Lucas Lisboa, que já havia testado positivo para a Covid-19, foi o segundo vacinado de Santa Fé (Divulgação)
Domingo, 17 de janeiro de 2021 – não foi mais “um domingo qualquer, onde você vai vencer ou vai perder”, como disse Tony D’Almato, o personagem de Al Pacino no filme “Um Domingo Qualquer”. Naquela tarde, cinco diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fizeram uma reunião extraordinária e aprovaram, por unanimidade, o uso emergencial das duas primeiras vacinas contra o coronavírus à disposição no território brasileiro: a CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac feita em parceria com o Instituto Butantan; e a AstraZeneca, a vacina da Universidade de Oxford, produzida pela Fiocruz.
Imediatamente após a aprovação da Anvisa a novidade tomou conta das redes sociais e a enfermeira Mônica Calazans entrou para a história ao ser a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Brasil.
No dia seguinte seis milhões de doses da CoronaVac já estavam sendo distribuídas para todos os cantos do Brasil. No Paraná a ansiedade pela chegada dos imunizantes durou até às 19h, quando um avião aterrissou no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, com 265.600 doses da vacina anti-Covid. Algumas horas depois, mais precisamente às 21h30, foi a vez da enfermeira Lucimar Josiane de Oliveira, 44, se tornar a primeira imunizada do Paraná em um evento simbólico promovido pelo governo estadual.
Pouco mais de 24 horas depois do desembarque no Paraná as doses da CoronaVac foram distribuídas para todas as 22 Regionais de Saúde do estado. Segundo a Secretaria da Saúde todos os 399 municípios paranaenses receberam a vacina.
Os insumos para a vacinação contra o coronavírus chegaram em Maringá ainda na segunda (18), às 9h30 – seringas, agulhas, luvas e EPI (equipamentos de proteção individual) vindos do governo do Paraná para reforçar a campanha de vacinação local e simbolicamente recebidos pelo prefeito Ulisses Maia.
Ederlei Alkamin, diretor da 15ª Regional de Saúde, disse que foram enviados mais de 100 mil itens – entre os quais 48 mil seringas e 40 mil carteirinhas de vacinação -, insumos que ele julgou serem suficientes para a primeira fase do plano de vacinação em Maringá.
Vacinação
O “dia D” para iniciar a campanha de vacinação era quarta-feira (20), mas Maringá antecipou o início da imunização para terça (19), quando, por volta do meio dia, as primeiras 9.360 doses da vacina chegaram na cidade de helicóptero, no Aeroporto Regional de Maringá.
Ana Paula de Oliveira Machado, técnica de enfermagem, foi a primeira maringaense vacinada na cidade, às 14h28. Muitas horas e algumas doses depois foi a vez de Gianna Beatriz de Sousa Froeming Alencar, 25, técnica de enfermagem há seis anos e atuando na linha de frente do combate ao coronavírus desde maio do ano passado, também ser imunizada. A “picadinha no braço” veio acompanhada de uma grande dose de alívio.
“Me belisca que eu estou sonhando! Quem é profissional da saúde, assim como eu, sabe como é difícil ir trabalhar todos os dias com medo de se contaminar. Além disso, tem a chance de levarmos o vírus para casa, contaminar nossa família, os amigos… Nesse caso ainda teríamos de conviver com o sentimento de culpa”, diz Gianna.
A técnica de enfermagem aproveitou para ressaltar que o fato de ter sido imunizada não fará com que a vida dela volte ao normal. “Tudo permanece do mesmo jeito. As medidas de prevenção e os cuidados continuam. O vírus continua fazendo vítimas”, alerta. “Mas que a vacina trouxe uma pontinha de esperança de que dias melhores estão por vir, trouxe”, completa.
Gianna não chegou a ser contaminada, mas teve os avós paternos, duas tias, um tio e um primo testando positivo para o novo coronavírus. O primo, de 40 anos, morreu por complicações da Covid-19.
Os municípios da região que também estão na área de abrangência da 15ª Regional de Saúde também receberam os imunizantes – a maioria começou a vacinação no mesmo dia que as doses chegaram e deu continuidade à campanha nos dias subsequentes.
Santa Fé recebeu 104 doses da CoronaVac. O segundo imunizado na cidade foi o técnico de enfermagem Lucas Lisboa, 26, que trabalha na linha de frente do combate ao coronavírus desde o início da pandemia e já havia testado positivo para a Covid-19 em dezembro do ano passado, assim como os pais dele, mas nenhum deles teve complicações.
“Perdi o paladar e o olfato. Testei positivo no teste rápido quando já estava com 14 dias. Meus pais foram totalmente assintomáticos”, conta Lisboa, que junto à CoronaVac recebeu uma dose de esperança. “Conseguimos esse avanço graças a todos os profissionais pesquisadores. Depois de meses na linha de frente, perdendo meus pacientes, vivendo em meio ao caos, finalmente dias melhores estão começando”, prevê.
Marli Aparecida dos Santos, 35, é técnica de enfermagem e recebeu uma das 36 doses destinadas ao município de Nossa Senhora das Graças. “Sempre tomei todos os cuidados e segui os protocolos”, garante ela, que atua na linha de frente desde o início da pandemia.
“Passamos por tantos medos, angústias, incertezas. O maior medo era levar a doença para dentro de casa, de perder quem amamos. A vacina veio com uma dose de esperança de que tudo logo vai passar. Que não tenhamos mais leitos lotados na UTI, falta de oxigênio, não perderemos mais companheiros de profissão nesta batalha. A alegria foi imensa, inexplicável”, disse Marli.
Com a quantidade de imunizantes já distribuída mais as doses que vão chegar nos próximos dias, o plano de vacinação deve avançar para abranger os grupos de risco. A expectativa é que mais de quatro milhões de pessoas sejam vacinadas até maio.
A vacinação vai acontecer conforme a disponibilidade dos imunizantes, de maneira gradual, no decorrer do ano todo. O governo estadual espera conseguir vacinar todos os paranaenses acima de 18 anos até o fim do ano.
Uma das 36 imunizadas de Nossa Senhora das Graças, Marli diz que vacina reforça esperança por dias melhores (Divulgação)