O cantor e compositor Marcio André Nepomuceno Garcia, conhecido como MC Marcinho, morreu na manhã deste sábado, 26, no Hospital CopaD’Or, onde estava internado desde 10 de julho. Conhecido como Príncipe do Funk e considerado um dos principais representantes do do ritmo no Brasil, MC Marcinho tinha 45 anos e deixa três filhos.
Desde que foi internado após sofrer uma parada cardíaca, os médicos vinham tentando salvá-lo com diversos procedimentos, como a implantação de um coração artificial e o uso da Ecmo, uma espécie de pulmão artificial externo. Neste sábado, ele não resistiu.
Príncipe do Funk
MC Marcinho é um dos criadores de um estilo de funk dançante e muito popular, o chamado funk melody. É autor de grandes sucessos como “Glamurosa”, “Rap do solitário”, “Porque te amo”, “Vou catucar”, “Tudo é Festa” e “Garota nota 100”.
O artista é da geração de funkeiros que estourou nos anos 1990, época do auge da Furacão 2000. Frequentou festas e programas de auditório ao lado do DJ Marlboro, Claudinho e Buchecha, Copacabana, Latino, entre outros. Juntos, levaram o funk a todo o país.
Seu primeiro sucesso foi o “Rap do solitário” (“Amor, por que você me trata assim? / Apenas quero te fazer feliz…”). Popularizou o funk com letras que contavam o dia a dia da juventude das favelas e periferias do Grande Rio.
“Minha geração eu acho que as letras eram mais bem elaboradas, eram uma letra mais consciente e tal”, disse à TV Globo.
Marcinho e o “funk do bem”.
“Gosto de cantar o funk do bem. O segredo é cantar letras com conteúdo e que toquem o coração das pessoas, além de ter a batida envolvente. Nos meus shows ninguém fica parado e ao mesmo tempo ninguém canta pornografia”, disse em entrevista ao Ego, em 2011.
Lançamentos recentes
Entre seus mais recentes sucessos estão “Salve favela”, parceria com o ator e ex-BBB Babu Santana, e “Quero te levar”, com a participação da cantora Lourena.
“Pra mim, o Marcinho é o Roberto Carlos do funk. Justamente quando estava se agitando, pulando, vinha o Marcinho falando de amor de uma forma contundente, e era sucesso pra caramba. Quem não tem minha idade, é de morro carioca e não sabe cantar as músicas do Marcinho? É o mesmo fenômeno da minha avó, por exemplo, sabendo todas do Roberto. Quem tem minha idade sabe todas do Marcinho”, disse Babu.
MC Marcinho ainda viu o antigo hit “Garota nota 100” voltar às paradas de sucesso. Lançada há 25 anos, a música foi incluída na trilha sonora da novela “Vai na fé”, da TV Globo.
Com mais de 30 anos de carreira, Marcinho produzia um documentário sobre sua trajetória quando foi internado.
Internações, tiros e superação
A internação está longe de ser raridade na vida de Marcinho. Desde o início dos anos 2000, foram muitas lutas para sobreviver.
Em 2006, sofreu um grave acidente e ficou oito meses no hospital. A van onde estava com sua equipe bateu em um ônibus, causando a morte de duas pessoas.
Muito ferido, Marcinho foi levado a um hospital particular para tentar evitar que tivesse que amputar a perna, o que aconteceu. Mas o artista não tinha plano de saúde, e os custos da internação o levaram a gastar todo o dinheiro que havia acumulado na carreira.
Para se recapitalizar, voltou aos palcos ainda de cadeira de rodas, com a perna imobilizada, em recuperação.
Ainda em 2006, meses após o acidente, um livramento. Bandidos deram quatro tiros em direção ao carro de Marcinho e da família durante uma tentativa de assalto. Apenas a mulher dele ficou ferida levemente, na mão, por estilhaços.
A volta a fazer shows de pé foi em 2008. Afastado da grande mídia, ganhava dinheiro com shows em festas de aniversário, 15 anos e casamentos.
Em 2019, outro susto: um princípio de infarto o levou novamente ao hospital.
Em 2020, chegou a ser internado no CTI devido a complicações da Covid. Ao receber alta da terapia intensiva, ele postou um vídeo agradecendo a todos que o ajudaram e o apoiaram, falou ao público para levar a sério a doença
No ano seguinte, o funkeiro ficou em coma por quatro dias em decorrência de uma infecção bacteriana no pé esquerdo. A doença atingiu o pulmão, e Marcinho passou mais três meses no hospital.
A última internação havia sido em julho de 2021, quando o cantor implantou um marca-passo devido a problemas cardíacos.
Foi justamente para ajustar esse marca-passo que o Marcinho foi hospitalizado pela última vez, em maio deste ano.
Uma parada cardíaca no último dia 10 o levou para o CTI, onde foi necessário o uso da ECMO, uma espécie de pulmão artificial que troca o CO² por oxigênio no sangue, fora do corpo. Dias depois, foi implantado um coração artificial no cantor, mas ele não resistiu.
Mc Marcinho costumava cantar: “Diz pra mim o que seria de mim se não fosse o funk.” Mas o que teria sido do funk sem MC marcinho?