Recebemos em nosso estúdio o corredor maringaense Renan Gallina e seu pai, Edvaldo Gallina para conversarmos sobre a grandiosa experiência que foi disputar a Olimpíada de Paris.
Vamos saber bastidores, momentos na Vila Olímpica, primeiro pisar na pista dos Jogos, além de toda a torcida dos pais nas arquibancadas do Stade de France com 80 mil expectadores.
Assista entrevista completa no YOUTUBE: @omaringa
Leia entrevista na íntegra com Gallina:
Pergunta: Como foi para você, desde a chegada na Vila Olímpica, o ambiente e para suportar a ansiedade nos dias que antecederam a estreia?
Resposta: “É bem complicado expressar essas emoções porque realmente a estreia no maior palco do mundo ‘Jogos Olímpicos’, com 20 anos eu não imaginaria isso. Há alguns anos atrás e pisar no estádio, na Vila Olímpica é tudo um sentimento diferente, passa um filme, mas também tem toda a questão de ‘pô’, e agora o que eu vou fazer? Vou aproveitar, vou ver isso, vou me concentrar na minha prova, realmente é uma outra pegada, um outro clima, muda totalmente e chegar no estádio e ver lotado foi muito diferente do que já tinha vivenciado. Não tinha um espaço vazio, sinceramente bizarro. Se tinha francês na prova o estádio vinha abaixo, a gente correu o revezamento 4x100m na bateria dos franceses, o que era aquilo, o estádio todo aplaudindo, gritando. Então realmente muda muito o clima da competição”.
Pergunta: A prova em si, você chegou a fazer um aquecimento, quanto tempo teve de preparação a corrida para a semifinal?
Resposta: “Antes de ir para Paris a gente ficou um tempo em Portugal, treinando para se adaptar ao fuso horário e depois a gente foi pra Paris. A minha prova era dia 5 [de agosto] e eu cheguei dia 29 [de julho] então eu tive um bom tempo, ainda treinei algumas vezes, não só individual, mas também com o revezamento, até porque depois da minha prova já tinha logo em seguida o revezamento. Aí no dia da prova tem todo um aquecimento, em torno de 40 minutos até porque lá estava muito quente. Eles liberam pra treinar na pista, mas é só um período curto, um dia anterior ao início das provas. Tinha também o pessoal que fazia o teste, saída de bloco, realmente com o tiro de largada do jeito que acontece na prova oficial que é um árbitro de prova que ele vai apitar e fazer todo o ritual que a gente tem que é ‘as suas marcas’, ‘prontos’ e o tiro de largada, isso tudo em inglês”.
Pergunta: Gallina, você notou alguma diferença na pista de Maringá onde você treina para as pistas da Europa e como foi para se adaptar?
Resposta: “Sim. As pistas principalmente na Europa são bem mais preparadas pra isso. Tem uma pista realmente muito mais tecnológica, muito mais confortável. Ela te impulsiona mais. Aqui tem muitas pistas boas, mas como aquelas não tem comparação, infelizmente. Tem toda uma situação pra adaptar, porque ela responde mais, conforme você pisa ela dá uma empurrada a mais do que as pistas aqui. Tem que adaptar isso porque não é sempre força, as vezes lá tem um jeitinho melhor. Questão técnica, biomecânica, tem muita diferença”.
Pergunta: Como é o seu ritual para se concentrar na prova?
Resposta: “Eu gosto muito de conversar, fazer umas brincadeiras, porque isso me distrai um pouco do clima nervoso, mas claro que isso dentro do meu jeitinho. Não me desconcentra e me alivia um pouco essa sensação de nervosismo e ansiedade. Por mais que entrando na prova o coração dá uma batida mais forte, mas sempre respirar fundo e acalmar e alegria, trazer o carisma, isso tudo também me dá uma aliviada, dá uma segurança para correr. Isso pra mim é um ritual importante, por isso eu geralmente tento ser mais alegre, ser mais feliz, mostrar isso que é uma coisa que me anima e acalma. Quando tô mais nervoso, fico mais fechado parece que não desenvolve”.
Pergunta: São segundos quando você vai se preparar para se colocar na posição e fazer a largada, mas pra você deve demorar uma eternidade naquele momento. No que você pensa?
Resposta: “Aquele momento é uma eternidade. Aí que começa a bater mais forte. Você fica pensando é agora. Eu vou falar o que eu penso as vezes na largada. ‘Não queima, por favor não queima, agora não. Meu maior medo sempre foi queimar e isso é o que mais martela na minha cabeça, tipo, eu não posso queimar, mas depende muito da competição. Por exemplo, tem nível mundial ok, agora quando é estadual eu fico mais tranquilo em relação a queimada, aí eu penso em outras coisas. Durante a preparação tem alguns olhares, o pessoal dá uns gritos pra tentar dar uma desestabilizada no oponente e se você dá uma desestabilizada no seu oponente mesmo que seja de leve, sente. Eu lembro claramente do Panamericano quando eu estava na prova aquecendo, eu olhei para o pessoal, todo mundo com o olhar mais apreensivo, tenso, eu falei, agora é minha hora, porque eu sabia que estava todo mundo tenso, eu sabia o que eu podia fazer, o que eu tinha de melhor e conquistar alguma coisa grandiosa, e foi o que aconteceu. Eu já levei isso como experiência para os Jogos Olímpicos e realmente acontece, muita zebra acontecem e os melhores do mundo também sentem a pressão. Se você tiver algum probleminha, acabou. Por exemplo, no mundial do ano passado eu competi com um canadense, ele foi para a repescagem e eu passei direto para a semifinal. Pra você ver que o mental, o ano, o dia da prova, tudo muda”.