Por meio do Departamento de Polícia Penal (Deppen) e da Divisão de Educação e Capacitação, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná lançou nesta segunda-feira, 13, na Penitenciária Estadual de Maringá (PEM), o Projeto Especial de Literatura, que começa com a leitura do clássico “Crime e Castigo”, do russo Fiódor Dostoiévski, continua com debates e resenha do livro. Em todo o Estado, os presos que participarem do projeto de leitura nos presídios terão redução em sua pena, à semelhança do programa Remição pela Leitura.
Na PEM participam 26 presos, mas no complexo penitenciário de Maringá há participantes também na Casa de Custódia (CCM) e na Penitenciária Industrial de Maringá – Unidade de Progressão (PIM-UP). O projeto será levado a todas as unidades penitenciárias do Paraná.
Segundo o diretor-geral do Deppen, Osvaldo Messias Machado, o Projeto Especial de Literatura segue princípios parecidos com o Remição pela Leitura, que já existe nas penitenciárias do Paraná há 10 anos e neste período ajudou a reduzir a pena de cerca de 35 mil presos. “Uma das diferenças é que este é um programa com maior profundidade, que vai exigir mais do preso”, explica Machado. “Primeiro que são obras de fôlego, clássicos que exigem muita reflexão para serem compreendidas, como é o caso de “Crime e Castigo”, cuja textura tem várias camadas implícitas, de modo que cada pessoa poderá compreendê-la de um jeito, dependendo de sua vivência e conhecimento”.
Machado explicou que, como os participantes do Projeto Especial terão que elaborar resenhas para comprovar a compreensão e participar de rodas de conversa sobre o livro, “normalmente o leitor terá que reler duas, três ou mais vezes certos trechos ou talvez o livro inteiro”. Ele argumenta que uma das qualidades dos grandes clássicos é que eles “não vencem”, são sempre atuais e cada vez que o leitor faz uma releitura, vai descobrir aspectos que não percebeu na primeira leitura.
Lendo sobre a própria vida
O preso Ricardo Batista Tirapelli disse que nunca foi afeito aos livros antes de ser preso e condenado. Com longa pena a cumprir, passou a participar dos programas de estudos oferecidos pelo Deppen e Centros de Educação para Jovens e Adultos (Ceebja), ingressou no programa Remição pela Leitura e quando percebeu já tinha tornado-se um grande leitor, com entendimento sobre gêneros, estilos e movimentos estéticos da literatura brasileira e universal. Antes mesmo do lançamento do novo projeto, ele leu “Crime e Castigo”.
“Achei que seria muito difícil, mas em um mês consegui ler, tirar as dúvidas e elaborar minha resenha”, contou nesta segunda-feira ao grupo de participantes do programa, professores e diretores do Deppen e Deppen Regional. Segundo ele, essa obra de Dostoiévski tem muito a ver com sua própria vida. “Quando terminei a leitura, senti que cresci muito, pois o livro me levou à reflexão sobre minha história e a história de tantos que hoje estão no cárcere”.
O caso de Tirappelli é bem parecido com o de Leonildo Wagner de Jesus, que também leu as quase 700 páginas do clássico russo em um mês, fez a resenha e se preparou para a roda de conversa. Segundo ele, além da reflexão sobre a vida, uma obra como “Crime e Castigo” desperta o amor pela leitura de grandes livros. “Quem lê um livro desses, vai querer ler outras obras de grandre profundidade”.
Leitura profunda melhora a ressocialização
Para o diretor do Complexo Penitenciário de Maringá, Julio César Franco, a leitura é ingrediente importante no processo de ressocialização de presos, somando-se ao trabalho e o estudo regular. Segundo Franco, a correta aplicação do programa de ressocialização tem sua eficácia comprovada na redução da reincidência.