‘Toda poesia’ é o livro mais procurado de Paulo Leminski nas bibliotecas municipais de Maringá

Desde 2022, são mais de 50 empréstimos de 'Toda poesia' (capa laranja) - Crédito: Cristiano Martinez)

Os 80 anos de nascimento de Paulo Leminski (1944-1989) serão comemorados neste sábado, 24 de agosto. Trata-se de um dos maiores nomes da literatura paranaense, com produção feita em prosa, verso, letra de música, roteiro de quadrinhos, redação publicitária, tradução, crônica, biografia… enfim, uma produção múltipla.

Em 2013, a Companhia das Letras reuniu a produção poética de Leminski na coletânea “Toda poesia”, que fez barulho no mercado editorial da época. E ainda hoje, já que é o livro mais procurado nas municipais de Maringá, conforme dados repassados à reportagem. Os mais de 50 empréstimos desde 2022 são impulsionados pela cobrança de “Toda poesia” na seleção da Universidade Estadual de Maringá (UEM) para ingresso no ensino superior.

Inclusive, obras do poeta estão expostas em mesa montada na Biblioteca Municipal Bento Munhoz da Rocha Neto, a Biblioteca Centro, até o início de setembro. Seus livros também podem ser emprestados ao longo de todo o ano; basta fazer cadastro.

Aliás, a produção de Paulo Leminski é formada por oito livros de poemas: “Quarenta clics em Curitiba” (com fotos de Jack Pires, em 1976), “Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase” (1980), “Polonaises” (1980), “Caprichos e relaxos” (1983), “Distraídos venceremos” (1987); e os póstumos “La vie en close” (1991), “Winterverno” (1994) e “O ex-estranho” (1996).

Já em prosa e ficção, escreveu dois romances: “Catatau” (1975) e “Agora é que são elas” (1984). Além de uma novela infantojuvenil, “Guerra dentro da gente” (1988); e um livro de contos, “Gozo fabuloso” (2004, póstumo).

Leminski também foi tradutor no Brasil de autores como John Fante, Lawrence Ferlinghetti, Petrônio, John Lennon, Samuel Beckett, James Joyce, Yukio Mishima, entre outros.

Na produção leminskiana, há três livros de ensaios: “Anseios crípticos” (1986), “Ensaios e anseios crípticos” (1997) e “Anseios crípticos 3” (2001); quatro ensaios-biografias, sobre Bashô, Cruz e Sousa, Jesus e Trótski. E mais canções, caso de “Verdura” e “Valeu”, só para ficar em alguns exemplos.

Obras do poeta estão expostas em mesa montada na Biblioteca Centro (Crédito: Cristiano Martinez)

Quem foi Leminski?
O curitibano Paulo Leminski nasceu Paulo Leminski Filho, em 24 de agosto de 1944, no Hospital e Maternidade Victor Ferreira do Amaral, no bairro Água Verde, e faleceu aos 44 anos, também na capital paranaense, em 7 de junho de 1989. Apesar de sua morte precoce, viveu intensamente a vida que ele disse “ser uma viagem, pena eu estar só de passagem” e foi um “polivivente”, como chegou a declarar.

O Polaco falava fluentemente oito idiomas, além do português: latim, grego, francês, inglês, espanhol, japonês, italiano e hebraico. Foi um expoente da poesia brasileira, professor, faixa preta de judô, escritor, músico, crítico literário, jornalista, publicitário, poliglota, boêmio, transgressor, tradutor, um autêntico inquieto cultural e um encantador de pessoas. Não é raro escutar de quem o conheceu e conviveu com ele, o quanto era cativante e dono de um magnetismo pessoal único.

Toninho Vaz, biógrafo de Leminski, disse que “é possível compará-lo com a aparição de um disco voador – quem viu não consegue esquecer”. No livro “Paulo Leminski: O Bandido que Sabia Latim”, Toninho descreve que no escritor “havia algo de especial, algo de magnético, algo fora do comum, algo de louco. Sua profunda erudição e modernidade o transformaram em um intelectual peculiar, brilhante e eloquente – um ´especialista em generalidades´, como se definia”.

Espaço montado especialmente para Paulo Leminski na Biblioteca Centro (Crédito: Cristiano Martinez)

Em “O Homem com Dois Lados Esquerdos”, o escritor Ernani Buchmann compartilha as múltiplas particularidades de Leminski que ele conheceu. “Paulo Leminski conheci muitos. Fui aluno do professor, colega do publicitário, patrão do poeta doente. Amigo mais de 20 anos. Da lira dos próprios ao impróprio caixão. (…) Saudades do PauLeminski cachorro louco, do Paulo pauleira, polaco provocador irresistível, de quem me restaram alguns exemplares de seus livros, relidos sempre, a imaginar o riso irônico que a tudo dedicava, com que talvez ainda nos veja”.

Buchmann ainda chegou a dizer que “Leminski não era uma pessoa, era uma usina. Vivia 24 horas por dia criando, tendo ideias, escrevendo poemas, fazendo músicas e discutindo. Tudo ao mesmo tempo, agora”.

Domingos Pellegrini em “Minhas Lembranças de Leminski” destaca que o escritor era “poeta em alta voltagem, famoso e cultuado no país. Intenso em tudo o que fazia, sempre surpreendente nas coisas que dizia, aprendiz e engajado em tudo que se relacionasse à arte e à vida. Erudito e informal, culto e popular. Meio hippie, meio beat, um cerebrelétrico fascinante”.

No livro, Pellegrini criou capítulos com as diferentes facetas que identificava em Leminski: “mestiço, noviço, anfitruão, estrategoísta, cerebrelétrico, polinguista, polivivente, anarquista, estoico e mito”. Neologismos como o próprio Leminski gostava de criar.

Sair da versão mobile