Raphael Montes defende que literatura de gênero permite discutir aspectos do real

Raphael Montes em Maringá, no teatro do Sesc (Crédito: Cristiano Martinez)

O público compareceu em peso para conferir a palestra “Suspense, Literatura e Imaginário”, do escritor carioca Raphael Montes, convidado do primeiro dia de atividades da 43ª edição da Semana Literária Sesc & Feira do Livro em Maringá.

Na verdade, o autor de “Suicidas” e “Jantar secreto”, livros de enorme sucesso editorial, estabeleceu mais uma conversa descontraída e franca com os leitores e as leitoras que lotaram o teatro do Sesc Maringá “Ali Saadeddine Wardani” na noite desta quarta-feira, 7 de agosto. Como todo o evento, a entrada foi grátis.

Em linhas gerais, o escritor falou sobre seu processo de produção ficcional, revelando os bastidores da criação literária e também do tipo de escrita que é feito para séries de TV, streaming e cinema. Vale lembrar que ele é roteirista profissional. Por exemplo, um de seus livros policiais (coescrito a quatro mãos com a pesquisadora Ilana Casoy), “Bom dia, Verônica”, se tornou série na Netflix, em três temporadas produzidas.

Recordando sobre o início da carreira, Montes disse que à época queria fazer literatura. “Eu realmente acredito que para você escrever, é só sentar e escrever”, disse para a plateia maringaense, acrescentando que a grande vantagem de fazer literatura é que, ao contrário do orçamento necessário nas produções audiovisuais, é preciso apenas do autor para escrever. Claro que envolve todo um processo com editor, capista etc., mas o ato de escrever é solitário.

Depois de produzir muitos contos, veio o primeiro romance, homenageando o estilo de Agatha Christie (1890-1976), conhecida como a “Dama do Crime” e um dos principais nomes do “romance de enigma” (da famosa pergunta “Quem matou?”) na tradição da literatura policial. Mas com melodrama e crítica social, sob influência de telenovelas; e ainda elementos de filmes como “Jogos mortais”, “Seven – Os sete pecados capitais”, “O colecionador de ossos”.

“Resolvi fazer um livro que misturasse tudo isso. E fiz o ‘Suicidas’”, escrito durante o ensino médio e o curso de direito do autor. É a história de Alê e seus colegas, jovens da elite carioca encontrados mortos no porão do sítio de um deles em condições misteriosas que indicam que os nove amigos participaram de um perigoso e fatídico jogo de roleta russa.

Em seguida, o então jovem escritor procurou editoras, que recusaram o material. Mas o livro foi finalista do Prêmio Benvirá de Literatura e acabou sendo publicado, ganhando visibilidade em livrarias. Depois, veio a obra “Dias perfeitos”, feito a partir de uma provocação dos pais dele para fazer uma história de amor tipo de novela. Mas não é bem um livro nessa toada “água com açúcar”, por assim dizer.

E assim a carreira de Montes teve prosseguimento, com romances do porte de “Jantar secreto”, “Uma mulher no escuro” e o mais recente “Uma família feliz”.

Crédito: Cristiano Martinez

Adoração por romance policial
Durante sua fala no Sesc Maringá, Raphael Montes confessou sua adoração pela literatura policial, ou seja, histórias de mistério e crime. Não por sinal, ele conta que, a cada livro escrito, buscava homenagear um subgênero desse tipo de narrativa. Por exemplo, “Suicidas” é no estilo da Agatha Christie, o famoso “quem matou?”. Ainda que a pergunta seja “por que eles se mataram?”, pois o foco é em personagens suicidas.

Já “Dias perfeitos” presta homenagem ao gênero mais admirado pelo carioca hoje, que é uma espécie de suspense psicológico. Ao invés de uma história investigativa, com um detetive clássico à moda Christie, a narrativa se debruça a partir da perspectiva do assassino, do olhar torto de quem comete o crime. Para exemplificar, ele citou Patricia Highsmith (1921-1995), autora da série de livros focada em seu personagem Tom Ripley.

Por sua vez, “Uma mulher no escuro”, conforme Montes, homenageia o gênero noir; e o “Jantar secreto”, tem uma pegada tarantinesca, em referência ao cinema de Quentin Tarantino, e dos irmãos Coen. “Cada um dos livros, eu fui buscando fazer um dos gêneros que eu gosto”, afirmou o escritor convidado da Semana Literária Sesc, explicando que não gosta de se repetir.

Com o tempo, o autor percebeu que, por meio dessa literatura de gênero, poderia discutir aspectos do real, traçando um retrato social. “Eu ouso dizer que a literatura de gênero é melhor do que as histórias realistas”, citando os temas presentes em sua obra: violência, sociedade, juventude perdida, machismo; e também casos de distopias no streaming (séries e filmes) que permitem falar muito sobre a organização social ou utilizando o gênero do terror para encenar o racismo.

“Eu fui encontrando nos livros essa vontade de através de uma história policial, de suspense, crime, que você não consegue parar de ler, discutir assuntos. Fazer provocações”, destacando que levou essa vontade para o cinema e a TV, mídias para produção de audiovisuais. “Hoje em dia, eu só começo a escrever se eu, além de ter uma boa história, tenha a resposta para a pergunta ‘ao contar essa história, do que eu estou falando?’”.

Público lotou o teatro do Sesc Maringá para ver e ouvir o convidado da noite (Crédito: Cristiano Martinez)

Projetos
Em 2025, está prometido o lançamento da novela “Beleza Fatal”, um trabalho de Raphael Montes escrito para o serviço de streaming Max. É um material com 40 capítulos.

E deve sair também no ano que vem a série “Dias perfeitos”, já gravada. Além de novo livro, mas sem prazo.

***Confira mais registros do evento no teatro do Sesc Maringá (Fotos: Cristiano Martinez):

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