainda muito presente nas escolas.
“A escola tem sido um grande chão de trabalho, porque nós recebemos muitas denúncias referentes a preconceito, a intolerância religiosa, e é onde a gente acaba fazendo uma frente de formação e informação, que isso é muito importante também para o Conselho. Neste contexto, como sou professora, vejo a educação e a conscientização como dois de nossos pilares fundamentais”, explicou Mãe Gi.
O trabalho de conscientização vai além do contato direto com os alunos. Outras instâncias sociais, como a Guarda Municipal, também já receberam treinamentos sobre como atuar levando em conta as demandas raciais.
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“A gente vem ao encontro das relações de lidar com o que vem ocorrendo na cidade, que é a questão racial, de preconceito tanto religioso, como também de raça, a qual a gente também é professora. Muitas vezes nós somos chamados para podermos ir fazer uma fala, organizar um evento, fazer também a possibilidade de a gente poder discutir políticas sociais dentro das escolas. Nós fizemos também uma qualificação junto com a Guarda Municipal. Então, a gente busca sempre favorecer que a sociedade possa compreender o que é o preconceito, o que é a religião, para que a gente possa lutar e também informar”, descreveu.
Conquistas e atual estruturação do Conselho
De acordo com Mãe Gi, a atual estrutura do Conselho de Igualdade Racial de Maringá teve consideráveis avanços nos últimos anos. Com o Fundo Nacional, será a primeira vez que o grupo de trabalho terá recursos próprios para subsidiar suas atividades.
“Nós conseguimos, nesse tempo de trabalho junto a todo o grupo, trazer nosso Conselho para estar ligado ao Conselho Estadual, ao Conselho Nacional, e hoje nós temos o Conselho totalmente estruturado dentro do Ministério da Igualdade Racial, a qual a gente consegue ter hoje uma política pública que vem a nível nacional para todos os conceitos que estão realmente institucionalizados, com toda a sua estrutura organizada e tendo estatuto, tendo o Regimento Interno. O Fundo nos permitirá termos assessorias, vamos ter bens imóveis, já conseguimos alguns recursos importantes, como computadores para a gerência de Igualdade Racial e um veículo para auxiliar na busca e na auxiliação da relação étnico-racial em nossa cidade”, finalizou.








