Morreu na noite desta terça-feira, 13, o pioneiro e ex-vereador Antonio Mário Manicardi, de 97 anos, que foi um dos radialistas mais queridos da era de ouro do rádio e primeiro funcionário da prefeitura de Maringá. Nhô Juca, como ficou conhecido nos tempos de rádio, veio para Maringá em 1952 para ser o locutor da campanha do candidato Inocente Vilanova, que foi o primeiro prefeito eleito de Maringá, era para permanecer apenas durante a campanha, mas preferiu ver a cidade crescer e fez parte da história dela.
O velório está sendo realizado no Salão Nobre da Capela Prever da Zona 2 e o sepultamento será às 16 horas no Cemitério Municipal. Manicardi deixa viúva dona Esmeralda e os filhos Antonio Mario, Margareth e Eraldo Emerson.
O prefeito Ulisses Maia (PSD) decretou luto oficial de três dias pela morte de de Manicardi, tanto por ele ter sido vereador e principalmente por ser o primeiro funcionário da prefeitura de Maringá
O pioneiro, que após se aposentar da carreira de funcionário público passou a trabalhar no escritório político da família Barros, na Avenida Prudente de Morais, viveu uma vida muito saudável e procurava sempre ir a pé a quase todos os lugares que precisava ir. Mas, passou a sentir o peso da idade durante a pandemia do novo coronavírus, quando teve que permanecer em casa e foi afetado pela falta de atividade.
Nas últimas semanas ficou mal, precisou ser internado, sofreu cirurgias e teve parte de um pé amputada. Nos últimos dias seu estado piorou.
Ajudando a construir a história de Maringá
Antonio Mário Manicardi era um jovem radialista em sua cidade natal, Itápolis, no interior de São Paulo, e nunca tinha ouvido falar em Maringá. Estava cheio de sonhos: ia casar-se com a namorada Esmeralda e mudar-se para São Paulo, já que tinha sido aprovado para integrar o elenco de rádionovelas da Rádio América, uma das mais importantes do Brasil na época.
Mas, eis que chegou alguém querendo que ele fosse o locutor da campanha a prefeito do candidato Inocente Vilanova na primeira eleição de Maringá. Ele não aceitou, mas a insistência foi grande e o cachê era atrativo para um jovem que pensava em casar. Topou, mas trabalharia somente até o dia da eleição. Veio, pisou a terra roxa, amassou o barro e ficou. Dos planos que tinha, ficou com uma parte: voltou a Itápolis, casou com Esmeralda e o casal iniciou vida nova na nova cidade. O sonho de ser ator de novela ficou prá lá.
Seu candidato, Inocente Vilanova foi a zebra da eleição e venceu. E convidou seu locutor para iniciar com ele a prefeitura. E assim foi, depois da posse, só os dois ocuparam a prefeitura, que era uma casinha na esquina das poeirentas avenidas Ypiranga (hoje Getúlio Vargas) e XV de Novembro.
Assumindo uma prefeitura que não existia
O primeiro funcionário da prefeitura foi uma espécie de faz-tudo: atendia o povo, montava equipes de trabalhadores que eram contratados e atendia as demandas na cidade. Foi ele que, como secretário também de Obras, conduziu a abertura da Avenida Tuiuti e várias ruas que só existiam no mapa da Companhia Melhoramentos.
Como era locutor de origem, quando não estava na prefeitura Manicardi trabalhava na Rádio Cultura, primeira emissora do noroeste do Paraná, que funcionava em uma casinha de madeira na Avenida Herval, entre a rua Santos Dumont e a que hoje chama Néo Martins. Como locutor ele adotou o nome Nhô Juca, que já usava em Itápolis.
Figura muito popular onde chegasse, Manicardi Nhô Juca não teve dificuldade para ser eleito vereador e assim passou três legislaturas na Câmara, foi candidato a vice-prefeito, assumiu secretarias municipais, até se aposentar e poder dedicar-se a seus pequenos prazeres, como escrever poesias e fazer declamações nas rodas de amigos. Publicou livro e foi eleito para a Academia de Letras de Maringá.