Com o microfone na mão, o poeta e a poeta apresentam seus textos autorais, rompendo com o silenciamento em meio às ruas das cidades. É o espaço para canalizar sua história e condição social, de vida. É o universo do Slam, praticado há 15 anos nos quatro cantos do Brasil.
“Eu vou pegar esse microfone e ‘vou falar do racismo que eu sofro’. Isso traz a pauta social mais forte”, avalia a escritora e slammer de São Paulo (SP) Tawane Theodoro em Maringá, onde ministrou a Oficina de Performance Poética neste sábado, 7 de setembro, no primeiro dia do Slam Paraná, que é o campeonato paranaense de poesia falada.
Segundo a poeta, quem frequenta o Slam é formado em sua maioria por pessoas periféricas, cada vez mais jovens, que foram silenciadas durante muito tempo e acabam abordando a temática social. Mas Tawane avalia que o Slam não é somente sobre isso, pois há poemas sobre amor, homenagem às mães, ou seja, variedade de temas.
“A gente está falando de poesia. As pessoas estão ali para escutar. Em sua maioria, são pessoas periféricas”, em entrevista à reportagem, antes do início da oficina na Cidade Canção.
Ela cita que, no Slam Brasil, um mesmo tema ganha perspectivas diferentes na mão e voz de poetas de Estados diferentes. É a diversidade. E o nível vem subindo, ao mesmo tempo que mais jovens têm ingressado no meio. Por exemplo, ela começou com 17, 18 anos e era considerada um “bebê” em São Paulo. “Hoje eu vejo gente chegando no Slam com 15 [anos]”, explicando que, com essa faixa etária, esses mais jovens já entenderam a poesia como possibilidade.
Grandes editoras falham
O mundo do Slam é baseado na oralidade, pois a poesia é apresentada ao público por meio da voz dos poetas. No entanto, Tawane Theodoro diz que circulam zines (publicação alternativa) e livretos. “Essas produções manuais a gente já entra na cena do Slam conhecendo e querendo produzir o nosso. Isso é uma produção que rola muito. Quase todo poeta em São Paulo, por exemplo, tem livreto”.
Já o livro tradicional em papel ainda é uma forma de expressão elitizada, com pouco espaço para os slammers nas grandes editoras. “É uma falha”, afirma Tawane, referindo-se a esse comportamento das casas editorais. Em seus oito anos de carreira poética, conhece poucos autores e autoras que conseguiram chegar às principais editoras.
Nesse cenário, resta aos poetas independentes todo o processo de publicação: escolha dos autores, impressão, envio dos livros. E ainda escrever, participar de eventos etc. Em suma, as grandes editoras têm dificuldade de abrir os caminhos para os poetas marginais, periféricos.
Academias
No entanto, no meio universitário é outra realidade, na comparação com as grandes editoras.
Segundo a convidada de São Paulo, a poesia começa na rua e se mantém. Mas hoje as universidades têm muitos trabalhos sobre o Slam em todo o Brasil. “Cada vez mais a academia procura a gente para escrever trabalhos, para escrever TCCs [trabalho de conclusão de curso] e tudo mais. É desse jeito que a gente está entrando nas academias”, destacando que estão indo fazer poesia nas universidades. “Esse ano, eu fui na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] quando os calouros de Letras estavam chegando. O primeiro dia deles rolou uma experiência de Slam”, exemplifica.
Oficina
Mais de 25 poetas e aficionados (além do público que assistiu via YouTube, ao vivo) participaram da oficina ministrada por Tawane na tarde deste sábado. O objetivo era abordar exercícios de integração, a importância dos Estaduais, as regras do Slam, a importância da individualidade poética, exercícios performáticos e dicas para o dia da competição.
“Eu gosto muito desses intercâmbios culturais”, avalia a oficineira, dizendo que, no Slam BR, o mais legal é a troca com outros poetas, conhecer realidades diversas.
À reportagem, ela explicou que não existe uma fórmula certa para ser slammer e isso é positivo da atividade. “A gente depende da originalidade de cada poeta. E isso, no Slam, é que é o mais legal. Porque se todo mundo for igual, fica chato”, defendendo a criatividade de cada pessoa.
“É entender as possibilidades que você tem. Eu posso fazer uma performance que seja mais teatral. Posso fazer uma performance que seja mais contida porque isso dialoga com o meu poema. Então, quando você entende que pode brincar com essas coisas, fica muito mais legal, porque abre um mundo de possibilidades”.
Trajetória
Tawane Theodoro é cria do Capão Redondo, Zona Sul da cidade de São Paulo. É poeta marginal, uma das organizadoras do Sarau do Capão e Poeta Formadora do Slam Interescolar (SP). Participou do estadual Slam SP de 2017 a 2022, sendo campeã em 2018. Já participou quatro vezes do Slam BR, sendo finalista da competição em 2022.
Atualmente, possui poemas publicados em mais de 15 antologias poéticas. É autora dos livros “Afrofênix: A fúria negra ressurge”, “A pluralidade da poeta” (Editora Quirino, 2019 e 2022) e “O que vem antes das 5 notas?” (Selo Aula Viva/2023). Desde 2023, integra o time de produção do Slam SP.
12 poetas em Maringá
Neste domingo, 8 de setembro, vai rolar o Slam PR em Maringá. Será às 15h, também na Coletiva. Entrada gratuita. Com transmissão ao vivo pelo YouTube e acessibilidade em Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Participarão 12 poetas, sendo dois de cada comunidade de slams. Vindos de Curitiba, estão Griot e Vize, do Slam Contrataque; Beduino e Trava da Fronteira, do Slam Cultura do Campão; Acai e Ziza, do Slam das Gurias CWB; Lublack e Nick, do Slam do Muma e FP e Heresia, do Slam Zumbi e Dandara. De Maringá, Devequi e Digalvi representam o Slam Pé Vermelho. Essa é a sexta edição do campeonato, que existe desde 2019.
O encontro definirá quem vai representar o estado no campeonato brasileiro de poesia falada, o Slam Brasil, que vai acontecer em dezembro em Camaçari, na Bahia.
Organização
O Slam PR é organizado por Emerson Nogueira (Curitiba) e pelos maringaenses Érica Paiva Rosa e Pedro Marques.
Produzido com verba de incentivo à cultura
Lei Municipal de Maringá nº 11200/2020
Prêmio Aniceto Matti / PMM