Em meio século de existência, o lago do Parque do Ingá faz parte da história de milhares de maringaenses e de gente de qualquer lugar do mundo que um dia visitou Maringá
Dentro de duas semanas o Parque do Ingá completa 50 anos, em situação bastante diferente da Catedral de Nossa Senhora da Glória, que também completa meio século em mais alguns meses. Por décadas os dois rivalizaram como o mais amado cartão postal de Maringá, separados por uns poucos quarteirões. Enquanto o Jubileu de Ouro da catedral comemora um ícone com vigor para reinar por muitos jubileus, o parque que conserva uma parte do que foi a Mata Atlântica, tem um jubileu pedindo socorro. Para quem o conheceu no vigor dos primeiros anos, não há motivos para comemorar e sim para chorar.
O Parque do Ingá precisa de intervenções em diversas áreas, a começar pela cobertura vegetal, mas o que carece medidas urgentes é o lago, que hoje ocupa uma área que é metade do que foi no início.

O lago artificial foi a maior e principal obra na implantação do Parque do Ingá, no final da década de 1960 e início da de 1970. Tratores, retroescavadeiras, caminhões e homens alargaram uma clareira que existia no centro do até então chamado Bosque 1, onde estavam as nascentes do Córrego Moscados, e já no projeto foram previstas as ilhas dos Macacos e das Garças.

Demorou mais de um ano para que o então maior lago artificial do Paraná enchesse, mas, depois de ponto correspondia a quase metade de toda a área do parque e foi em torno dele que tudo o mais foi construído, como pista de caminhada, zoológico e os vários ambientes para crianças e adultos, inclusive uma área para camping.
E foi o lago que fez do Parque do Ingá o cartão postal de Maringá. Era ele que garantia as belas fotos para se guardar para o resto da vida, os cartões postais que percorreram o mundo via correios, famílias vinham de todos os cantos do Paraná, excursões chegavam de longe e não era para simplesmente ver as belezas do parque e sim para passar o dia no parque, em torno do lago.
A vida desaparece do lago
Hoje o lago do Parque do Ingá é pouco mais do que uma poça cercada por vegetação ressequida que brotou no lugar antes ocupado pelo espelho d’água. A Ilha dos Macacos, tão admirada pelos visitantes, principalmente crianças, agora é um capão de mato a mais de 100 metros de onde está a água, a Ilha das Garças desapareceu e hoje as poucas garças que insistem em continuar no parque caminham por uma ressequida que um dia foi o fundo do lago.

De acordo com o biólogo Rogério Lima, a atual situação do lago coloca em risco a vida dos animais que vivem lá. “Há diminuição de um ciclo ecológico completo. Os peixes e demais organismos do ambiente aquático vão sofrer e os outros que vivem desses organismos também sentirão as consequências, criando uma reação ecológica em cascata”, diz.
Procura-se culpados
Embora muito se fale da estiagem que o Paraná está vivendo desde o início do Inverno, tida como a maior crise hídrica em décadas, o lago do Parque do Ingá perdeu o nível há pelo menos 20 anos, quando as muitas nascentes começaram a reduzir a vazão ano a ano até que várias delas desapareceram.
A princípio culpou-se o excesso de asfalto e calçamento da cidade, sobretudo no Centro, Zona 2 e Vila Operária, depois passou a culpar os muitos poços artesianos e os mais de 2 mil poços artesianos clandestinos na região, que, segundo diziam, teriam provocado uma redução do lençol freático. Agora culpa-se até a sombra dos edifícios das proximidades, a falta de vento devido os muitos prédios… diagnósticos de leigos é o que não falta.
A prefeitura no passado canalizou águas pluviais de bairros vizinhos para o lago, mas teve que desistir da ideia porque isso só ajudou a transformar o lago em um depósito do lixo levado pelas enxurradas. A poluição foi tamanha que matou os peixes que existiam no lago e faziam a alegria de aposentados que passavam as tardes pescando no parque.
O orgulho da colônia secou
Quem caminhasse em torno do lago no passado ia encontrar alguns dos mais belos ambientes da cidade, como a Gruta da Santa original, na primeira nascente do Córrego Moscados. Foi lá que foi colocada uma réplica de Nossa Senhora Aparecida que o governador Haroldo Leon Peres – primeiro maringaense a ocupar o governo do Paraná – trouxe de Aparecida do Norte como presente para Maringá.

Bem próximo à gruta estava o Jardim Imperial Japonês, inaugurado na primeira visita que o príncipe herdeiro do Japão, Akihito, e a princesa Michiko, fizeram a Maringá. Com algumas plantas vindas do Oriente, outras conseguidas em viveiros especializados de mudas, o jardim tinha vários canais com água tão limpa que podia-se ver o fundo com perfeição.
Canais que saiam do Jardim Imperial levavam a um tanque onde existiam carpas, tão mansas que a diversão das crianças era acariciá-las.
Há alguns anos, a primeira mina do Moscados secou e o ambiente deixou de ser a Gruta da Santa, os lagos inaugurados pelo então futuro ocupante do Trono do Crisântemo, como imperador do Japão, foram baixando e secando um a um, as carpas morreram porque água de seu tanque ficou poluída e hoje nem água poluída existe lá.
