As bancas de jornal compõem a paisagem urbana de Maringá, sendo lugares de informação, entretenimento e convívio social. Por isso, neste Dia do Jornaleiro, comemorado no sábado, 30, é ainda mais emblemático visitar esses espaços tradicionais na Cidade Canção.
Considerada a banca mais antiga em atividade em Maringá, a do Massao foi adquirida em 1965 pelo seu fundador, Massao Tsukada. O estabelecimento se chamava no início “Banca Central” e foi comprado do então proprietário Nicolau, no ano de 1957. Nicolau tinha a banca, mas trabalhava precariamente na época e estava com interesse de vender o ponto.
Foi então que amigos do pai de Massao, Toshinori Tsukada, fizeram uma vaquinha para ajudá-lo a adquirir a banca, após Tsukada ter precisado fazer um tratamento de saúde. Desde então, a Banca do Massao no centro da cidade segue firme no seu objetivo de propiciar informação, cultura e entretenimento às pessoas.
O jornaleiro Hiroshi Tsukada, irmão de Massao, é quem toma conta da banca hoje em dia, juntamente com sua esposa que é consultora de produtos cosméticos, ajudando a diversificar o estabelecimento com outros produtos. Hiroshi explica que nas duas primeiras décadas de funcionamento, revistas e jornais vendiam muito bem. “A venda era tão boa que sustentava até duas famílias, se precisasse, hoje não”.
Com o passar dos anos, as vendas de jornais e revistas foram diminuindo. Assim, a família foi modificando a estrutura da banca. “Uma década para cá que sentimos a queda significativa nas vendas de jornais e revistas. Aí começamos a vender bebidas e outros produtos”, completa o jornaleiro.
Nos anos de 1960, havia poucas bancas em Maringá (em torno de seis). O fundador da Banca do Massao, Massao Tsukada, explica que o intuito era iniciar uma atividade por um período e depois ir por outro caminho, mas devido à grande adesão da população na época, a banca cresceu de forma espetacular. “O tempo nos mostrou de forma muito diferente. Aquele período tinha uma centena de publicações importantes e que fazia com que esse seguimento de jornais impressos tivesse um crescimento muito grande”.
Com o tempo e no auge dos anos de 1990, o número de bancas chegou a centenas na Cidade Canção.
Ladaíde
Ladaíde Aparecida Faglioni tem 66 anos e é jornaleira há mais de 50, quando iniciou na profissão com 13 anos de idade na banca do seu irmão em São Jorge do Ivaí (48 km de Maringá). Mais tarde, Ladaíde se casou com Robes Pierre, hoje seu ex-marido, que deu origem à Banca do Robes há 41 anos em Maringá.
Para ela, a importância da banca vai além da venda de jornais e outros produtos. “Tem cultura, amizade, conhecimento, tem alegria porque a revista, o gibi ou o jornal sempre traz coisas boas, um aprendizado”.
Dona Ladaíde explicita o sentimento de ser jornaleira há tanto tempo. “Orgulho de ser jornaleira e levantar todo dia, vir para cá feliz, atender meus clientes, adoro, não troco por nada no mundo”. Pessoas da cidade, da região, de fora do país, seja anônima ou famosa já passaram pela banca ao longo dos anos, todas especiais segundo a jornaleira. Ela destaca uma pessoa que é seu amigo e frequenta a banca até hoje. O senador Sérgio Moro, assim como a mãe dele, são clientes de dona Ladaíde na Banca do Robes. “Se ele vem para Maringá, ele vem na banca. Ele comprava gibi e jornal que a mãe dele lia e ele lia também, então é uma coisa que marcou muito”.
Tazima
A Banca do Tazima, uma das mais tradicionais da cidade há cinco décadas, também resiste ao tempo e continua sua contribuição para os leitores e clientes. A proprietária, Tereza Tazima, conta que seu marido Tazima (que deu origem ao nome da banca) comprou para o pai dele nos anos de 1960, quando ainda era solteiro.
A partir de 1983, o casal assumiu o negócio e até hoje ela permanece firme na profissão. Tereza salienta como era a banca no início. “Quando comecei a trabalhar só tinha banca de revista, não tinha internet. Os estudantes das escolas vinham fazer pesquisas na banca. Fico muito feliz em ter clientes de muitos anos. Os pais e avós vem comprar figurinhas, gibis para os filhos e netos. Fico muito contente”.
Assim como nas demais bancas da cidade existem muitos clientes e além disso, amizades construídas ao longo de tanto tempo. “Eu tenho bastante cliente de fora, que mudou e telefona para a gente guardar os jornais, revistas, coleções. Os vovozinhos gostam de caça palavras e dizem que a cabeça fica boa”, enaltece com alegria a jornaleira.
Getúlio
Quem passa pela avenida Getúlio Vargas, no Centro, tem parada obrigatória na famosa Banca do Getúlio, que é administrada por Devanir Massami há cerca de cinco anos; antes, ele teve comércio do mesmo tipo na Néo Alves Martins por pouco mais de uma década. Massami conta que trabalha há 18 anos nesse ramo jornaleiro.
Segundo ele, tudo começou quando retornou ao Brasil um tempo atrás e, naquele momento, não sabia que rumo seguir. “E eu estava vendo que a banca não era tão difícil de lidar, para quem não tinha tanto conhecimento”, dizendo que acabou optando pelo ramo de jornaleiro e acabou se acostumando com a área. Mas penou um pouco no início, aprendendo até pegar o jeito. “E estou aqui até hoje”.
Sobre o cenário atual, Massami diz que ainda tem leitores que procuram pelo material impresso. “Graças a eles, a gente tem de agradecer porque a gente está sobrevivendo por causa deles”, constatando que houve uma redução na venda de jornais, revistas e gibis. A queda do poder aquisitivo e a internet são fatores de influência, avalia.
Público
Durante a visita às bancas, a reportagem constatou que muitas pessoas ainda permanecem com a cultura de frequentar os locais para adquirir revistas, jornais e outros produtos nesses espaços. Apesar das mais variadas formas de sermos informados via internet, existem, e muito, ainda a busca pela matéria em mãos e clientes de dez, vinte, sessenta anos assíduos das bancas espalhadas por Maringá.
Esses relatos de jornaleiros e jornaleiras são uma pequena amostra das bancas que operam no Centro de Maringá.
****Colaboração: Cristiano Martinez e Pamela Maria
Entrevista em vídeo com dois jornaleiros da matéria: