Foi sepultado no início da tarde desta segunda-feira, 3, o advogado Jorge Haddad, falecido no domingo aos 97 anos. De família pioneira, ele vivia em Maringá desde 1946, quando a comunidade maringaense se resumia à área hoje conhecida como Maringá Velho.
Jorge era um dos 10 filhos do comerciante Nassib Haddad e de dona Regina. Entre seus irmãos, ficaram bastante conhecidos o médico Salim Haddad, fundador do Hospital Brasília; o também advogado e cartorário César Haddad, que foi eleito um dos primeiros vereadores de Maringá – mas que não pôde assumir pelo fato de ser cartorário -, e o também advogado e professor Calil Haddad, que se destacou como diretor de teatro amador.
Doutor Jorge Haddad por mais de 50 anos teve escritório de advocacia na Rua Willie Davids, atual Avenida Governador Parigot de Souza, ao lado do cartório de seu irmão César Haddad.
Jorge nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 1928, e quando tinha 17 anos a família se mudou para Maringá, que ainda era uma comunidade em 12 quarteirões onde hoje é o Maringá Velho, onde seu Nassib montou uma das maiores lojas do local.
Em uma época em que a educação em Maringá se resumia a uma escola isolada, os comerciantes bem sucedidos enviavam os filhos para estudar fora. Assim fizeram seu Nassib e dona Regina. Jorge fez o ginásio no histórico Colégio Cristo Rei, em Jacarezinho. Também em Jacarezinho ele fez o curso de Direito.
No início da década de 1960, o jovem advogado Jorge Haddad trabalhou na organização dos primeiros sindicatos de trabalhadores de Maringá.
Com o golpe militar de 1964, alguns dos filhos de seu Nassib tiveram problemas com o então novo regime: Salim, que era médico e dono de hospital, era presidente do Partido Comunista Brasileiro na cidade e por isso foi preso, levado para Curitiba e permaneceu oito meses nas celas do Exército, onde era constantemente torturado; Jorge, por ser advogado dos sindicatos de trabalhadores, foi perseguido pelo novo regime e indiciado, juntamente com o vereador Bonifácio Martins e os sindicalistas José Rodrigues dos Santos e José Lopes dos Santos, no Inquérito Policial Militar que atingiu a cidade.
Para não ser preso, Jorge Haddad passou meses escondido em São Paulo, na casa de parentes. “Eu visitava minha família a cada seis meses. Era obrigado a chegar de madrugada e ir embora de madrugada”, contou ele.
“O doutor Jorge Haddad foi um grande maringaense. Deixou um legado fecundo de compromisso com a democracia e a expansão da cidadania social”, disse o historiador Reginaldo Benedito Dias, que convidou Haddad a dar um depoimento à Comissão da Verdade. A fala está registrada pelo projeto Direitos Humanos para a Paz, o DH Paz.
Veja o depoimento na íntegra
DHPAZ PARANÁ – DEPOIMENTOS PARA A HISTÓRIA – JORGE HADDAD
Veja também
- Morre aos 100 anos Clara Charf, viúva de Marighella e fundadora do PT
- Aeroporto de Maringá conquista o Acop nível Alpha, certificação máxima da Anac
