Quando Célio Borges nasceu, o parque que ele dirige hoje já existia. Ele nasceu, cresceu, estudou, casou, trabalhou, virou empresário, mas nunca lhe passou pela cabeça se envolver com parque. Mas, quando experimentou, foi amor de primeira e nunca mais largou. O parque mudou sua vida e ele mudou aquele parquinho que já existia antes de ele nascer.
Célio Borges da Costa é o proprietário do Yupie! Park, que desde o século passado é o responsável por fazer a alegria de crianças e adultos que visitam a Expoingá e querem se divertir nas novidades do parque de diversões. Dono de dois parques, o Yupie! e o Moreno’s Park, Célio hoje está em Maringá, mas poucos dias atrás seus brinquedos animavam os participantes do Lollapalooza da Argentina, pouco antes no Lolla no Brasil e mais antes ainda viravam notícia no Rock in Rio, especialmente por sua tiroleza, que ficava passando por cima do público que curtia as bandas de rock, bem próximo ao palco.
Considerado um dos mais bem-sucedidos donos de parque de diversão do Brasil, um dos fundadores da Associação Brasileira dos Parques e Atrações (Adibra), aos 73 anos o empresário já prepara sua sucessão. A filha Vanessa Costa, da terceira geração do parque, é administradora de empresas, tem várias especializações e aos poucos vem assumindo o controle do grupo Moreno’s, ao lado do marido, Marcos Gallo. Seus dois filhos crescem no parque, são da quarta geração que está sendo preparada.
Fazendo amigos de cidade em cidade
“Eu amo o parque. O parque mudou minha vida e minha paixão é estar de cidade em cidade, vendo um terreno limpo de uma hora para outra brotando uma roda gigante aqui, uma pista de bate-bate mais adiante, brinquedos e mais brinquedos, luzes colorindo o ambiente, a música, crianças chegando. O parque é apaixonante”, diz o empresário, que afirma não se importar de deixar sua bela casa em São Paulo para passar metade dos dias de cada ano dormindo em um motorhome e passando os dias montando brinquedos ao lado de operários braçais.
Isso ele conta ao mesmo tempo em que atende um diretor da Sociedade Rural de Maringá, dá instruções a um eletricista, explica a uma professora como será o recebimento de um grupo de estudantes, fala sobre um evento especial para autistas. Não para, não anota nada, mas lembra de tudo. Além de dirigir um excelente negócio, Célio Borges ainda realiza o sonho de fazer a alegria da criançada.
Alegria nasceu de uma grande tristeza
“Decidi largar tudo e ir fazer a alegria das crianças”, conta o empresário Célio Borges sobre o dia em que deixou de ser empresário do ramo de alimentos para ir trabalhar no parquinho de seu sogro. Ele vivia um dos momentos mais tristes de sua vida, tinha acabado de perder um filho de pouco mais de dois anos, que morreu depois de passar três meses em um hospital. O primeiro filho. O menino tinha sofrido um acidente em casa, bateu a cabeça, foi internado, no hospital contraiu uma bactéria e aí foram três meses de sofrimento até a morte.
“Eu era sócio em uma empresa que vendia cerca de 25 mil refeições no eixo Rio-São Paulo, vendi minha parte e fui ajudar meu sogro no parque. Queria fazer a alegria das crianças”, lembra, não sem uma ponta de tristeza.
Mas, essa história começa antes. O mineiro Célio era ainda adolescente quando foi para São Paulo estudar e enquanto estudava conseguiu um emprego na Olivetti do Brasil, maior fabricante de máquinas de escrever no País. “Era executivo de terno e gravata”, conta.
Foi nesta época que conheceu uma moça, se apaixonou e aos 22 anos se casou. A jovem esposa era filha de José Severino dos Santos, o Zé Moreno, que em 1944 fundou o Parque Teatro São Paulo, que tinha só uns brinquedos simples e rústicos e um pequeno palco, onde atores apresentavam dramas e comédias.
O genro resolveu dar uma mão ao sogro comprando um brinquedo que na época fazia o sucesso dos parques: um bate-bate, aqueles carrinhos que ninguém consegue dirigir e ficam batendo um contra o outro. “Juntei um pouco de dinheiro que tinha, vendi apartamento, dois lotes de terra e até gado, mas comprei um pavilhão de pista de 10 metros por 20, com 10 carrinhos”, lembra.
Colocou seu dinheiro, ajudou Zé Moreno, mas não se interessou por parque. Ainda não. Foi trabalhar em uma empresa de marmitas, virou sócio e aumentou a quantidade de refeições servidas por dia. Só foi se interessar por parque quando tentava aliviar um pouco o sofrimento pela morte do filho.
“Me apaixonei logo de cara e nunca mais deixei o parque”. Isso completa 40 anos no ano que vem.
Assumindo e mudando o parque
Zé Moreno morreu pouco depois e seu genro resolveu homenageá-lo trocando o nome de Parque Teatro São Paulo para Moreno’s Park. E o negócio foi bem, novos brinquedos foram adquiridos e hoje são dois parques correndo o Brasil, o Moreno’s e o Yupie!, que somam mais de 60 brinquedos. O grupo é um dos maiores do Brasil em parques itinerantes e hoje Célio e a filha Vanessa estudam a possibilidade de terem também um parque fixo, como o Beto Carrero World, na Praia de Armação do Itapocorói, em Penha (SC), Hopi Hari, em Itupeva e Vinhedo (SP) e Mirabilândia, em Recife (PE). Para isso a família já tem até um bem localizado terreno.
Aos 73 anos, o empresário não nega que já pensa em começar a tirar o é do acelerador e ficar mais tempo em casa. E a ideia de um parque fixo é que não quer para a filha Vanessa a vida em um motorhome. Mas, já lamenta o fato de um dia não viver mais a adrenalina de ver um terreno brotando rodas gigantes e outros brinquedos, de não estar mais visitando amigos de cidade em cidade e fazendo novas amizades.