O Maringá inicia neste domingo, 12, uma série de vídeos em seu portal, omaringa.com.br, com entrevistas com empresários e começa com um dos maiores empreendedores da região, Jefferson Nogaroli, que fala sobre sua vida, dos valores que recebeu dos pais, da importância da leitura e da iniciativa para os negócios
Luiz de Carvalho
Quando Jefferson Nogaroli era menino, crianças brincavam nas ruas, não existia internet e nem celular e nenhum – nem 1 mesmo – dos meninos se trancava no quarto com um computador. Aliás, os moloques e as garotas daquela época não sabiam o que era computador, que só existia em filmes de ficção científica e era maior do que o quarto deles.
Sem joguinhos, sem Tik Tok, sem a distração das telas, o menino foi obrigado a usar a cabeça para criar suas próprias distrações, buscar aventuras em livros e a sonhar que era capaz de criar coisas boas e grandes, sem saber que sonho que se sonha muito fatalmente vira realidade.
“Como eu era o mais velho das crianças lá de casa, inventava coisas e todos brincavam. Com qualquer pedaço de madeira e outros objetos eu criava cidadezinhas, com ruas, casas, prédios…”
Aquele menino sonhador está vivo. “Ainda me vejo como um menino que sempre sonhou e sempre ousou empreender. Procuro manter este menino vivo, às vezes falta um pouco de juízo, mas acho que consegui manter esta característica de sonhar e realizar, de saber que é preciso sonhar, sonhar grande e ousar, mas saber que é preciso começar pequeno. Começar pequeno, mas começar”.
Dos livros de aventuras aos de desenvolvimento pessoal
Eu brincava como todos os meninos nas ruas de terra da Vila 7, jogava bola nosc ampinhos que fazíamos onde houvesse um terreno baldio, mas eu gostava mesmo era de ler. Em pouco tempo, li tudo o que tinha na biblioteca do Grupo Santa Maria Goretti. Aí tive que convencer minha mãe a deixar eu cruzar a Avenida Colombo, na época conhecida como ‘Oficial’, que era rodovia e tinha muito trânsito, principalmente de caminhões nas épocas da colheita do café. Eu queria frequentar a biblioteca do Sesc, que já era ali onde é hoje. Quando cresci mais, passei para a Biblioteca Pública, no centro da cidade.
Eu era um leitor voraz, mas tinha preferência pelos livros de aventura, livros que agregassem conhecimento, como “As Aventuras de Marco Polo”, que mostrava um viajante, explorador conhecendo outras civilizações. e os livros do Julio Verne. Era geografia e história. Se tivesse Google naquela acho que eu ia fazer bom uso.
Acho que foi este tipo de literatura que me influenciou para que eu fizesse curso de Geografia na UEM.
Na medida em que fui crescendo, comecei a me interessar por livros de desenvolvimento pessoal, livros que ajudassem a agregar conhecimento, disciplina, organização, relacionamento com outras pessoas, como os do Dale Carnegie.”
Testemunha da mudança
Jefferson Nogaroli viveu desde que tinha seis meses de idade na Rua Mandaguari, chegou no mesmo ano em que foi inaugurado o Grupo Escolar Santa Maria Goretti, com três salas a uns 100 metros de sua casa. Bastava cruzar a rua para entrar na zona rural, entrar no cafezal do engenheiro Aristides de Souza Mello, diretor da Companhia Melhoramentos e primeiro presidente da Santa Casa de Maringá. Mas a molecada da Vila 7 conhecia a área como Cafezal do seu Tonico, em alusão ao administrador da propriedade, Antonio Manfrinatto, que corria atrás de qualquer moleque que ousasse se aproximar da sede da fazenda, onde hoje é a Eduem.
