Marisqueiras e pescadoras alagoanas, duramente impactadas pelo desastre ambiental causado pela mineradora Braskem, levaram suas reivindicações à ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, nesta quinta-feira (20). Sete anos após o afundamento de bairros inteiros em Maceió, o impacto persiste na vida de cerca de 60 mil pessoas, especialmente entre aquelas que dependem da pesca do marisco para sobreviver.
A presidente da Federação dos Pescadores e Aquicultores de Alagoas (Fepeal), Maria Silva Santos, destacou a urgência de políticas públicas para reparar os danos sofridos pelas trabalhadoras. “O impacto ambiental obrigou muitas marisqueiras a se deslocarem mais de duas horas para encontrar um novo local de trabalho, afastando-as de seus territórios tradicionais”, afirmou.
Durante o encontro, a ministra ouviu relatos de mulheres que, além de perderem suas casas, também foram impedidas de atuar nas áreas onde sempre pescaram. A contaminação da água trouxe riscos à saúde e comprometeu a renda das famílias.
“Sofremos diferentes formas de violência, e não é só a violência comum. Estamos diante de um caso de racismo ambiental, com nossos rios e mares poluídos”, denunciou Ana Paula Santos, da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais.
Raízes e Resistência
Cida Gonçalves assegurou que o governo federal mobilizará diferentes ministérios para acelerar soluções. Maria Silva Santos ressaltou que muitas dessas trabalhadoras são mães e chefes de família, além de carregarem uma tradição passada por gerações. “Elas não estão na pesca apenas por necessidade, mas porque respeitam a herança de seus pais e avós”, destacou.
Segundo o Sistema de Registro Geral da Atividade Pesqueira (2023), Alagoas possui 20.643 pescadores artesanais, sendo 58% mulheres. A estimativa é que existam cerca de 12 mil mulheres atuando na pesca, muitas de forma informal, com rendimentos inferiores a um salário mínimo. Um novo levantamento está em andamento para mapear melhor a realidade dessas profissionais.
O Clima e a Crise da Pesca
Além do deslocamento forçado, as mudanças climáticas também afetam a atividade pesqueira. “Temos visto uma redução drástica no pescado da região”, alertou Maria Silva Santos. Um exemplo é o sururu, cujo ciclo de reprodução tem sido prejudicado pelo aumento da salinidade da água devido à alteração no regime de chuvas.
A secretária estadual da Mulher e dos Direitos Humanos, Maria Silva, afirmou que as demandas dessas mulheres são analisadas com foco em dignidade, segurança, educação e saúde, garantindo condições justas para que possam continuar trabalhando e sustentando suas famílias.
Apoio e Proteção às Mulheres
Além da reunião com as marisqueiras e pescadoras, a ministra Cida Gonçalves assinou, junto ao governador de Alagoas, Paulo Dantas, o contrato para a construção da Casa da Mulher Brasileira (CMB) de Maceió, com um investimento de R$ 19 milhões.
A unidade oferecerá acolhimento, apoio psicossocial, serviços jurídicos e assistência para autonomia econômica das mulheres. Durante o evento, o governador também aderiu ao Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios (PNPF), lançado em 2024.
“Precisamos unir forças para transformar essa realidade, fortalecer políticas públicas e responsabilizar os culpados por tanta destruição”, afirmou a ministra. Para a secretária Maria Silva, a Casa da Mulher será um refúgio para que vítimas de violência possam reconstruir suas vidas.
O crime ambiental da Braskem destruiu territórios, mas a luta das marisqueiras e pescadoras de Alagoas segue firme. Elas exigem reparação, respeito e o direito de continuar tirando o sustento das águas que, por gerações, foram sua fonte de vida.
Com Agência Brasil