O governador Ratinho Júnior, (PSD) decretou, na manhã da última sexta-feira (26), lockdown em todo o estado do Paraná. O decreto entra em vigor a partir da meia-noite de sábado (27) e tem prazo de dez dias – até dia oito de março. Uma das regras em destaque no novo decreto é a suspensão das aulas presenciais em escolas públicas e privadas, cursos técnicos e universidades públicas e privadas.
A Prefeitura de Maringá tinha informado por meio de uma nota na tarde da última terça-feira (25), o pedido de liminar para o retorno das aulas presenciais em Maringá. De acordo com a Nota da prefeitura, o juiz Marcel Ferreira dos Santos não autorizou o retorno dos estudantes para aulas presenciais, considerando um grave risco à saúde imposto pela pandemia do novo coronavírus.
Na decisão foram apresentadas como justificativas a alta dos casos nos três primeiros dias da semana passada, bem como o alto índice de ocupação hospitalar e leitos de UTI para tratamento de pacientes com Covid-19. O decreto municipal vigente (546/2021) prevê a suspensão temporária das aulas presenciais, não impedindo a realização de atividades à distância. Ainda na quinta-feira (25), pais e professores estiveram presentes em frente à Câmara Municipal para se manifestar contra o decreto que suspende as aulas presenciais nas escolas do município de 24 de fevereiro a 7 de março.
O decreto foi emitido na última segunda-feira (22), e na terça-feira (23), na Câmara dos Vereadores, uma pauta entrou em projeto de lei proibindo o adiamento das aulas presenciais na cidade. Segundo o município, a proposta já estava pronta antes do decreto, mas calhou de chegar ao plenário em meio à polêmica da suspensão das aulas e dezenas de manifestantes foram para frente do legislativo.
A situação dividiu opiniões de pais e professores em lados opostos. Enquanto alguns estão a favor da volta às aulas presenciais, outros são contra o retorno dos alunos às salas de aula sem a vacina. Para a agente de passagens Gleyce Dutra, o modo como a situação tem se desenvolvido é complicado, pois o filho tem dificuldade em aprender. “Mesmo com as aulas presenciais, meu filho de nove anos sente dificuldade no aprendizado porque ele tem transtorno de deficit de atenção, mas com essa pandemia acho mais seguro ele ficar em casa por conta dos riscos sem a vacina”, conta.
Alguns professores do núcleo de educação ressaltaram estar bem complicada esta situação, pois a evolução das crianças precisa ser mediada e existem muitos pais que não têm como dar esse auxílio. Grande parte dos pais precisa deixar os filhos com alguém, então recorrem aos avós, tios, e outros parentes, pessoas que não vão conseguir dar a orientação correta para a criança ser educada.
Gleyce ainda ressalta que, com as aulas suspensas, ela e o marido buscam as atividades para o filho fazer em casa. “Qualquer coisa tira atenção dele [filho]. Na escola em que estuda, não está tendo aulas on-line, a escola preferiu que os pais busquem as atividades para fazer em casa, então eu e meu marido temos ajudado nosso filho nos dias de folga”, afirma.
O coordenador de uma escola particular de Maringá, Silvio Domen, pontua que, onde trabalha, os pais foram contra o fechamento. “Os pais dos nossos alunos já haviam verificado e presenciado todos esses protocolos, que estavam sendo cumpridos. Por isso, estavam enviando os filhos para escola”, diz. Por causa da polêmica, o vereador Sidnei Telles, autor da lei 15838/21, reconheceu a educação como atividade essencial. “Desde que me elegi, a educação é uma das minhas principais bandeiras. Para mim, ela é essencial e não discutir essa questão é um problema muito sério”, afirma.
Sobre esse ensino remoto, ele é a alternativa que resta para as circunstâncias, mas é claro que, nem de longe, equipara-se ao ensino presencial. O contato em sala de aula com o professor melhora a aprendizagem e o contato com os colegas estimula a socialização e melhora as questões emocionais.
Telles ainda ressalta a preocupação com as crianças da cidade que principalmente estão sendo deixadas aos cuidados de terceiros, os adolescentes, que estão estagnados nos estudos. Se não tratar a educação como atividade essencial, não irá avançar na discussão do retorno seguro às aulas e na priorização dos professores na vacinação contra a Covid-19.
“Recebi vários conjuntos da sociedade, favoráveis e contrários ao projeto. Com isso, os vereadores ficaram inseguros de votar na urgência. Decidimos então tirar a urgência e promover um debate, aqui na casa, com participação dos pais e da população, não só professores. Há o problema nutricional da suspensão das aulas, o problema da defasagem educacional, tudo isso junto. Então, precisamos ouvir todo mundo”, explicou.
Para a encarregada de produção Graciela Otto não foi diferente. Os filhos estudam em uma escola estadual da cidade e as aulas estão sendo executadas de forma remota. “Meus filhos estão estudando no ensino remoto, minha filha de 12 que está no 8° ano e o filho de dez no 6°, eles estavam ansiosos para a volta no modo presencial, mas por conta da pandemia, precisaram continuar no on-line”, diz.
Graciela ainda comenta que a escola não mencionou se há uma previsão para voltar presencialmente e que no momento o ensino será feito pela plataforma “Classroom”. Domen explica que pode haver um atraso na educação dos jovens com o adiamento do modelo presencial. “Muitos alunos não conseguem criar hábitos de estudos em casa, sozinhos. Precisam concentrar-se e ter uma rotina de estudos, um acompanhamento do professor, o que fica mais fácil em sala de aula”, afirma.
MANIFESTANTES. Em busca de um ensino melhor, professores e mães protestam em frente a Câmara Municipal para o retorno do ensino presencial na cidade. FOTO-LU OLIVEIRA