Anos depois, viu o cafezal do seu Tonico ser desapropriado pela prefeitura e em seu lugar nasceu o principal templo do saber da cidade, a Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Ele viu a UEM nascer a poucos metros de sua casa. Poucos anos depois lá estava ele como estudante do Curso de Geografia. E via seus amigos de infância aprendendo Letras, Matemática, Educação Física, Sociologia, Psicologia, Direito, Medicina…, via gente chegar de todos os cantos do Brasil, da África, da América Latina, viu as velhas casas de madeira da Vila 7 darem lugar a repúblicas de estudantes, depois surgiram os prédios de quitinetes, a Vila 7 mudar como mudou o café do seu Tonico, que deu lugar a uma das melhores universidades estaduais do Brasil e deu e dá a Maringá o status de polo univeristário.
Todas essas mudanças aconteceram diante dos olhos do menino Jefferson, praticamente na porta de sua casa. Mas, ele viu mais. Viu a Vila Santo Antonio esticar e nascer o Jardim Alvorada, a Fazenda Diamante do Silvino Dias ser loteada e onde era café e mais café surgiram bairros e mais bairros, que rapidamente eram ocupados e Maringá dobrava de tamanho.
Do saquinho de Galo a empresário na marra
Jefferson Nogaroli é CEO do Grupo Nogaroli, que está envolvido na segunda maior rede de supermercados do Paraná, com a cooperativa de crédito Sicoob, a Sancor Seguros, Sisa Construções e outras empresas, mas de agora em diante seu nome estará ligado para sempre ao Eurogarden, um dos bairros mais sustentáveis do mundo, talvez um prosseguimento daquelas cidadezinhas que ele fazia com os irmãos e amigos no quintal da casa na Rua Mandaguari. Eurogarden já faz parte de seu sobrenome e esse ninguém pergunta se é com dois éles, como costumam ser os sobrenomes italianos.
Para o empresário, o Eurogarden é um sonho pessoal, mas não é uma meta final, é parte de um processo, de uma jornada que vai continuar em outros projetos.
“Eu gosto de trabalhar, comecei muito cedo e já trabalhei muito”, explica Jefferson Nogaroli quando alguém diz que ele faz muita coisa ao mesmo tempo. “Quando meu pai começou o supermercado, lá na Avenida das Palmeiras, era a gente mesmo que trabalhava e fazíamos de tudo, onde precisasse. Já fui caixa, fiz reposição de mercadorias, entrega, trabalhei até no açougue. Falar que sou açougueiro é uma ofensa para os açougueiros de verdade, mas já servi muito no balcão do açougue”.
A vida de trabalhador para o CEO do Eurogarden começou quando ele tinha 13 anos. Trabalhou na fabriqueta de sucos que seu pai inventou. “Era um saquinho de plástico e vinha um canudinho de plástico junto, produto barato que vendia muito, principalmente no Estádio Willie Davids em dias de jogos do Grêmio. O nome do suquinho era Galo, em alusão ao Galo do Norte, como o Grêmio era chamado”.
Depois disso, o pai, seu Valdir Nogaroli, teve uma sorveteria em Astorga e lá estava o menino Jefferson ajudando a fabricar picolés e massas, além de ajudar nas entregas, de kombi, em várias cidades da região.
O Supermercado São Francisco nunca foi uma vendona de beira de estrada, como alguns moradores antigos teimam que era. Seu Valdir, que com o nome homenageou seu falecido pai, Francisco, montou uma empresa moderna, daquelas em que o freguês entra, vai às prateleiras e escolhe o que quer, sem depender de pedir no balcão uma massa de tomate Elefante e lhe entregarem uma Etti.
“Sempre gostei de trabalhar e no supermercado ganhei experiência e iniciativa, porque tinha que fazer tudo. Tinha que comprar, vender, fazer entrega, ir ao Ceasa, a gente vai aprendendo a ser empresário na marra, batendo e apanhando”.
Segundo Jefferson, foi no trabalho desde cedo que seus pais foram transmitindo aos poucos os valores que ele e seus irmãos e sócios carregam até hoje e que procuram transmitir às próximas gerações da família.
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