Cada vez mais presente na construção civil como alternativa útil como material estrutural em substituição ao uso abusivo do aço e do concreto, o bambu está cada vez mais presente nas áreas de móveis e decoração com grandes vantagens para a agricultura familiar
Texto: Juliana Daibert
Fotos: Breno Thomé Ortega
Imagine um futuro onde a sustentabilidade e a inovação caminham de mãos dadas, transformando paisagens e comunidades inteiras. Este é o cenário que está se desenhando no Paraná, onde a indústria do bambu está florescendo de maneira inspiradora.
Com impressionante capacidade de crescer rapidamente, o bambu atinge a maturidade entre três e cinco anos, uma enorme vantagem em se tratando de plantas renováveis.
Ao contrário das árvores convencionais, que podem levar décadas para crescer, o bambu demanda menos água e pesticidas graças ao pouco tempo em que se desenvolve, tornando-se uma escolha amiga do meio ambiente. Além disso, sua versatilidade é incrível: vai desde a construção civil até utensílios domésticos.
Empresas como a Casa Bambu Curitiba e a Bambusa Atelier, em Maringá, estão na vanguarda desta revolução verde. A Casa Bambu Curitiba fabrica forros e revestimentos modernos e estruturas de construção robustas, enquanto a Bambusa Atelier cria decorações e estruturas sustentáveis que encantam e comovem. Além de gerar empregos, estas empresas capacitam trabalhadores com novas técnicas de cultivo e produção, impulsionando o desenvolvimento econômico e social das regiões onde estão inseridas.
Juliana Cortez, presidente da Associação Brasileira do Bambu (BambuBR), verdadeira entusiasta do potencial do bambu, acredita firmemente na importância de fóruns, parcerias com empresas privadas, órgãos do governo e instituições internacionais para mostrar ao mundo as maravilhas desta gramínea. “A demonstração do potencial desta planta é responsabilidade de todos os envolvidos neste segmento”, afirma. “Esta rede de apoio é essencial para que o bambu se torne alternativa viável e sustentável para muitos agricultores e empresários”, diz Juliana.
A legislação está desempenhando papel crucial nesta transformação. A Lei Estadual n.º 20.345, de 2020, estabelece a Política Estadual de Incentivo à Cultura do Bambu no Paraná, promovendo o cultivo, a pesquisa, a capacitação e a comercialização de produtos de bambu. Em Maringá, a Lei Ordinária n.º 9.975, de 2015, incentiva o uso do bambu como parte da política de desenvolvimento agrícola local. Ambas são fundamentais para espalhar o cultivo do bambu e valorizar seu uso como instrumento de promoção do desenvolvimento socioeconômico sustentável.
Alta demanda, baixa produção (por enquanto)
O Brasil possui cerca de 5,26 milhões de hectares plantados com bambu, mas se depender da demanda e do interesse que as mil e uma utilidades da planta despertam, esta área pode crescer – e muito -, num futuro bem próximo.
Em 2023, de acordo com o relatório “Bamboo Market and Value Chain in Brazil” da Rede Internacional para Bambu e Ratan (International Network for Bamboo and Rattan/Inbar), a importação de produtos de bambu ultrapassou a marca de 2,5 milhões de dólares, destacando-se artigos de cozinha, carvão de bambu e artesanatos, principalmente provenientes da China. Esses itens suprem a demanda interna e alimentam uma cadeia produtiva que está em franca expansão, mostrando como o bambu pode ser impulsionar o desenvolvimento sustentável e a inovação.
Do lado das exportações, o país faturou pouco mais de 170 mil dólares com a venda de móveis e artesanatos de bambu, tendo os Estados Unidos como principal destino. Ponto para a habilidade artesanal e a qualidade das manufaturas, muitas produzidas por paranaenses, que fortalecem a imagem do Estado como polo de sustentabilidade e inovação. A exportação de bambu contribui para a economia local e leva ao mundo um pedaço do compromisso do Paraná com práticas ecológicas e a promoção de um futuro mais verde.
“O bambu mudou minha vida. Permite criar peças lindas e sustentáveis, e saber que ajudo o meio ambiente é gratificante”, compartilha, com entusiasmo, Fabio Remuszka, bambuseiro de Curitiba.
Rui Sattler, da Bambusa Atelier em Maringá, também vê os números positivamente. “A demanda por nossos produtos de bambu vem aumentando muito, puxada por clientes cada vez mais conscientes sobre sustentabilidade. Mas ainda temos muito a crescer enquanto indústria no Paraná, precisamos de um plano de desenvolvimento que olhe para o bambu como o grande potencial que possui, como é em outras partes do mundo.”
“Material tem muito futuro”
Além das muitas aplicações industriais, o bambu também está sendo explorado para fins energéticos. Pesquisas indicam que o bambu possui ótimo rendimento em carvão vegetal e potencial para a produção de biochar (produto rico em carbono obtido por aquecimento de biomassa) e carvão ativado, contribuindo para a diversificação da matriz energética e para o desenvolvimento sustentável. A Sociedade de Investigações Florestais (SIF) ressalta que o bambu é excelente alternativa de produção para agricultores familiares e opção de negócio sustentável, trazendo benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Em 2013, o engenheiro mecânico Fabiano Ostapiv e o professor Eleandro Brun, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), juntaram-se a outros professores da instituição em uma pesquisa para verificar a viabilidade do plantio do bambu no sudoeste do Paraná.
A plantação, iniciada em 2014 em parceria com a empresa Bambu Carbono Zero, localizada no campus da UTFPR em Dois Vizinhos, na maior floresta experimental do Paraná, vem realizando pesquisas em conjunto com alunos da instituição, que já desenvolveram produtos como pranchas de surfe, habitações rústicas, pisos, painéis laminados, compensados, shape de skate e até muletas de bambu.
“O mercado está crescendo e o material tem muito futuro. Plantando uma vez, dura de 50 a 60 anos direto, sem fazer plantio, só manejo e colheita. Tudo o que a madeira faz você faz com o bambu, não o contrário. Diferente de derrubar uma árvore, você vai lá e colhe um fruto. Ele está sempre se propagando”, explica Remuska.