Morreu nesta sexta-feira, 5, o cineasta Silvio Tendler, um dos maiores documentaristas do Brasil.
Ele tinha 75 anos e e estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e morreu de infecção generalizada.
Tendler enfrentava há 10 anos uma neuropatia diabética, doença que prejudica o sistema nervoso.
Conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos” ou “cineasta dos vencidos”, Silvio Tendler dedicou sua carreira a contar histórias de personalidades como João Goulart, Juscelino Kubitschek, Carlos Marighella e Glauber Rocha.
Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, produziu e dirigiu mais de 70 filmes e 12 séries televisivas. Tendler também dirigiu “Jango”, “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” e “O Mundo Mágico dos Trapalhões”, em 1981.
A obra de Tendler foi marcada pelo engajamento político, pela defesa da memória histórica e pela produção de obras que retratam personagens cujas trajetórias foram interrompidas pela repressão ou pela morte precoce.
Coração de Estudante
O site DW conta uma importante passagem na história de Silvio Tendler: “Foi em 1982, durante a campanha de Leonel Brizola (1922-2004) ao governo do Rio de Janeiro, que Silvio Tendler teve a ideia de convidar Milton Nascimento para assinar a trilha sonora do documentário Jango (1984). “Puxa, como eu queria esse cara no filme!”, pensou. Para surpresa do cineasta, o cantor e compositor, depois de assistir a algumas cenas na moviola, aceitou o convite. Mas Tendler não se deu por satisfeito: “E se eu convidar o Wagner Tiso também?”, indagou, coçando a barba. “Se o Milton topou, o Wagner topa”, raciocinou. Não deu outra”.
Tiso compôs uma música, mas não tinha ainda decidido como seria sua interpretação. Ao ir até à rua, viu um boliviano (ele acha que era boliviano) vendendo objetos numa esquina e tocando uma flautinha de madeira.
Mais do que depressa, o maestro mineiro convidou o rapaz para entrar, ensinou-se a música e pediu para tocá-la em uma gravação. O rapaz tocou, ficou tão feliz por conhecer Wagner Tiso e Milton Nascimento pessoalmente a ponto de nem querer cobrar pela interpretação. Voltou para esquina vender coisas.
A música que o boliviano (Wagner Tiso acha que era boliviano, mas desconfia que podia ser peruano) foi para o filme de Silvio Tendler, ficou linda e acabou tornando-se uma espécie de Hino das Diretas, durante o levante por eleições diretas no Brasil, o Diretas Já.
Com o passar do tempo, Milton Nascimento escreveu uma letra para a melodia do amigo e hoje nós temos o clássico “Coração de Estudante”.

Na série “Cineasta do Real”, que fala sobre as obras dos principais documentaristas brasileiros, Tendler falou sobre o que o apaixonou para seguir carreira no cinema.
“A minha paixão por cinema vem daquela geração que tinha 14 anos em 1964. Era uma geração que teve a cabeça feita por Glauber, Godard, Truffaut, Joaquim Pedro, Leon. E eu me apaixonei por cinema.”
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