Antonio Roberto de Paula*
Falei poucas vezes com o Eduardo, mas, pelo fato de sermos da imprensa, acompanho sua trajetória na profissão e ele, a minha. Não sabia dos dramas do Eduardo. Não pude ir no lançamento, em junho, do seu livro “Esquizopó – Entre o mundo fantasioso da cocaína e a realidade”. Esquizopó, um neologismo que é a soma dos males, para definir suas duas batalhas intrínsecas. Para adquirir um exemplar, entrei em contato com ele, que voltou a morar em Paranacity.
O livro chegou em casa no dia 24 e no dia 25 terminei de ler. Tudo num só fôlego, numa tacada. Li intensamente seguindo sua intensa trilha de vida. Seu talento para escrever traça um latente mapa de dores, revoltas e inconsequências que se contrapõem àquela figura que conheci muito superficialmente, que me passava a ideia de placidez e apenas – e se já não bastasse – dono de problemas cotidianos, inerentes a todos nós. O talentoso jornalista, de domínio total da situação, com um material rico, bruto, assustador, se apresentou para mim com seu trágico kit chamado Esquizopó.
Conheci o sofrido Eduardo, que abriu as portas do seu mundo, do seu inferno. O corajoso Eduardo se expôs. Penso que foi a maneira mais eficaz que ele encontrou para se restabelecer, adquirir forças, como a dizer: vocês não vão colocar giz no meu entorno. Um brado de liberdade. O audaz compartilhamento pode ser o grito de socorro. Pode. Deve ser. Cada leitor faz sua análise. A mensagem que recebi foi esta.
Vejo Eduardo como um sobrevivente. E por tudo que passou, não sei se a tábua de salvação dele tem rachaduras. Mas aí analiso que todos nós somos, de uma forma ou de outra, sobreviventes com ranhuras, fissuras, frestas em nossas tábuas. E sempre será assim porque um dia nunca será igual a outro por mais parecidos que sejam. Então recorremos a Deus para que Ele nos guie, nos proteja. Pedimos a Deus que a imprevisibilidade desta vida não nos deixe tão vulneráveis. Para o Eduardo e para mim, felizmente, Deus nos defende do acaso.
O livro do Eduardo traz uma verdade nua, crua, sem tempero. Eduardo se veste de todos os pecados cometidos e desfila sem medo nas 150 páginas. Assume erros e riscos, distribui pedidos de perdão que serão eternos e eternas também serão as culpas que carregará.
O livro bem que poderia se chamar “Perdão, Marilene”, a mãe de Eduardo, que representa as demais mulheres da sua vida que ocuparam espaço na sua vida em períodos distintos, seu saudoso pai, seus filhos… Uma chamada geral de perdão, mas endereçada principalmente à sofrida Marilene que hoje deve estar mais serena e agradecida porque o filho “voltou para casa”. Não digo só para Paranacity. O menino Eduardo voltou para a sua essência. Uma volta que lhe abre um céu azul.
A inevitável reflexão que fica depois de tudo é imaginar quantos estão percorrendo o caminho do inferno na terra por conta dos vícios, caminho percorrido pelo Eduardo sem atalhos, acelerado, sem pitstop. Quantas Marilenes de corações sobressaltados sofrem já com os olhos secos depois de tantas lágrimas despejadas dia após dia, ano após ano?
Anos atrás um amigo me disse, e sempre lembro disso, que a humanidade já perdeu a luta contra as drogas – todas elas -, então resta contar os mortos, resgatar os feridos e mantê-los a salvo e alertar os que ainda não compreenderam os perigos. O livro do Eduardo deve ajudar muitas pessoas, espero, e está ajudando ele próprio, acredito.
Ao ferido e corajoso Eduardo, irmão em Cristo, meu fraternal abraço”.
*Antonio Roberto de Paula é escritor, jornalista, fundador e diretor do Museu Esportivo de Maringá
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